Foi desgastante – dramática, até ( por que não dizer?), a luta pela busca de consenso que gerou a formação de chapa única para a eleição da mesa diretora da Câmara Municipal de Marabá.

As articulações ganharam maior fôlego nas 48 horas  que antecederam a sessão do dia 1o de janeiro, momentos antes da posse do prefeito João Salame.

Inicialmente, três vereadores ligados à base aliada do novo prefeito insistiam em levar seus nomes ao plenário: Júlia Rosa (PDT), Pedro Souza (PPS) e Leodato Marques (PP).

Pela oposição, o deputado Sebastião Miranda (PTB) articulou  insistentemente,  apostando na divisão do bloco ligado a Salame, chegando, inclusive, a realizar reuniões em sua residência objetivando chegar aos onze votos necessários para a eleição do presidente.

Nas contas de Miranda, ele tinha oito votos garantidos. Caso cooptasse o apoio dos vereadores Miguelito Gomes (PP), Leodato Marques (PP) e Irismar Sampaio (PR), levaria a parada.

Quando o prefeito eleito percebeu o perigo que representava a divisão da Câmara Municipal numa disputa interna, ele decidiu arregaçar as mangas e cair em campo.

Salame tirou a prova dos nove e compreendeu a extensão negativa de uma divisão do Parlamento,  num momento de difícil gerenciamento da máquina administrativa pelo qual passará o seu governo, pelo menos nos primeiros oito meses, para sanar dívidas que chegam próximo a R$ 150 milhões, incluindo salários atrasados, vale-refeição, débitos previdenciários, fornecedores, etc.

– “Se unirmos todos os esforços de vereadores, sem distinção partidária,Executivo e a sociedade, já será difícil enfrentar as adversidades, imagine com um parlamento dividido”, disse o prefeito em seus encontros iniciais com todas as vertentes partidárias da nova Câmara.

Para tornar menos traumática a definição de um nome de consenso, inicialmente na base aliada, Salame realizou em sua residência, dois dias antes da eleição da nova mesa diretora, uma votação entre os dois candidatos  que restavam (Júlia Rosa e Leodato Marques), já que Pedro Souza, num esforço de renúncia para ajudar a encontrar uma solução pacífica, retirara seu nome da disputa.

Júlia Rosa venceu folgadamente, concluída a votação informal.

Mas mesmo diante da escolha democrática de seus colegas, Leodato Marques disse que não aceitava o resultado da votação, e que iria disputar chapa com Júlia Rosa.

Paralelamente, enquanto Salame lutava pela busca do consenso, Sebastião Miranda alimentava a disputa.

Claro, para ele, quanto pior, melhor.

E, a partir da definição do nome de Júlia Rosa como candidata a presidente da base aliada, Leodato debandou-se para o lado da oposição, com o firme propósito de disputar a eleição.

Do lado de lá, ele achou que teria os votos de Pedrinho Correa, Adelmo do Sindicato,  Sidney, Beto Miranda (PSDB), Ronaldo da Yara (PTB), Vanda (PSD), Irmã Nazaré (PSD) , Pastor Eloi Ribeiro (PRB).

Só que Vanda Américo deixou claro que não apoiaria Leodato, votaria em branco – mesmo  fosse contra a orientação de Tião Miranda.

Dois votos circulavam como fundamentais para decidir a parada: os de Miguelito Gomes e Irismar Sampaio.

Habilidoso, João Salame  sugeriu  a inclusão na chapa de Irismar  como 1a vice-presidente.

Logo ganharia o apoio também de Miguelito, que entendeu a preocupação do novo prefeito e  ajudou a articular  movimento pela chapa única.

 

Ao chegar na Câmara Municipal, minutos antes de sua posse, João ainda esperava que os próprios vereadores chegassem a um consenso, sempre em busca da unidade.

Como a base aliada de Salame chegou a conclusão de que levaria com facilidade a eleição de Júlia Rosa, cogitou-se suspender as negociações com a oposição.  Mas, outra vez, em último esforço para evitar confrontos desnecessários, o novo prefeito conseguiu estimular o fechamento de um acordo pelo qual  a oposição ocuparia a 3a. Secretaria da mesa diretora.

O próprio Salame reuniu-se a portas fechadas, numa das salas da Câmara Municipal, com vereadores da oposição e de sua base aliada, clamando todos para um início de trabalhos harmonioso.

“A população de Marabá está esperando muito de nós. De que adianta nos dividirmos agora, se temos tantos desafios pela frente?”, indagava o prefeito aos seus interlocutores.

Somente na última hora, Leodato Marques aceitou retirar seu nome e ocupar o cargo na mesa diretoria, viabilizando a chapa única tanto perseguida.