Romance de Paulo Roberto Ferreira revela a ocupação da Amazônia no final do século 20 e personagens que resistiram ao autoritarismo

 

No próximo dia 29 de maio, às 19 horas, o escritor Paulo Roberto Ferreira lança o seus sexto livro e primeiro romance: “A figa verde e a misteriosa mulher de branco”. O evento vai acontecer no Sesc Ver-o-Peso (Av. Boulevard Castilhos França, 522 – em frente à Estação das Docas) e haverá uma roda de conversa com a participação dos escritores Daniel Leite e Gutemberg Guerra.

Trata-se de um “romance fundamental para situar as gerações mais recentes sobre os “anos de chumbo” na Amazônia”, escreve Gutemberg Guerra. O texto conta com 72 capítulos curtos, “com muito impacto psicológico por conta das diversas formas descritas de autoritarismo e violência física e moral contra crianças e adultos, provocadas por autoridades institucionais”.

O tempo do romance é o da ditadura militar que se estabeleceu no Brasil de 1964 a 1985 e o rescaldo da Guerrilha do Araguaia, que ocorreu na primeira década dos anos 1970 e forneceu o principal personagem do livro. Uma freira rebelde é enviada para a Amazônia por castigo ao seu recalcitrante comportamento no convento em Minas Gerais.

Joana também atravessa todo o enredo em aparições efetivas ou subliminares, como um fantasma ou inspiração de momentos intuitivos na narrativa, escreve o resenhista Gutemberg. “Ela e o menino irreverente se cruzam, misteriosamente, em determinados momentos, mas cada um segue seu caminho de resistente.”

 

Um operador de máquinas pesadas em regiões de desmatamentos e abertura de estradas entra na trama. É mobilizado nos relatos de forma muito humana e compreensiva, como alienado, mas sensível ao que testemunha de crueldade, afastando-se discretamente das maldades que não quer compartilhar.

As notícias sobre os confrontos na área rural chegam a Belém e mobilizam outros tipos que também compõem cenários da tensão que fazem parte da intrincada trama. Em períodos curtos e objetivos, narrado em terceira pessoa, o texto hipnotiza o leitor pela empatia provocada pela intimidade que revela em cada história, sempre no plano da emoção e de uma tensão provocada pelo clima de repressão e suspense que atravessa cada trecho, afirma Guerra.

 

A evolução das personagens no tempo vai dando conta das contradições entre o discurso oficial grandiloquente e o nível de pobreza se que acumulam, em biografias ricas de detalhes, mas retratando o grau de exploração humana a que estão submetidos em regimes de trabalho esgotantes, insalubres e desumanos os camponeses e operários.

Já o escritor Daniel Leite, que faz a apresentação do livro, nos diz que Paulo Roberto Ferreira, ao escrever “A figa verde e a misteriosa mulher de branco”, apresenta uma narrativa “entrecortada em nós, pele aberta, sangue semovente, uma memória em potência, escreve também sobre o nosso estar no mundo, os nossos territórios, as nossas Amazônias, esse espaço social de fraturas e resistências”.

Em outro trecho Daniel Leite afirma que há passagens, que mesmo invisíveis, o livro “oferecem-nos a chance de sondar um corpo fechado ao mal. Nestes tempos subterrâneos que sempre retornam com discursos nacionalistas maquiados a pó e pólvora, casca e caos, Paulo Ferreira escreve para nos lembrar de nunca esquecer.”