Há um silencioso trabalho  em execução na zona rural de Marabá que, no embalo  da carruagem, pode transformar o setor em fonte geradora de renda e produção, para consumo na cidade.

Audacioso projeto de mecanização de áreas degradadas (SAF – Sistema Agro-florestal), prioritariamente nos projetos de assentamento, está sendo  tocado pela Secretaria Municipal de Agricultura.  (Na foto, PA Piquiá, onde vinte áreas de assentamento foram mecanizadas).

Piquiá-22

Em outras palavras,  iniciou-se na zona agricultável do município, não apenas a recuperação das áreas degradadas, mas  o planejamento da recomposição florestal com base em critérios técnicos, como a vocação de cada território.

Meta é fazer com que a  agricultura e as pastagens fiquem  com as melhores áreas desmatadas e sejam  recuperadas as que não apresentam potencial produtivo.

Jorge Arara 2Segundo o médico Jorge Bichara, secretário de Agricultura (foto),  dar nova concepção aos próprios projetos de assentamento, no município, é uma das missões.

“A agricultura familiar é responsável por garantir a segurança alimentar do país, gerando os  produtos da cesta básica consumidos pelos brasileiros. Apesar da sua importância, e dos esforços de órgãos do governo federal para aperfeiçoar o modelo, este setor ainda enfrenta uma série de dificuldades para aquecer a produção e garantir o sustento de milhares de famílias em todo país”, explica Bichara, satisfeito com os  primeiros resultados do  trabalho batizado de Plano Agroflorestal Sustentável de Marabá.

Na concepção do projeto,  Bichara e sua equipe, vislumbram,  em curto espaço de tempo, retirar o Município de Marabá da lista negra de desmatamento, e contribuir para a melhoria da economia do município  – “seguindo determinação do prefeito Salame”.

Apesar de algumas conquistas como o ordenamento territorial  iniciado pelo governo federal, e avanços na formulação e implementação das políticas públicas na Amazônia, os produtores familiares rurais assentados na região ainda não conseguem ter acesso a muitos dos benefícios comumente oferecidos pelo governo.

“A falta de regularização ambiental e fundiária aliada à ausência de assistência técnica e extensão rural, tem gerado, neste setor, a carência em incentivos para que os produtores promovam alternativas sustentáveis de produção. O resultado tem sido a perpetuação de sistemas de produção precários e de baixa rentabilidade”, explica Jorge Bichara.

Embora tenha trabalhado o primeiro ano do atual governo municipal sob forte precariedade econômico-financeira  – e iniciado os trabalhos da safra 2013-2014, tardiamente -, em razão dos problemas herdados pela gestão de Salame, a Seagri (Secretaria de Agricultura de Marabá) conseguiu dar partida ao projeto de sustentabilidade.

Além da produção de grãos e mandioca, inicialmente, com objetivo de fomentar a criação de peixes, a Seagri  investiu na visita a cem comunidades familiares, nos projetos de assentamento, procedendo mapeamento de cada propriedade e a configuração a ser dada aos projetos de piscicultura, e mecanização agrícola.

Além disso, existem outras 120 visitas técnicas catalogadas em lotes de reforma agrária, para visitação a partir de 2014 (mapa abaixo)

Aquicultura

 

Na busca por um modelo de desenvolvimento sustentável para a agricultura familiar no município de Marabá  que solucione as  dificuldades, Bichara defende adoção de estratégias voltadas ao combate do desmatamento e degradação florestal a partir da implementação de um novo modelo produtivo de baixa pressão sobre a floresta e que, ao mesmo tempo, apresente maior potencial econômico, aumentando a rentabilidade em áreas já abertas e promovendo a melhoria na qualidade socioambiental da região.

E é exatamente isso que a reduzida equipe de técnicos  está conseguindo fazer em  oito projetos de assentamento, levando benefício a  76 famílias de agricultores, nas localidades de  Piquiá, Liberdade, Palmeira Jussara,  Belo Vale, Cabaceiras, Associação Ribeirinha e Várzea Agroflorestal, Vila Monte Sinai e Cedrinho.

Nesses PAs, a Seagri mecanizou a terra,  procedeu correção do solo (usando calcário e composto orgânico)  elaboração de  projetos técnicos, oferta e plantio de mudas.

Plano começou pelo PA Piquiá I, na Vila Sororó, beneficiando vinte famílias, e já atingiu o número de 76 donos de PAs, conforme relatado anteriormente (mapa abaixo)  –  sempre contando com a participação dos agricultores.

“O  Plano Agroflorestal Sustentável, busca fornecer subsídios para a criação deste modelo de assentamento, através de um processo participativo entre governo e sociedade civil, dentro da visão política do prefeito de  executar  projetos com prévia  discussão popular”, explica.

Áreas Mecanizadas

Inicialmente, o   Plano Agroflorestal Sustentável prioriza o plantio da  “cultura rápida”, que são a  mandioca e o milho. Posteriormente,  o investimento será em “cultura perene” como o plantio de  cupuaçu e  açaí precoce.

Na terceira  etapa do programa,conforme explica Jorge, a Seagri investira na produção florestal com plantio de mudas nativas da região, como cedro, mogno, jatobá, ipê, e outras.

Ainda visando a sustentabilidade plena da produção agrícola municipal, a Seagri  firmou parcerias  objetivando  alavancar a produção de farinha do município, bem como aumentar as áreas de açaizais, preocupando-se assim com o reflorestamento de áreas antes destinadas apenas aos pastos.

Até marco de 2014, seguindo planejamento dos técnicos da Seagri, haverá a primeira colheita da atual plantação, abrindo-se, em seguida, o trabalho para a produção de farinha.

“É possível produzir farinha em larga escala. Este programa visa este fim, com propósito da gente oferecer o produto a população sem depender da compra de farinha de outros lugares, chegando aqui quase  com preços aviltantes”, garante Jorge Bichara.

Para o ano de 2014, a secretaria de Agricultura cadastrou oitenta famílias, nos diversos Projetos de Assentamento espalhados pelo município. “Dependendo das condições financeiras da prefeitura de Marabá, a partir de 2014, poderemos multiplicar o número de atendimento”, diz Bichara.

Paralelamente ao trabalho de preparação do solo e plantio, a Seagri estará implantando o banco de informação da secretaria, com as coordenadas georreferenciadas de cada assentamento beneficiado pelo programa, usando o GPS como principal ferramenta.

Para desenvolver o programa nas áreas cadastradas em tempo que permita a conciliação do plantio com o período de chuvas, sincronização necessária para o sucesso da safra, a Seagri precisaria de dez tratores. Conseguiu até agora quatro, devido às dificuldades financeiras da prefeitura.

“Estamos ainda fazendo articulações  junto ao prefeito para que seja feito um esforço no sentido da gente colocar dez tratores nos assentamentos, porque acreditamos no sucesso desse programa agrícola e os benefícios que ele trará ao homem  do campo, gerando alimentos e o reflorestamento de áreas degradadas, um dos objetivos desse governo que tem preocupações, também, ambientais”,  diz Bichara.

Para manter a estrutura dos tratores trabalhando, a Seagri necessita de R$ 110 mil mensais, recursos esse até agora  dificultada sua liberação, pela prefeitura, em virtude da economia de guerra implantada desde o início da atual gestão.

O Plano Safra 2013/2014, em nove meses de trabalho intenso de mecanização e plantio,  requer total de R$  770 mil (ver quadro abaixo).  “Se formos analisar o benefício que esse programa de desenvolvimento agrícola trará à população, é mínimo o investimento, além de transformarmos a zona rurual de Marabá em ponto de referência na região Norte”, esclarece Bichara.

Projeto Safra

Além de gradeadas, as áreas estão recebendo aplicação de adubo e cálcio, para retirar a acidez do solo. “Esse  trabalho está sendo  desenvolvido, depois que é  feita a análise de solo de cada loteamento”, explica o técnico agrícola Marco  de Jesus Miranda Oliveira, Coordenador de Mecanização do Plano Agroflorestal Sustentável.

O projeto se sustentabilidade abrange também a doação de mudas de várias espécies. Em nove meses de trabalho, já foram doadas 53 mil mudas. (veja abaixo)

Doação de mudas

O viveiro da Seagri produziu, até início de dezembro, cerca de 50 mil mudas, entre espécies frutíferas, florestais e ornamentais.

 

Feira do Peixe

Ao longo de nove meses, a secretaria consolidou a chamada Feira do Peixe, estrutura de comercialização de pescados produzidos em áreas de assentamento.

“A feira faz parte também do programa de sustentabilidade da prefeitura de Marabá, já que através dela pudemos descobrir pontos de criatórios de espécies como a caranha, o piau e o tambaqui. Realizamos 26 feiras, durante o período, incentivando os criadores e fazendo esforços para difundir a cultura do pescado no seio da população, que deveria valorizar mais o consumo de peixes, até por causa do preço popular praticado durante as feiras”, explica Bichara.

Feira do peixe

O Plano Agroflorestal Sustentável da prefeitura de Marabá engloba ações de incentivo à produção de hortas, nas zonas urbana e rural.

A cessão de tratores e orientação técnica, bem como o tratamento do solo, , fazem parte do programa hortigranjeiro.

Abaixo, quadro de ações realizadas pela Seagri, em diversos pontos do município, beneficiando  137 agricultores.

Relação áreas beneficiadas

 

Jorge Bichara acredita que a prefeitura pode avançar muito mais, em 2014.

“O prefeito Salame está tentando equacionar as contas da prefeitura. Quando isto ocorrer, certamente poderemos ampliar a área de atuação da Seagri, levando tecnologia e desenvolvimento sustentável a muitas outras comunidades”   –  esperançoso, se mostra Bichara, que faz questão de pedir ao blog registro da unidade da Secretaria de Agricultura.

“Trabalhamos aqui com apenas 60 pessoas. Para uma secretaria de Agricultura que precisa cuidar de 15 mil metros quadrados de território municipal, onde mais de 80% dessa área é na zona rural,  o quadro é reduzidíssimo, e só conseguimos esses avanços em pouco tempo de trabalho – e com minguados recursos -, graças a dedicação de cada servidor, o amor com o qual ele abraça a causa da agricultura e a honestidade presente em cada ato. Sinto orgulho de ter essa turma me assessorando aqui”, elogia Bichara.

Uma das vantagens que Jorge Bichara vislumbra  para o desenvolvimento do município, na área rural, é a possibilidade de se acabar com a ainda  comum  queixa de que trabalhar de forma legal e sustentável não tem vantagens. “A única maneira de pagar a conta da recuperação ambiental é com a produção, e isso nós buscaremos através da mecanização das terras municipais.”

Emoção em cada PA

O  blog visitou  áreas beneficiadas, até agora, pelo programa  Agroflorestal Sustentável, conversando com agricultores inseridos no programa de  mecanização,   e tratamento do solo  aplicado por técnicos da Seagri.

José Castro e dona Terezinha Castro (foto abaixo, olhando a terra mecanizada),  um dos casais contemplados com a modernização do solo de sua propriedade, faz planos para, em 2014, conseguir uma safra nunca alcançada em toda vida de agricultores,  somente na pequena área trabalhada.

“Eu nunca pensei que um dia esse tipo de trabalho fosse feito em minha terra. Passava pela terra de quem tem máquinas, e ficava imaginando como seria a minha…. Hoje, quando vejo tudo feito por máquinas e um pessoal da prefeitura nos orientando, tudo isso é um sonho”, conta, emocionado, José Castro, ao lado da esposa, também contente.

– “Meu “véi” sofria muito trabalhando a enxada, todo dia, dia e noite adentro. Agora, não. Tomara a prefeitura continue fazendo isso, era o que nós mais  ´pedia´ a Deus”, confessa.

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Em outro ponto  do município, no Projeto de Assentamento Liberdade,   o agricultor  Valdemar Pereira   revela que teve um sonho, uns quinze dias  antes da equipe da Seagri chegar à sua propriedade, para fazer levantamento técnico da área onde seria aplicada nova tecnologia de tratamento do solo.

“Um rosto que eu não sei de quem era, apareceu num sonho falando que eu iria ganhar uma dádiva e que minha vida e de minha família, ia  melhorar.  Duas semanas depois, veio (sic)  uns rapazes da prefeitura aqui, fizeram perguntas, mediram a área e garantiram que minha propriedade estava no programa de mecanização, que eu já havia pedido. Foi uma graça de Deus. Tomara o prefeito João Salame e o Dr. Jorge (secretário de Agricultura)  continuem fazendo isso pelas famílias de agricultores, já que tanto sofremos aqui sem apoio de ninguém. Agora eu sei que ano que vem vou produzir mais, melhorar minha renda”, conta, com lágrimas caindo dos olhos.

PA Liberdade 3
Pequena propriedade de Valdemar Pereira (foto abaixo) , no PA Liberdade, mecanizada.

PA Liberdade 6 - Valdemar Pereira

Se o programa de modernização da zona rural do município receber o mínimo de investimentos, nos próximos três anos, Marabá poderá aparecer como pólo de referência, apresentando um saldo de avanços sociais e de inclusão, na área mais desassistida, historicamente, nos 144 municípios paraenses, já que não existe nenhum projeto desse porte em execução no universo  da agricultura paraense.

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Nota do blog:  Todas as fotos são de autoria do repórter Alex Nery.