O problema se arrasta desde o mês de junho, quando a Companhia Siderúrgica do Atlântico (CSA) entrou em operação, no bairro de Santa Cruz, zona oeste do Rio de Janeiro, gerando poluição atmosférica em níveis capazes de provocar danos à saúde humana, afetando principalmente a comunidade vizinha da usina, em Santa Cruz.

A Justiça do RJ deverá punir a empresa pela segunda vez, com multa de R$ 2 milhões.

A CSA tem alguma coisa a ver com o Estado do Pará?

Tem.

Mais precisamente com Marabá.

A planta industrial erguida no Rio de Janeiro é idêntica a planejada para a Alpa – Aços Laminados do Pará.

O que difere as duas é a capacidade de produção de cada uma, apenas isto.

Enquanto a siderúrgica da Vale, no Rio de Janeiro, em sociedade com a alemã ThyssenKrupp, tem capacidade de produção de 5 milhões de toneladas métricas de placas de aço, a Alpa está projetada para produzir 2,5 milhoes.

Acompanhando delegação de empresários paraenses em visita ao parque industrial da CSA, ano passado, o poster conheceu de perto o extraordinário empreendimento instalado naquele Estado.

À época, instado a esclarecer os riscos de poluição que uma siderúrgica do porte da CSA poderia gerar, um dos dirigentes do grupo alemão rejeitou essa possibilidade com argumento de que o projeto estava sendo executado com a utilização de tecnologias modernas, refratárias a qualquer risco do gênero.

Não é o que está ocorrendo.

Entre os crimes ambientais mais graves, listam os promotores de justiça do RJ, estão o derramamento de ferro-gusa em poços ao ar livre, de maneira e em intensidade diferentes do que previam os relatórios e projetos apresentados ao Instituto Estadual do Ambiente (Inea) e sem qualquer controle das emissões.

Em contato com o solo, o produto, resultante do derretimento do minério de ferro, provoca a emissão de toneladas de material particulado e pode causar doenças de pele, irritação de mucosas e problemas respiratórios.

Mais estranho, é o fato de uma usina daquele porte ainda em fase de pré-operação já contar com um passivo ambiental, que é o que existe hoje na CSA.

Agora à tarde, o Estúdio I (Globo News) mostrou imagens do pátio da empresa acumulando enorme quantidade de material decorrente do derramamento irregular de ferro-gusa e espessas fuligens em forma de poeira cinza expelidas dos altos fornos, cobrindo árvores, imóveis e veículos.

O MPE-RJ também aponta que houve omissão de informações durante o processo de licenciamento ambiental e descumprimento de medidas de precaução que o Inea determinou para evitar riscos de novos danos ambientais ou o agravamento dos já causados. Em agosto, a empresa foi multada em R$ 1,8 milhão pelo conselho diretor do instituto por poluição do ar.

O incidente na época, de acordo com o Inea, resultou de dois defeitos na linha de produção de ferro-gusa, sendo o mais grave um erro de concepção no alto-forno de fabricação alemã. Além disso, também foi constatado erro de projeto na coifa que fazia a sucção do material particulado, resultante do resfriamento do ferro líquido. Com isso, um dos poços de emergência, que fica ao ar livre, foi utilizado para despejo e resfriamento do material, permitindo que as partículas fossem lançadas no ar.

Depois dessa, precisamos ficar atentos ao projeto da Alpa.

A população e as autoridades.

Não há projeto siderúrgico poluidor, mesmo considerando os benefícios que traga à geração de emprego e renda, que pague os danos à natureza e à saúde humana.

Nenhum.