Quem nos conta essa alvissareira notícia é o repórter  André Cabette Fábio, direto de Manaus:

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A presença de peixes na merenda escolar de Manaus mais do que dobrou no último ano. Hoje, cerca de 90 mil alunos ou 85% do total das escolas públicas da zona metropolitana da cidade contam com peixes no cardápio, enquanto que o índice era de 40% no ano passado.

Segundo Raimundo Nonato, superintendente do Ministério da Pesca e Aquicultura no Amazonas, o aumento é resultado da implantação do Preme (Programa de Regionalização da Merenda Escolar). Antes, as crianças comiam principalmente carne vermelha e frango.

Agora, as 350 toneladas de peixe consumidas anualmente pelos estudantes da rede pública representam um mercado de R$ 2,1 milhões, que encontra falta de fornecedores.

“Falta produto porque temos poucos frigoríficos no Amazonas, e eles trabalham no limite para nos abastecer”, diz Nonato.

Segundo o superintendente, a produção estadual deve somar neste ano 180 mil toneladas de peixes, 12% a mais que em 2012.

Apesar de ser o Estado com o maior consumo per capita de peixes do país –com 45 kg por ano na capital e 120 kg no interior do Estado–, o Amazonas tem apenas seis frigoríficos com certificado sanitário para trabalhar com pescado, o que comprova que o produto atende aos padrões de higiene exigidos por lei e permite que as empresas vendam para a rede pública.

Nutricionista destaca qualidades

Para Elizabeth Cardoso, nutricionista-chefe do Incor (Instituto do Coração), a adição do peixe à merenda escolar é uma escolha “excelente”. “O peixe é ótima fonte de proteínas e minerais, aliado ao fato de na Amazônia haver disponibilidade do produto e a sua carne ser magra. Mesmo os peixes mais gordos possuem gorduras de boa qualidade”, afirma.

Ela afirma, no entanto, que a carne do peixe estraga com facilidade e que é necessário mantê-la congelada de -18ºC até -11°C. Quando descongelada, a carne deve ser refrigerada a temperaturas de no máximo 2°C por até três dias.

Além disso, afirma que, no caso de compras de instituições como escolas e hospitais, é necessário realizar visitas técnicas para verificar se os fornecedores manipulam os alimentos de forma correta.

Com adequação à legislação, frigorífico aumenta vendas em 48% em 2013

Aproveitando a procura por produtos com atestado sanitário, Valmor Venâncio, da cidade de Maués (AM), adaptou seu frigorífico no começo do ano às exigências legais e fornece peixes processados, como o aracu, à rede pública por R$ 6,90 o quilo.

O pescado é vendido para merenda sob a forma de picadinho, como é chamada a carne moída do peixe, que serve para o preparo de almôndega, sopa e bolinho, por exemplo. O picadinho também pode ser cozido com temperos ou misturado ao arroz.

Com as mudanças na estrutura, o frigorífico de 22 funcionários passou a vender para o governo e ampliou o número de clientes, o que aumentou sua produção de 235 toneladas por ano em 2012 para cerca de 350 toneladas em 2013.

Hoje, as escolas públicas respondem por 10% do mercado da empresa. O restante é entregue a feirantes de Macapá (AP), Maués e Manaus, por meio de dois barcos próprios.

Os peixes são provenientes principalmente da região de Maués, mas, no caso do pirarucu, cuja pesca é controlada, a empresa chega a trazer o peixe de uma distância de 780 km, da reserva Mamirauá.

Para 2014, a empresa tem planos de expandir as vendas para outros Estados, como o Pará.

Adequação às normas 

Para atender à rede pública de ensino, Venâncio conta que fez investimentos de cerca de R$ 1 milhão em máquinas e mão de obra qualificada. A verba veio através da Agência de Desenvolvimento Sustentável do Amazonas.

Isso porque a rede exige produtos com o SIE (Selo de Inspeção Estadual), concedido a estabelecimentos que devem seguir normas sanitárias, industriais e ambientais.

Isso inclui, por exemplo, o uso exclusivo de bancadas de aço inox para o corte do peixe, a pintura das paredes com tinta branca e a contratação de um veterinário responsável por acompanhar o processamento dos peixes.

As espécies usadas para fazer o picadinho que vai para a merenda escolar são aracu, tambaqui, aruanã e jaraqui.

No processamento, o primeiro passo é partir o animal pelas “costas” e remover as vísceras e a cabeça.

Depois disso, o peixe é lavado para a retirada do sangue e da gordura. Uma máquina que se parece com um moedor de carne é usada para separar o peixe das escamas e das espinhas.

A carne de peixe é então embalada, pesada e mantida em congelamento a -25ºC por cerca de 12 horas. Em seguida, é estocado numa câmara a -12°C, de onde é enviado para a venda.

Além do picadinho, o Frigorífico Maués também vende peixes sem as vísceras e filé de peixe.

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Nota do blog: com boa vontade política, não seria possível adotar esse procedimento nas escolas de Marabá?