ayalaFechando o raio de consultas aos movimentos sociais sobre a nomeação do ex-deputado federal Asdrubal Bentes para a Superintendência Regional do Incra no Sul do Pará, a dirigente nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Ayala Ferreira (ao lado) diz que a entidade vê a questão com “preocupação”.

“É preocupante a colocação na Superintendência do Incra no Sul do Pará de uma figura como o Asdrubal Bentes, que historicamente sempre assumiu posicionamentos de classe aqui nesta região, que não é qualquer região. Então estamos  assim preocupados, com a nomeação dele – mas pensando como manter o nível de organização do campesinato aqui, pra resistir não só ao incentivo do latifúndio, que pode estar se sentindo mais confiante em atuar contra os trabalhadores, mas às próprias políticas  que poderão sem desenvolvidas sob esse atual ciclo do governo do PMDB, do Michel Temer, de seus ministros e,  consequentemente, de suas representações, como o Incra, aqui nessa  região”, diz a dirigente.

Ayala deixa claro que difere da visão da Fetraf, que registrou “satisfação”  com a chegada de Asdrubal no comando dao órgão, segundo depoimento de Chico da Cib.

“Diferentemente da Fetraf, não olhamos isso com tanta alegria. Ao  contrário, estamos preocupados com o que poderá ser o comportamento do Incra a partir da nomeação do ex-deputado federal – embora a gente faz também uma crítica geral à estrutura do Incra, como um todo. Já faz há algum tempo que o Incra tem descumprido sua função de ser um instrumento de implementação da Reforma Agrária, pela burocracia, pelos casos de fraude, de limites da estrutura”, lamenta Ayala.

Apesar das  críticas,  a líder do campesinato acha que Asdrubal pode vencer obstáculos, estando atento às transformações diárias da luta no campo, e usando o diálogo como instrumento de convencimento .

“O que a gente espera, talvez, já que a gente imagina que o Asdrubal é uma pessoa atenta às interpretações e às análises que a imprensa acaba levando  a público, o que a gente espera de qualquer indivíduo que atua na estrutura do Estado brasileiro de governo? É  que ele tenha um comportamento de diálogo, que converse, independentemente de cor ou sigla, ou que representação de classe ele possa exercer na região. Então, se ele tem facilidade para conversar com o latifúndio, o que nós do MST minimamente esperamos é que ele tenha  pelo menos a condição de dialogar com os trabalhadores”.

Finaliza, Ayala, colocando o respeito às pautas até agora defendidas pelos movimentos sociais.

“O novo superintendente tem que respeitar aquilo que nós já estamos há alguns anos em processo árduo de negociação com o Incra. Há uma pauta envelhecida, inclusive, dos movimentos sociais, do MST e de outras organizações sociais, no que se refere à terra, no que se refere às políticas públicas  pra viabilizar os assentamentos. Essa pauta ainda não foi implementada. Então, qualquer superintendente  que assuma a direção do Incra aqui na região, o que a gente espera é que ele  abrace essas pautas e as transforme em ação. É isso o que a gente espera. Ele pode dialogar com o latifúndio, como ele queira, ter uma relação histórica, mas  que ele trate de dialogar também com os movimentos sociais, com os camponeses e ajudar, na medida do possível, a implementar velhas pautas tão necessárias para o sucesso da reforma agrária”, encerra a dirigente do MST.