Kenzo Jucá discorre sobre projeto de lei do senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC) aprovado no Congresso Nacional instituindo a Escola Técnica Federal de Construção Naval de Cruzeiro do Sul. Ao que ele diz:

Nesse Congresso Nacional que todos conhecem, existem raros lampejos de boas ações e notícias para a Amazônia e o Brasil.

Foi aprovado no Senado Federal e remetido à Câmara dos Deputados o PLS 00241/2006 do Senador Geraldo Mesquita Júnior (PMDB-AC), para criação da primeira escola técnica federal do Brasil especializada na formação de técnicos em construção naval artesanal. Formará técnicos especialistas em engenharia naval, atividade essencial para a economia e transporte da região amazônica (como diria Ruy Barata: esse rio é minha rua…).

A criação da Escola Técnica Federal de Construção Naval de Cruzeiro do Sul, no Estado do Acre, é uma importante iniciativa para valorização e resgate dessa atividade econômica tradicional das populações ribeirinhas amazônicas, geradora de renda familiar e trabalho especializado em perfeito equilíbrio com o meio ambiente. O Vale do Rio Juruá, município de Cruzeiro do Sul-AC, onde será construída a escola, possui forte tradição nessa atividade e será referência para a construção naval do Brasil. O projeto traz à tona o debate sobre modelo de desenvolvimento, diretrizes conceituais e atividades econômicas e investimentos prioritários ao desenvolvimento sustentável da Amazônia.

O Estado do Pará possui forte tradição na construção naval artesanal e (em menor medida) industrial. Principalmente o baixo Tocantins e a região Oeste, que são pólos macro-regionais da atividade e poderiam abrigar perfeitamente uma Escola Técnica Federal com essa concepção de preservação dessa atividade artesanal, codificação científica do conhecimento tradicional, geração de alternativas sustentáveis de renda, combinada ao ensino médio e educação profissional e tecnológica. Abaetetuba, Igarapé-Miri e Santarém são fortes candidatas a abrigar a escola e replicar essa bela experiência.

O Senador Geraldo Mesquita é Procurador da Fazenda Nacional e foi eleito em 2002 pelo PSB em aliança com o PT, rompeu logo depois junto com os radicais Heloísa Helena, Babá e Luciana Genro e ajudou a fundar o PSOL, ameaçando assim a hegemonia da família Vianna no Acre e constituindo-se como referência na esquerda amazônica – que com o sumiço de Paulo Rocha (PT-PA), possui agora apenas Marina Silva e Jorge Vianna (PT-AC), Capiberibe (PSB-AP) e Jefferson Peres (PDT-AM), como expressões políticas nacionais da discussão ambiental amazônica. Quando Geraldo Mesquita ensaiava figurar nesse grupo seleto, um ex-assessor seu ligado ao PT do Acre o acusou de cobrar parte de seu salário para uso pessoal, denúncia confusa que acabou gerando sua saída do PSOL e sua posterior entrada no PMDB, como estratégia de sobrevivência política. Geraldinho (como é conhecido no Acre), defende no Senado posições sobre a Amazônia e o desenvolvimento do Brasil bem mais avançadas que o Governo Lula e Governo petista do Acre – vide a Lei de Gestão de Florestas, que é a privatização lenta da floresta.

Kenzo Jucá – sociólogo.