Caetano, quando temos sorte, consegue ainda fazer coisa boa. Os versos a seguir de Pele, pega qualquer um à pele.

Deus deseja que a tua doçura
Que também é a dele
Se revele, mais pura, na tua pele
E que eu pouse a tua mão sobre o teu colo
Lua na noite escura
E a brancura do pólo se descongele


Essa pele de criança
Essa rima pra esperança
Tão antiga e nova
Que põe tudo à prova
Esse repouso, essa dança
Que me impele, que me lança
No meio da vida
Pra uma outra trova

Pele, pétala calma
Pele, parte mais clara da alma
Que o mistério se desvele
E outra vez mistério seja
Sobre tua pele
É o que Deus deseja

Tua pele luminosa
Madrepérola animada
Mensagem da rosa, enfim decifrada

Só que Caetano está naquela fase de não ter pressa pra nada. Pode adiar sine die o que programou pra hoje, ou até mesmo desassumir compromissos com a criação, que se deixa jogar, também, cada vez mais lenta à sua alma sexagenária.

Já se foram os belos tempos em que o ideólogo da Tropicália podia dizer que o seu movimento – e do Gil – tinha uma musa (cujo nome ele nunca revelou) e uma antimusa: a Carolina do Chico, na janela. Mas talvez se ele dissesse o nome da musa alguém viesse a entender o significado da antimusa.

Hoje, não é mais possível nenhuma tropicália. Chega de saudade. E de confusão. Possível até, que nem da piscina, precisemos saber.

Há muitos anos que a criação acabou. João Gilberto. Roberto. Jorge Ben, agora Benjor.

A doce música brasileira com turbinas a jato-propulsão, nada mais é do que a repetição do que se fez nos anos dourados. Não há proposta, nem promessa, nem proveta, nem procela.

Ninguém.

Mas não há tempo para lengalengas. Tristes tropeços, trastes típicos, tristes tópicos, antigos trocadilhos.

Viva a música. Viva Joelma e Chimbinha e a carne de sol com pirão de leite.

Viva a sorte e o bom humor. Viva o Águia de Marabá.

Viva as inúteis conquistas da linguagem.

Em verdade, o gênero é uma longa besteira. O bom é o geral.