“A vida humana sempre foi vivida à beira de um precipício. Se o homem tivesse adiado a busca pelo conhecimento e pela beleza até que estivesse seguro, jamais teria começado essa busca. A humanidade optou, há muito tempo, por descartar as razões mais plausíveis. Isso não é estilo; é a nossa natureza.” C.S.Lewis.

Este trecho do livro “Peso de Glória” do escritor C.S.Lewis, foi lançado em um período de grandes conflitos (2ª Guerra Mundial), momento em que sobreviver era a palavra de ordem, Lewis fez uma reflexão sobre os tempos de crise e as artes, aqueles sempre existirão na humanidade, porém o pensamento criativo não deve se curvar a essas realidades, artistas continuarão produzindo suas obras, as artes sempre irão contribuir para amenizar a dor da guerra.

Não vivemos um período de guerra na Vila São José, no entanto nos deparamos cotidianamente com problemas que poderiam paralisar qualquer pensamento criativo, questões econômicas e sociais nos circundam, clamando para serem resolvidas, colocam-se como urgências, muitas vezes nos cegam.

Oxalá, se todas as palavras postadas neste espaço, que nosso grande jornalista Hiroshi Bogéa nos concede, pudessem se materializar em benfeitorias para a comunidade da Vila São José, seríamos as mais felizes criaturas da face da terra. Mesmo que as melhorias demorem a se concretizar prosseguiremos na esperança de que elas acontecerão.

Durante as grandes Guerras da humanidade o desenvolvimento cultural e artístico não se estagnou e em nossa comunidade isso também não ocorreu. A arte tem cumprido seu papel de amenizar a dor, denunciar injustiças, refrigerar a alma. O pensamento criativo provou mais uma vez que não precisa esperar tudo estar bem para ser desenvolvido.

Exemplo no que estamos falando é o surgimento de um artista que, mesmo longe dos grandes centros culturais, nasceu, cresceu e tem amadurecido sua arte, na Vila São José. Rapaz tranquilo, de gestos simples, fala baixa, timidez latente, sorriso sempre à mostra, produz com a técnica de nanquim, quadros que retratam com perfeição os tempos dos castanhais em Marabá.

Francisco Uanderson da Silva Miranda, o Uendas como chamamos, ou tio Uendas como os alunos da E. M.E.F. São José o chamam carinhosamente, nasceu artista, não precisou que alguém o ensinasse, já nasceu ensinado por Deus. Pintar, desenhar, retratar são habilidades tão próprias dele que não conseguimos imaginá-lo fazendo outra coisa.

Passou a trabalhar na escola há cerca de quatro anos, é o nosso faz tudo: prepara nossos murais, pinta as camisas dos desfiles, fotografa e edita os eventos, cria os banners, é o especialista em informática, dá um jeito nos equipamentos quando estão com problemas, enfim, não vivemos mais sem ele na escola. Tornamo-nos (professores, alunos, equipe pedagógica) dependentes do talento deste artista.

Seu maior prazer é ficar horas a fio sozinho em seu quarto pintando paisagens que brotam de sua imaginação, tão cheias de detalhes que nos faz pensar que possui mais idade que a que os documentos afirmam ter. Uma vez perguntamos se ouviu alguém falando do período dos castanhais, disse que não, simplesmente começa a pintar e todo cenário surge diante dos seus olhos, como mágica.

Queremos divulgar o trabalho do Uendas, a Vila São José quer passar a ser conhecida como o lugar em que nasceu e mora o artista plástico Uendas. Sonhamos em vê-lo vivendo de sua arte, que possui qualidade e originalidade. Por ter uma alma de artista não vende seus quadros com frequência, e quando o faz é por um preço tão irrisório que mal dá para comprar suas tintas, pincéis e telas. É o artista que vive para a arte, e não vive da arte.

Comprove tudo que relatamos analisando as imagens de alguns de seus quadros que postamos abaixo. Procuraremos fazer uma entrevista com Uendas e assim torná-lo mais íntimo dos leitores do Hiroshi.

A seguir, quadros de Uendas, para nosso deleite.

 

 

 

 

 

Texto: Evilângela Lima, Educadora da Escola de Ensino Fundamental São José