Da lavra de Augusto Barata, a propósito dos descaminhos do ftebol paraoara:

Soa estarrecedor, até porque anacrônico, constatar que sobrevivem o mandonismo da cartolagem paraense e seu proverbial descaso para com a segurança do público, a pretexto da necessidade de fazer caixa. O que certamente explica o porquê de Clube do Remo e Paysandu seguirem ladeira abaixo, no rastro do rebaixamento de ambos para a terceira divisão do campeonato brasileiro de futebol.A declaração de Sérgio Dias, publicada por O Liberal, criticando a Polícia Militar por não permitir – por razões de segurança – a venda de ingressos no volume compatível com a capacidade máxima do Mangueirão, que é de 45 mil pessoas, ilustra o criminoso descaso dos cartolas para com a segurança do torcedor. Justamente o torcedor, que vem a ser aquele que é a razão de ser do futebol, sobretudo o futebol profissional!

Segundo relata O Liberal, reproduzindo as declarações de Sérgio Dias, nos clássicos entre Clube do Remo e Paysandu no Mangueirão, o volume de ingressos postos à venda costuma ficar cinco mil abaixo da capacidade máxima do estádio. A razão disso seria a necessidade de uma área de segurança separando as duas torcidas, protagonistas de uma paixão que alimenta a rivalidade histórica entre os dois clubes de maior torcida do Pará.Com o simplismo que lhe é próprio, Sérgio Dias, que é conselheiro do Clube do Remo, incorreu em uma sandice monumental. “Esse pessoal, a PM e o Ministério Público, é que atrapalham o futebol”, vociferou o cartola, de notória estultícia e célebre pela leviandade de suas declarações, sempre que é parte de algum contraditório.

É indispensável observar, a priori, que foi por pura e simples incompetência e inocultável irresponsabilidade das respectivas cartolagens que Clube do Remo e Paysandu submergiram na crise sob a qual se encontram. Ambos, Clube do Remo e Paysandu, são vítimas de cartolas que em verdade não servem aos clubes, mas deles se servem, seja por vaidade pessoal, seja com propósitos escusos.Para melhor dimensionar a desídia dos cartolas de ambos os clubes é ilustrativo um episódio protagonizado pelo próprio Sérgio Dias. Houve um campeonato brasileiro, por exemplo, que o Clube do Remo disputou sem dispor sequer de um preparador físico, embora tivesse um gerente de futebol devidamente contratado, ganhando mensalmente R$ 2 mil. O gerente era justamente Sérgio Dias, na época desempregado e a quem os cartolas remistas de então decidiram ajudar sem meter a mão no próprio bolso, transferindo comodamente para o clube o ônus pela benevolência.

Incontinências verbais, diga-se, são constantes em se tratando de Sérgio Dias. Nada mais previsível. Afinal, a mediocridade não enxerga nada além de si mesma.Em 1996, por exemplo, durante um seminário sobre o futebol paraense, realizado na Assembléia Legislativa do Pará, Sérgio Dias criticou a imprensa esportiva paraense, a quem responsabilizou pelo noticiário supostamente depreciativo aos clubes. O presidente do Vitória, da Bahia, um dos palestrantes na ocasião, ao comentar as declarações de Sérgio Dias, passou um pito público no cartola remista, observando que não cabia à imprensa esportiva escamotear as eventuais mazelas dos clubes. O que cabia, acrescentou o dirigente baiano, era exigir um mínimo de competência e profissionalismo por parte da cartolagem, para superar distorções históricas, hoje inaceitáveis, porque conspiram contra os próprios clubes.