Janot e a hora dos outsiders

 Tereza Cruvinel – Jornalista

 

A recém divulgada Pesquisa Ipsos mostrou, além da impopularidade de Temer (70% de rejeição), a desaprovação geral da população aos políticos potencialmente candidatos a presidente em 2018 : 56% desaprovam Marina Silva; 63%, Aécio Neves; 68%, Lula; 55%, Geraldo Alckmin e José Serra.

Em compensação, 55% aprovam Sergio Moro, e 42%, Joaquim Barbosa. Este é o cenário ideal para o surgimento de um outsider, um nome de fora do sistema político tradicional,  sem experiência eleitoral mas com atributos, adquiridos em outras atividades, que os credenciam aos olhos do eleitorado.  É o ideal da Lava Jato: deslegitimar tudo o que está aí para que das cinzas surja o novo.  O procurador-geral Rodrigo Janot não apareceu na pesquisa Ipsos, apenas Moro e Barbosa, mas o discurso que ele fez ontem, na abertura de um seminário,  é perfeito para esta hora propícia aos outsiders.

Entre intenção e a fala  sabe-se lá quantos quilômetros existem mas o discurso foi neste sentido:  acabou-se o sistema e com ele seus atores. É hora de olhar para o novo. Revisitando algumas partes do que disse,  cheias de plural majestático, Janot não pode reclamar desta interpretação. Vejamos.

Numa passagem ele diz que a Operação Lava Jato revelou que políticos e empresários transformaram “o Estado em um clube para desfrute de poucos”. “Algumas vozes reverberam o passado e ensaiam a troca do combate à corrupção por uma pseudo estabilidade, a exclusiva estabilidade destinada a poucos. Não nos sujeitaremos à condescendência criminosa: não é isso que o Brasil quer, não é disso que o país precisa”. E mais adiante: “Chegou a hora de quebrarmos também os grilhões do patrimonialismo, de nos libertarmos de um modo de ser que não nos pertence, daquele malfadado jeitinho associado à corrupção da lei que não traduz nossa verdadeira natureza. É hora de nos desvencilharmos da cultura de espoliação e do egoísmo. O país fartou-se desse modelo político”.

Depois, tratou o procurador de falar não para os participantes do seminário mas para o “grande público”, digamos assim: “temos hoje um déficit de representação política. Um descompasso entre o que quer o eleitor e o que faz o seu representante”. “Não chegaremos ao fim dessa jornada pelos caminhos do Ministério Público ou do Judiciário. Esses são peças coadjuvantes no processo de transformação e de aprofundamento dos valores republicanos. A Lava Jato, por si só, não salvará o Brasil, nem promoverá a evolução do nosso processo civilizatório. Para tanto, é indispensável a força incontrastável da cidadania vigilante e ativa”.

Vigilante e ativa, manifestando-se por meios diversos e, não precisou dizer com todas as letras, através do voto, da escolha de pessoas não comprometidas com o sistema condenado.

Se Janot não é candidato, está com pinta de candidato. O problema dos outsiders é que, não dominando os códigos da política e da representação, costumam incorrer em erros que não levam à estabilização política e sim a mais turbulências. Outsiders, de certa forma, foram Janio Quadros e Fernando Collor mas não eram completamente estranhos à política. Faltava-lhes a experiência no plano nacional, que Dilma também não tinha.  Um perfeito outsider é o candidato republicano nos Estados Unidos, Donald Trump.

Profecias do mercado

Em fevereiro o banco Goldman Sachs fez uma avaliação da conjuntura brasileira e, entre outras previsões pessimistas, apontou o cenário favorável ao surgimento de um candidato outsider em 2018. As conclusões foram assinadas por Alberto Ramos, diretor de pesquisa para a América Latina.  Elas incluem previsão de queda do PIB entre 3% e 4%,  inflação acima de 7%, dólar entre R$ 4,30 e R$ 4,40 e aumento do desemprego para dois dígitos, o que é “socialmente e politicamente desafiador”. Foi antes do afastamento de Dilma mas o quadro não mudou.

Com o gasto público estourado e a resistência a novos impostos, enfrentar o problema fiscal será “muito difícil” e a perspectiva para reformas de médio prazo são “sombrias”, diz o banco. Pulando para 2018, avaliou que “dado o desencantamento e a rejeição ao status-quo político, há risco crescente da emergência de um candidato populista outsider de fora do establishment.”

Um outsider não é, necessariamente, populista.