A correspondente do jornal O Estado de S. Paulo, Patrícia Campos Mello, lotada em Washington, encontra-se no front do combate ao terrorismo fundamentalista, no Afeganistão. Ela tem um blog no qual conta suas aventuras no meio da guerra.

É impressionante o dia a dia da bela moça (foto) narrando os personagens do conflito tocado por uma gente totalmente pirada, cujo prazer de viver nada diz a nenhum daqueles seguidores de Maomé.

Deixamos endereço do blog de Patrícia e a reprodução de encontro dela com uma oficial feminina do exército norte-americano.


Nunca imaginei que isso ia me acontecer um dia – uma coronel (ou será coronela?) foi meu anjo da guarda.

Tudo aqui no Afeganistão é difícil, como seria de se imaginar em uma país pobre, em guerra há 30 anos e montanhoso. Locomoção, só de helicóptero. Mas, dizem-me os americanos, há um déficit de helicópteros. Então cada deslocamento é um parto, claro, a prioridade vai para os soldados , que têm uma missão essencial a cumprir. E os jornalistas esperam abrir vaga nos helicópteros (ou birds, como eles chamam).

Obviamente, em uma guerra com a participação do exército americano, o The New York Times consegue a vaga antes que o Estadão. Entao eu fiquei presa aqui em Jalalabad. Meu destino inicial era a província de Kunar. Mas, fui informada, demora cinco dias para conseguir um vôo para a base aonde eu queria ir. A solução seria uma outra base.

Acordei as 4h da manhã e pulei num helicóptero para Finley Shields. Cheguei aqui perdidona, caí literalmente de para-quedas sem saber quem contactar, nem sabendo direito para onde eu ia. Estava eu puxando a mala e mais os 20 quilos de colete antibala e capacete a 45 graus centigrados, mais cinco toneladas de mau humor, quando veio uma moca loira e me disse – você é a jornalista do Brasil?, disse ela, entre uma colherada e outra de iogurte com morangos.

E eu , aliviada : “Sim!”

“Ah, eu sou a Coronel Nelson, a comandante daqui.”

Uau. A mulher, super simpática, me levou para a sala dela.

“ É, eu disse para o pessoal do public affairs que esse lugar aonde queriam te mandar não era ideal, pois você não ia conseguir ver o que queria, então eu estou aqui providenciando”, ela me informou.

Magra, alta, loira, bonita – essa é a coronela Nelson. Super despachada, fala sem parar, um monte de besteiras politicamente incorretas engraçadas , tem 41 anos (parece 30).

“E aí, é dificil ser comandante, os homens afegãos te respeitam?”

“Olha, tenho muito mais dificuldade com os americanos, viu!”

Na mesa, tinha uma foto dela com um homem e duas crianças em Segways.

“São seus filhos?”

“Não, são meus enteados, filhos do meu marido. Eu sou a terceira mulher. Mas para os afegãos digo sim, são meus filhos, para não complicar.”

Eu também já aprendi. Aqui, como na Índia, falo que sou casada e ponto. Divorciada soa como “sou portadora do vírus Ebola”.

Coronel Nelson fez alguns telefonemas para seus homens na base de Connolly.

“Podem receber a jornalista do Brasil?”

Mulher ponta firme. Resolveu tudo em 20 minutos. E ainda me incluiu numa missão super interessante – “Você vai agora com o pelotão Ugly para falar com a polícia de Jalalabad, eles tiveram um IED lá recentemente.”

À noite, voltei lá para agradecer. “Muito obrigada, Coronel Nelson.” E ela: “Imagine, nos vemos na volta, você vai de helicóptero, mas volta de comboio, aí nos vemos.

Estou indo na aura de aeróbica. Não é genial, mas tem uma oficial que nos dá aula de aeróbica aqui”.

Genial.

Acabo de pousar em Kogyani.

Coronela porreta essa.