Governador Jatene,

Antes de mais nada, um esclarecimento: o propósito desta carta digital não envolve nenhum sentimento corporativista pelo fato da personagem agredida ser colega do poster, profissionalmente.

Não!

A questão da agressão violenta a jornalista Tina Santos na noite de sábado, numa casa noturna de Marabá,  que resultou na fratura do braço esquerda da moça, poderia ter ocorrido com outra pessoa também do sexo feminino – independente de ser ou não jornalista – e o ato agressivo mereceria a mesma preocupação e tonalidade do blog.

O que alguns membros do Tático da PM fizeram durante a abordagem desproporcional  extrapola limites do bom senso e dos procedimentos  recomendados à área de segurança pública. Primeiro, a blitz ocorreu numa casa noturna bem no centro da cidade, local anexo a uma praça frequentada por pais de famílias, seus filhos e amigos.

Não se discute aqui a lógica da operação-surpresa, porque os níveis de violência na cidade exigem mesmo dos  agentes de segurança pública  ações voltadas a reprimir a locomoção da bandidagem e seus atos criminosos. Questiona-se, isto sim,  sinais de total despreparo de profissionais que deveriam ter pelo menos treinamento básico para  procedimentos similares.

Governador, quem estava próximo a Tina Santos, ouviu quando a jornalista se dirigiu a um dos oficiais da operação pedindo-lhe cuidado com os excessos ali praticados, durante a abordagem, e que ela e sua filha, juntamente com uma amiga acompanhante, fossem respeitadas como cidadãs.

Bastou esse tipo de reação para que o comandante da blitz determinasse o recolhimento da jornalista para o “camburão”, expressando, alto e bom som, justificativa de  “desacato a autoridade”.

Quando um cabo de nome V.Fernandes aproximou-se de Tina para algemá-la, a jornalista reagiu:

Não vou permitir esse tipo de agressão a minha pessoa. Sou mãe, trabalhadora, jornalista e exijo respeito.

Nesse momento, o cabo enfurecido segurou os dois braços de Tina, puxando um deles para a parte de trás do corpo, exibindo golpe de imobilização – ação suficiente para quebrar o braço da moça.

Ao sentir a dor e a fratura, Santos dirigiu-se ao oficial:

Além da disposição para me prender, o seu soldado acaba de quebrar meu braço.

Cínico, o oficial, até agora não identificado, respondeu, na bucha:

A senhora já deve ter chegado aqui na praça com o seu braço quebrado.

Governador, mesmo com o braço quebrado, e a jornalista pedindo o seu encaminhamento  ao hospital público para receber atenção médica, o comandante da operação insistia em manter a ordem de prisão a jornalista, autorizando  o recolhimento dela para o “camburão” da PM estacionado próximo.

Somente com a chegada do CIOP (Centro Integrado De Operações), e a pronta intervenção de uma militar da corporação, o ato agressivo recebeu um freio de arrumação, e Tina foi levada, pacificamente, para o Hospital Regional.

Temendo o aprofundamento de investigações em torno da injustificável agressão, o oficial da operação determinou registro de BO contra Tina Santos, na delegacia da Nova Marabá, sob acusação de “desacato a autoridade”.

Governador, como sei que este blog merece sempre a sua leitura, justifico o encaminhamento dessa carta, preocupado com a possibilidade dos comandantes dos órgãos de segurança pública colocarem panos quentes na questão, na tentativa de livrar a cara dos despreparados policiais.

Apelo para que Vossa Excelência puxe esse assunto para a sua mesa, determinando apuração real de tudo o que ocorreu na Praça da VP8.

A população de Marabá não merece ficar a mercê de alguns agentes públicos  distanciados de valores comumente chamados de “comportamento civilizado”. O blog reconhece esforços que sua Polícia Militar vem fazendo para diminuir os índices de violência, não desmerecendo, portanto, toda uma programação que envolve recursos públicos e investimentos na área de recursos humanos.

Por esses motivos, se faz necessária a sua intervenção, com dureza, para impedir a proliferação de maus agentes na corporação.

O blog confia na sua sensibilidade, na sua visão altruísta e  determinação de realmente contribuir para que o povo paraense ganhe tempos de paz e harmonia, e para que isto venha um dia ocorrer por estas regiões sempre esquecidas, tome as rédeas de problemas como esse – realmente ferozes e nocivos ao bem estar comum.