Para os mais exigentes, pode parecer manifestação de mãe “abatida” pela emoção.
Pode ser.
Mas é, fundamentalmente, história como a vida é.
No real.
Carne com carne.
E aqui deve ser absorvida como exemplo vivo das transformações que a vida oferece a cada humano, a prova de que todos podemos superar nossas deficiências.
O texto a seguir reproduzido, é uma manifestação da jornalista paraense Simone Romero, diante da imagem do filho indo fazer a prova do ENEM.
O resto, fica por conta de Simone:
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Fernando nasceu no dia 18 de março de 1994. Apenas 12 dias depois de eu ter completado 23 anos. Chorou a noite toda e e eu também, assustada que estava de assumir essa responsabilidade pelo resto da vida.
Pouco mais de um ano depois, vejo meu menininho sedado com a cabecinha cheia de eletrodos para fazer um exame de tronco cerebral que trouxe o diagnóstico: surdez profunda bilateral. Com apenas 24 anos e um bebê adormecido no colo ouvi do médico que trouxe o laudo: “Esqueça essa criança. Talvez ele nunca aprenda a ler e escrever. As opções de futuro dele são muito limitadas”.
O choro veio até a garganta. Engoli. Degluti a notícia. Olhei para o médico e disse com toda a convicção que só uma pessoa com menos de 30 anos pode ter: “o senhor está enganado. Esse menino vai ser o que ele quiser porque eu vou fazer tudo para isso”.
Desde então, corri, briguei, trabalhei muito, engoli muito sapo, fui morar em Manaus. Fiz tudo que eu pude para crescer profissionalmente. Sacrifiquei muitas coisas pelo caminho para assegurar que o Fernando tivesse as melhores escolas e os melhores tratamento.
Hoje, aquele bebê que na opinião dos médicos dos anos 90 não passaria de um analfabeto funcional, está indo fazer as provas do ENEM.
E eu confesso pra vocês que eu não consigo parar de chorar convulsivamente pensando no caminho que Fernando e eu trilhamos juntos nesses 19 anos.
Aquele choro que eu engoli no consultório do médico em 1995 está se soltando todo agora.
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Na mesma rede social, ao comentar o emocionante testemunho de Romero, o músico “João Batista Kzam Gama, comovido com o que acabara de ler, contemplou seus amigos com outro depoimento, não menos comovente:
“João Batista Kzam Gama Nasci com deficiencia auditiva que só descobriram quando eu tinha 11 anos.Todos achavam que eu tinha algum tipo de retardamento mental, tanto que fui interno no Pestallozzi.Minha mãe era a única que dizia que eu não era retardado.Foi uma longa história que posso te contar depois mas, para resumir; comecei a tocar violão com 8 anos. Com 14 tirei minha carteira profissional pela O.M.B.-PA.Hoje sou formado em licenciatura – Música ( aprendí a fazer leitura labial)e sou funcionário na UNASP-E.C> onde me formei desde 2009.Toco muito bem piano, violão, baixo e ví na força estadual de Belém como 3º Sargento Músico por 10 anos tocando fagote, trompa de harmonia, sax tenor, tuba e flugelhorn.Sou casado há 27 anos e meus filhos também e estão formados (52 anos).Sua luta foi recheada de vitórias e vc só precisou de uma coisa….amar em dobro.Deus te abençoe.BJÃO.”
Josenildo Mendes de Sousa
29 de outubro de 2013 - 14:02Essa perseverança e otimismo são coisas inexplicáveis, são qualidades “intrínsecas” das mães. Parabéns Simone, por ter “dado as condições” e por acreditar no FERNANDO. Que Jesus “pavimente” o caminho dele e propicie a realização de seus objetivos e sonhos; que seja uma pessoa, tal qual você: perseverante; resignada e solidária. att Josenildo
Simone Romero
29 de outubro de 2013 - 11:02Hiroshi, muito obrigada por seu carinho. Fico sinceramente emocionada.
Esse provavelmente foi o texto mais difícil de escrever em toda a minha vida. Quem convive comigo sabe que eu sou avessa aos holofotes, me escondo em fotos e, principalmente, quase nunca partilho meus sentimentos publicamente.
Mas sinto que, naquele momento, eu precisava partilhar algo que guardei para mim por 19 anos.
O afeto que recebi de todos vocês é uma coisa que vou conservar para sempre. E o fato de ter servido para que outras histórias fossem partilhadas tornou tudo melhor ainda.
Beijo
Simone Romero
Beije Fernando, por nós, Simone.