No levantamento, incluímos apenas Belém, São Luís , Manaus e Palmas, capitais dos quatro estados vizinhos da Amazônia, onde foi perfeitamente possível detectar a existência de número extraordinário de assessorias de imprensa trabalhando para órgãos ligados ao poderes legislativo, executivo e judiciário.

Se a conta levar em conta cidades como São Paulo, Brasília, Rio, BH e outras capitais, certamente chega-se a índices inimagináveis.

O blogger refere-se a uma discussão exercitada com o jornalista Alexandre Katauassu, de Recife, sobre a dependência, cada vez maior, do profissional de comunicação dos empregos públicos.

E isso requer aprofundamento da questão.

De passagem por Marabá, a serviço de uma empresa privada do Nordeste, Alexandre realiza por todo o país pesquisa para a produção de um livro sobre o tema.

Ele já colheu informações seguras indicando na maioria dos estados e grandes municípios brasileiros, os órgãos dos três poderes como principais empregadores de jornalistas. Admite não haver leviandade na afirmativa de que, em diversas regiões, existem mais profissionais de comunicação social a serviço de políticos, juízes, desembargadores e funcionários públicos de menor patente do que em redações de jornal, TV, rádio e internet.

O que deve ser colocado a limpo é uma coisinha singela: a sociedade deve arcar com o salário desses trabalhadores considerando que eles não fazem jornalismo público?

Outra coisa que tem a ver com a mesma coisa: a existência de um batalhão de profissionais de texto, áudio e imagem, trabalhando dia e noite para captar e espalhar informações de interesse do servidor público que os contratou, mas que certamente não é do interesse da sociedade.

Alexandre faz alguns questionamentos, indagando a que se destinam as assessorias:

– É fundamental, ou necessário, produzir textos a cada trecho de estrada recuperado ou hospital inaugurado, sabendo que essas obras serão também divulgadas através de publicidade?

O blogger argumenta, em favor de tais procedimentos, seu uso como antídoto para as coberturas venenosas feitas pelos meios que fazem oposição aberta a um governo. O pernambucano considera isso improvável, arguindo de que os jornais distribuídos gratuitamente pelos governos não costumam ter repercussão além dos círculos de jornalistas e publicitários.

Concordamos, unilateralmente, em favor da criação de emissoras de TV e rádio para competir no mercado, desde que tais veículos não repitam os erros grosseiros e autoritários verificados na Bolívia e Venezuela, cujo material produzido não é levado a sério por uma parcela significativa da população.

Investir em jornalismo público de verdade, esse o caminho, obedecendo a receita adotada pela BBC, veterana emissora britânica com quase 80 anos de existência, que goza de credibilidade invejável e é um modelo a ser seguido.

Pra se ter ideia da extensão da seriedade do conteúdo editorial produzido pelos órgãos da BBC, junto ao povo britânico, apenas o site da emissora acumula há anos o sétimo mais acessado no Reino Unido. Bem maior do obtido pelo conceituado The Guardian, cujo portal tem média de décimo nono lugar mais acessado.

De onde provem a credibilidade da BBC, pergunto a Alexandre.

– Sem medo de afirmar, credito esse feito ao fato de que os seus profissionais não são antigos colegas de faculdade do político que está no poder. Há uma cultura diferente naquele país em que os jornalistas de carreira, principalmente os da BBC, têm ampla independência editorial e, por isso, são mais respeitados do que quem escreve, por exemplo, para veículos de comunicação ligados aos grandes grupos.

Os recursos utilizados para manutenção quase secular da BBC não fazem parte de orçamentos do governo. Quem mantém a estrutura estatal de comunicação é uma pequena taxa anual paga pelos contribuintes, cuja arrecadação cai diretamente nos cofres da empresa – “sem possibilidade de ser cortada ou desviada pelo Poder Executivo.

Mais uma taxa em um país cheio de impostos?

Alexandre diz que sim.

– Melhor do que pagar involuntariamente os salários de quem escreve o que o governador quer que seja publicado. Talvez as assessorias devam continuar existindo, mas uma empresa de jornalismo público seria mais útil à sociedade.