Durante bom tempo este poster alertou as autoridades do Pará sobre o risco iminente de assassinato da líder extrativista Maria do Espírito Santo, com quem o titular deste blog mantinha contatos sempre que ia a Nova Ipixuna.

Primeiro alerta se espraiou no dia 3 de agosto de 2007,  reforçando matéria da Flavia Lisboa, no Diário do Pará.

Em 2008, diante das pressões e ameaças que Maria vinha recebendo com mais intensidade de madeireiros, mais um post foi produzido.

Um dos parágrafos, dizia:

 

Assustadoramente, cada dia fica mais evidente a defasagem entre as demandas da sociedade no mundo agrário e a capacidade de reação e antecipação do governo às atividades criminosas. A vontade política aparece quando acontece uma tragédia. Dificilmente se antecipam a algum tipo de ação.

O Estado está sempre a reboque dessas coisas.

A mobilização só ocorre com intensidade quando o sangue se espraia, como na morte de Chico Mendes, Eldorado do Carajás, assasinato de irmã Dorothy Stang, entre outros casos não menos insanos.
Nessas horas, o mundo todo se volta contra o Estado do Pará, as cobranças se multiplicam Planeta afora.

Espera-se sempre uma reação preventiva de efeito positivo, que não vem. E a história prova que a maioria dos casos trágicos recrudesceu pela falta de antecipação aos acontecimentos.

Especificamente em Nova Ipixuna, existe a questão da exportação ilícita da madeira e de suas variantes perversas. Há uma disputa muito forte de espaço entre grandes corporações lícitas e ilícitas.

Maria do Espírito Santo da Silva, no meio da boiada, corajosa, líder de pequenas comunidades, com a vida a fio.

Leia texto completo AQUI.

Em fevereiro do mesmo ano, outra advertência.

O que o blog previa, ocorreu: a defasagem entre as demandas da sociedade no mundo agrário e a capacidade de reação do governo às atividades criminosas.

Agora, diante dos corpos de Maria do Espírito Santo e de seu companheiro Cláudio, vontade política aparecerá, de novo,  tragédia exposta.

Mais uma vez, o Estado não se antecipou a consagração do ato criminoso.

 

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Atualização às 20:55

 

O jornal britânico The Guardian publicou, nesta tarde, o seguinte texto sobre as mortes de José Cláudio e Maria do Espírito Santos:

 

Seis meses depois de prever seu próprio assassinato, um líder defensor da floresta tropical foi alegadamente assassinado na Amazônia brasileira. José Cláudio Ribeiro da Silva e sua esposa, Maria do Espírito Santo, teriam sido mortos em uma emboscada perto da casa deles, em Nova Ipixuna, estado do Pará, a cerca de 60 quilômetros de Marabá.

De acordo com um jornal local, Diário do Pará, o casal não tinha proteção policial apesar de receber frequentes ameaças de morte por causa de sua batalha contra madeireiros ilegais e fazendeiros.

Na terça-feira havia notícias conflitantes sobre se os assassinatos tinham acontecido na noite de segunda-feira ou na madrugada de terça. Um porta-voz da polícia disse ter relatos de um “homicídio duplo” num acampamento chamado de Maçaranduba 2.

Em discurso em um evento em Manaus, em novembro passado, Da Silva falou sobre o medo de que os madeireiros pudessem tentar silenciá-lo. “Eu poderia estar hoje falando com vocês e em um mês vocês terão notícias de que eu desapareci. Eu protegerei as florestas a qualquer custo. É por isso que eu poderia receber uma bala na cabeça a qualquer momento… porque eu denuncio os madeireiros e produtores de carvão e é por isso que eles pensam que eu não posso existir. As pessoas me perguntam, ‘você tem medo’? Sim, sou um ser humano, naturalmente que tenho medo. Mas meu medo não me silencia. Enquanto eu tiver força para andar eu vou denunciar todos aqueles que danificarem a floresta”.

Roberto Smeraldi, fundador e diretor do grupo ambientalista Amigos da Terra, que trabalhou com Da Silva na Amazônia, disse que estava em uma reunião com a presidente do Brasil, Dilma Rousseff, discutindo mudanças no código florestal, quando a notícia da morte de Da Silva surgiu. “Ele estava convencido de que seria morto”, Smeraldi disse. Ele acrescentou que Da Silva tinha sido “muito ativo” na luta contra a derrubada e queimada ilegais da floresta. De acordo com notícias da mídia brasileira, Rousseff pediu ao chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, para dar apoio a uma investigação sobre o assassinato.

“Temos outro Chico Mendes”, disse Felipe Milanez, um jornalista ambiental de São Paulo, referindo-se ao seringueiro da Amazônia que se tornou mártir ambiental depois de seu assassinato em 1988. Milanez disse que em uma recente conversa telefônica com a esposa de Da Silva ela disse que a situação “estava ficando muito feia”. Milanez acrescentou: “Ele sabia que as ameaças eram reais. Ele estava com medo”.

Um relatório de grupos de direitos humanos brasileiros em 2008 listou Da Silva entre as dezenas de ativistas ambientais e de direitos humanos da Amazônia “considerados sob risco” de assassinato.