Município de Canaã dos Carajás experimenta os efeitos danosos de uma depressão econômica que se prolonga por mais de ano.

Tudo começou quando a Vale desativou os canteiros das empresas terceirizadas que implantaram a  infraestrutura do projeto S11D, considerado o maior complexo minerador da história da Vale.

Ao longo desse período, mais de 9 mil pessoas foram colocadas no olho da rua.

Hotéis construídos na efervescência do boom agora estão fechados.

Fechados literalmente.

A cada quarteirão percorrido, placas aos montes de “vende-se” e “aluga-se” enfeiam ruas de tristeza.

Terrenos que antes os especuladores vendiam a 60 mil, hoje são oferecidos a 20 mil, e ninguém compra.

Esse o retrato em preto & branco da Canaã dos Carajás em depressão.

As mais de nove mil pessoas  demitidas das terceirizadas compunham as estatísticas dos chamados empregos temporários, exclusivamente direcionados  à construção da infraestrutura da mina.

Como é um município relativamente pequeno, deve-se levar em conta que  não existiam muitos postos de trabalho no município, antes da projeção do S11D.

Agora, desativados os canteiros de obras, a situação é de desespero nos lares de muitas famílias.

Sabia-se, a  tendência era de que muita gente ficasse  sem emprego no município, quando chegasse esse momento.

Tratando-se de uma fronteira econômica, a vertiginosa  imigração colocou Canaã como bola da vez, seguindo a mesma trajetória de implantação de todo grande projeto da Vale.

Sem falar que, pela experiência de outras regiões mineradoras,  o súbito crescimento populacional geraria queda da qualidade dos serviços públicos e piora de indicadores sociais e econômicos, como a violência, o desemprego e a inflação de bens e serviços.

Canaã dos Carajás começa a viver experiência bastante parecida à vivida em Parauapebas.

Uma história que se repete em todos os Municípios onde os grandes projetos da mineradora são implantados.

Para ser a cidade dos dias atuais, Canaã já foi chamada de Cedere 2, um dos Centros de Desenvolvimento Regional criados pelo governo federal para assentar colonos.

De lá pra cá, Canaã viveu dois ciclos de crescimento.

O primeiro com a implantação do Projeto Sossego, para extração de cobre, que também empregou muita gente na fase de instalação, depois, todos nos olhos da rua.

E o atual, S11D, com suas consequências idênticas.

De 2000 a 2010, a população de Canaã triplicou.

Com a chegada do projeto S11D,  comunidades rurais foram desalojadas, entre elas uma que, desde o governo militar, lutava para permanecer em suas terras, como revela seu sugestivo nome: o Racha-Placa, a cerca de 80 quilômetros da cidade.

Desde 1980, os militares sabiam que as reservas de minério da Serra Sul – onde fica a nova mina – eram ainda maiores do que as da explorada Serra Norte.

Por isso, tentaram expulsar logo de cara os trabalhadores rurais que moravam nos arredores, vivendo de plantar roças e de lidar com o gado dos fazendeiros – Canaã já foi a segunda bacia leiteira do Estado.

Ao invés do desenvolvimento, os projetos da Vale geram concentração de terras,  violência e a miséria no campo, o inchaço urbano e maior concentração de renda

Sem falar de situações que levam a péssimos Índices de Desenvolvimento Humano – IDH, alto grau de exportação de trabalhadores para trabalho escravo, péssima assistência à saúde e à educação.

O que temos, ao longo das últimas três décadas na região Sul do Pará, mercê dos megaprojetos da mineradora, são ações de cooptação de lideranças locais, manipulação de informações e pessoas, imposição de ações apresentadas como irreversíveis.

Os grupos sociais locais e povos tradicionais são, em grande medida, percebidos por planejadores  da multinacional  como grupos arcaicos, ultrapassados, destinados à inexorável extinção.

Dessa forma, sua fala, quando existe, é desqualificada, desconsiderada ou tomada como folclórica.

Futuras gerações herdarão, nos municípios do entorno da Vale, um imenso vale de desolação, como se vê agora em Canaã.

E como se verá Parauapebas de forma bem mais traumática, a partir de 2037, quando as atuais minas de minério de ferro de Carajás se esgotarem, parando de vez a produção e exportação do produto.