Amanhece  Marabá em dia fechado, no rastro de madrugada chuvosa

Ao olhar da janela do carro percorrendo a orla pela  Rodovia da Mangueira, percebo no andar vagaroso das pessoas esforço de gente cansada da labuta.

 Ah! Que coisa insuportável, a  lucidez de  pessoas fatigadas! Mil vezes a obtusidade dos que amam, dos que nos cegam de ciúmes, dos que sentem falta e saudade.

Pessoas e  coisas  se movimentando diante do meu olhar atento.

Uma moça feia  com seu cigarro no bico em loucas tragadas, de olhos tristes.

O bêbado caminhando, com um esparadrapo na boca e a lapela suja de sangue. Deve ter caído na madrugada em alguma sarjeta, recebendo, depois,  protetora ajuda de alguma mão solidária.

O banhista gordo, de pernas brancas, pula de um barco ancorado fora do cais. Pular n´água  morna do Tocantins antes das sete da manhã deve ser porque as pessoas da manhã são poucas e enfrentam, sem receios, o seu aspecto.

Um automóvel deixou uma mulher à porta da casa num beco sem viva alma na rua, ao lado da Igreja de Nossa Senhora das Graças –  pelo estado em que se encontra a maquiagem, andou fazendo o que  devia.

Os ruídos crescem e se misturam: carros, ônibus, motos, vozes misturadas na venda de peixe em frente a Colônia Z-30,  e do rio,  que se não vinha escutando algum rumor, já  se tem o que ouvir: pô pô pô de um barco singrando águas.

Terça-feira, 5 de abril de 2011.

Anos atrás, minha cidade tinha  noites mais intensas, mas pequenas. Se não íamos ao cabaré  do Jadão,  voltávamos para casa à meia-noite, caminhando pela praça Duque de Caxias, dobrando o Beco do Nelito sobre  estreita ponte de madeira que cruzava imenso lamaçal,  falando em namoradas, só nós e Deus.  

O rio Tocantins passava aos nossos pés, carregando grandes embarcações chapadas de castanha, rumo a Belém. Essa era a época de maior movimentação.

A pureza daquelas noites de sossego, certo, foi destruída. A autenticidade dos homens da terra foi engolida pela influência cosmopolita de rostos não identificados.

Era a nossa esperança de refúgio. Agora, quando se cansar das ‘champanhotas’, para onde iremos?  Onde poderemos  encontrar-te com a pureza antiga?

Lembrando  de  Rubem Braga que duvidava das belezas de  Copacabana descritas em prosa e verso pelo mundo afora, ‘Ai de Ti Copacabana’ desnuda a paisagem universal de uma imagem que não existia na alma do poeta.

Não custa nada parodiar a famosa crônica de Braga.

     – “Ai de ti, Marabá, porque a ti chamaram Terra Mesopotâmica do Sol,  e cingiram tua fronte com uma coroa de mentiras”.

 Homenagem do blog a Marabá, ao completar 98 anos, neste 5 de abril.