Notícia melhor do que essa aí relatada pelo José Alencar, não poderia haver.

O poster já sabia, antes de ocorrer o fato, que Alencar precisava da força de todos seus amigos e parentes.

Graças a Deus e aos procedimentos médicos corretamente adotados, Alencar agora está aliviado.

E nós também.

Eis, a história dele contada pelo próprio, que o blog faz questão de integralmente reproduzir:

Vencendo o Câncer

Um de cada seis homens vai ter câncer de próstata. Se os homens chegássemos aos cem anos, seria quase certo que todos teríamos câncer de próstata. Um em cada seis é mais ou menos 18%. Desses dezoito em cada cem homens, só três morrem em decorrência do câncer. Quinze se salvam, pois câncer de próstata tem cura.

E a cura começa com a prevenção, feita basicamente com dois exames bem simples. Um, de sangue, mede o antígeno prostático específco (PSA) que é o melhor marcador – digamos assim, um medidor – de eventuais alterações na próstata. É barato e deve ser feito a partir de uma certa idade, dependendo dos antecedentes familiares. O outro exame, complementar ao primeiro, é o toque retal, barato e eficaz. Dependendo do protocolo que o urologista seguir e, admitamos, o gosto do freguês, pode ser feito um exame com ultrassom. A rotina dessa prevenção – anual – faz toda a diferença e pode colocar o homem entre os três que vão morrer ou os quinze que vão se salvar. É essa, serenamente, a escolha a fazer.

O exame de sangue (PSA) já faz parte da rotina de muitos homens, por iniciativa própria ou estimulados pela família (muitas vezes é a mulher que marca a consulta para o homem) ou pelas empresas e organizações. O passo seguinte, a ida ao urologista para o exame de toque retal, enfrenta preconceitos, geralmente sob a forma de rejeição associada a um machismo despropositado ou ao temor de um achado. Aos machões parece que o toque retal pode reduzir a masculinidade. Vai ver que não estão tão seguros assim…

O que os machões precisam saber é que o diagnóstico precoce favorece a preservação da ereção e não o contrário.

Explico. O toque retal permite o diagnóstico do câncer no seu estágio inicial. Se no toque o urologista encontrar alguma anomalia, ele pede uma biópsia prostática. As amostras são retiradas através do reto, com ajuda de uma sonda transretal (ultrassom) e uma agulha que recolhe fragmentos da próstata (o procedimento é feito com anestesia e no atual estado da arte não causa desconforto). A biópsia confirmará se há ou não câncer (adenocarcinoma) e o grau de comprometimento da glândula, conforme um escore que vai de 1 a 10 (escore de Gleason). O resultado da biópsia determinará a estratégia terapêutica a ser escolhida pelo médico e pelo paciente. Quando o câncer é diagnosticado no seu estágio inicial, é possível salvar um ou até mesmo os dois enervamentos (feixes de nervos) que controlam a ereção e, com isso, reduzir o risco de disfunção erétil após a terapia escolhida. Quando o diagnóstico não é precoce, além de aumentar o risco para o paciente, a disfunção erétil é praticamente certa. Trocando em miúdos, o toque retal ajuda a preservar a masculinidade e não o contrário.

A esta altura o leitor deve estar curioso para saber o porque desse lero todo.

Também explico. Eu acabo de passar por essa experiência.

Há muitos anos faço prevenção de câncer de próstata, anualmente, pois tenho antecedentes na família. Sempre fazia o exame de sangue (PSA) e o ultrassom (graças a um desses ultrassons encontrei anos atrás um cálculo na vesícula biliar, um achado que me permitiu fazer uma cirurgia eletiva tranquila). Mais recentemente o protocolo adotado incluiu o toque retal. Nos últimos quatro anos o PSA cresceu de forma consistente, mas nada de anormal aparecia no ultrassom e no toque retal. Este ano, um pouco antes de fazer o Caminho de Santiago – relatei aqui no blog dia por dia – fiz o PSA e ele havia aumentado mais uma vez. Como estava com tudo pronto para fazer o Caminho, deixei para ir ao urologista depois. Fiz o Caminho sem problemas, não senti nada, nenhum sintoma. O Caminho me fez bem para o corpo e para a mente. Quando voltei para a academia a avaliação física indicou um resultado muito bom, quase de atleta.

Fui ao urologista ao voltar e no toque ele encontrou uma anomalia e requisitou uma biópsia saturada da próstata. Foram recolhidos 21 fragmentos que formaram sete amostras. O resultado saiu na primeira quinzena de julho. Das sete amostras, quatro tinham adenocarcinomas (80%), sem invasão neural e com escore de Gleason de 4 + 3 (total 7), indicativo de uma gravidade aceitável e sugestiva de possibilidade de cura. Era o meu encontro com o câncer de próstata. Uma notícia ruim e outra boa. A boa era que o câncer parecia confinado à próstata e tinha cura. Exames preoperatorios – cintilografia óssea e tomografias – pareciam confirmar que não havia mesmo metástases. Esperei meu urologista voltar das férias e apresentei-lhe o resultado. Ele deixou-me a vontade para uma segunda consulta e sugeriu o médico com quem ele fizera residência em São Paulo. Como eu tenho muita confiança na técnica e na ética de meu urologista Júlio Bernardes, dispensei essa segunda consulta e optei pela extração radical da próstata, já sabendo que a chance de cura era alta e daria para salvar um dos enervamentos graças ao diagnóstico precoce. Admito que ter feito primeiro o Caminho de Santiago me ajudou muito, pois ao fazer essa escolha estava muito bem fisica e mentalmente. Essa é lição que agora aprendi: manter uma atividade física regular ajuda muito.

Depois de um cuidadoso preoperatório – que incluiu idas a cardiologista, neurologista e anestesiologista – extraí a próstata, a vesícula seminal e um dos enervamentos no dia 17 de agosto, terça-feira. A cirurgia correu bem. Fiquei um dia na UTI e quatro dias em um quarto do Hospital Guadalupe. Saí no domingo seguinte e estou tendo uma rápida recuperação, para a qual ajudou a preparação física e a boa saúde mental, mas muito, e muito mesmo, o apoio da minha família – minha esposa Araceli, meu irmão, meus enteados, enteada, genro, noras e netas – e das amigas, amigos e colegas, de todos os credos, que com suas preces, energias e cuidados me levam a uma surpreendentemente rápida recuperação.

Faço fisioterapia desde o terceiro dia no hospital. Os exercícios são parecidos com os que fazemos nos aparelhos da academia, só que usando um elástico. O primeiro, mais fraquinho, já rompi.

Levo uma vida com poucas restrições. Basicamente, depois de 17 dias usando sonda uretral, estou reaprendendo a … urinar!

Hoje recebi o resultado da biópsia confirmando que o câncer estava mesmo confinado à próstata. Em medicinês, o estadiamento é pT2c. Foi a melhor notícia que poderia receber. Agora vou continuar fazendo o acompanhamento periódico e mudar os protocolos para incluir outras prevenções.

O câncer me colocou cara a cara com a finitude da vida, da qual passei a ter, reconheço, outra compreensão, outra visão. Valorizo cada instante, por mais simples e singelo que seja. Como faziam os antigos, carpe diem…Salvo

Sou grato ao Doutor Julio Bernardes e todos os médicos que me ajudaram (Steven Pinheiro, Fábio Moraes, Paulo Toscano, Scylla Lage, Ruy Borborema, Augusto Borborema, ao anestesiologista, aos intensivistas, aos técnicos e enfermeiras do Hospital Guadalupe), aos meus familiares e amigos, que muito me ajudaram a ingressar em um novo ciclo de vida, muito melhor que o anterior, reconheço.

Se um dia fosse escrever minhas memórias – tranquilizem-se, pouparei vocês desse suplício – o capítulo destinado a este ano de 2010 talvez tivesse por título O Ano do Câncer.

Resolvi tornar pública esta experiência para ajudar os homens que tinham dúvidas sobre o toque retal.

Alguns são salvos pelo gongo, outros pelo toque retal…

Foi meu caso.

E pode ser o seu, meu caro amigo.