Quem informa é Enize Vidigal, do portal ORM:

 

 

No final de semana passado, em que um homem foi morto por piratas durante o assalto a uma embarcação na Vila de Ponta Negra, próximo ao município de Muaná, ilha do Marajó, outros dois assaltos a embarcações foram registrados nos municípios de Melgaço, que fica no mesmo arquipélago, e do Acará, no nordeste paraense, próximo a Belém.

A segurança nos rios da Amazônia é um problema crônico. Passageiros, acostumados a se deslocar nos rios do Pará, colecionam histórias de assaltos e temem sofrer essa violência.

“Eles chegam com muita violência, batem nas pessoas, atiram. Chegam em grande número, armados e encapuzados. Se aproximam rapidamente em voadeiras e lanchas”, descreve a ribeirinha Diva Carvalho, de 38 anos, moradora de Igarapé-Miri, que frequentemente vem a Belém de barco trazer a filha para tratamento médico. “Temos muito medo. Os assaltos tornam a viagem muito perigosa. Eles assaltam principalmente embarcações que vão e vêm para o Marajó”.

“Os assaltos a embarcações estão sempre acontecendo. Eles (piratas) chegam em embarcações menores e mais rápidas, como rabetas e voadeiras, quando não há maresia. Nas operações já aprendemos armamento pesado, como rifle de calibre ponto 44 milímetros, além de colete à prova de balas e radiocomunicadores. Eles (assaltantes) vêm de toda área ribeirinha”, completa o delegado Arthur Braga, da Delegacia Fluvial (Deflu),

“Todo mundo tem medo de pirata. Na semana passada, tomaram tudo o que o cara tinha e ainda mataram ele”, diz outro passageiro, José Dutra, de 53 anos, que reside em Abaetetuba e costuma viajar para Belém e Soure, no Marajó.

Ele se referia ao assassinato ocorrido na madrugada do último dia 11, perto de Muaná.

Outro passageiro que conhecia a vítima, Moisés Pantoja, de 47 anos, teme tanto os piratas que se recusa a dar entrevista. Moisés era dono da embarcação que estava sofrendo assalto.

O navio seguia da capital paraense com destino ao município de São Sebastião da Boa Vista, no Marajó, quando, por volta das 2 horas, dois barcos pequenos se aproximaram, com os ocupantes atirando. A vítima, que estava numa cabine, ao sair do cômodo foi atingida e morreu no local.

Os assaltantes roubaram dinheiro e objetos da embarcação e de passageiros e, em seguida, fugiram. O crime é investigado pela Deflu com o apoio da Superintendência da Polícia Civil do Marajó Ocidental, com sede em Breves. “Assalto tem em todos os rios da Amazônia”, completa José Dutra.

Cargas também estão na mira dos bandos

Arthur Braga esclarece que os piratas atacam não apenas embarcações de passageiros, mas também de transporte de cargas.

No Estreito de Breves, no Marajó, por onde trafega grande quantidade de navios que circulam entre o Delta do Amazonas, Manaus e Altamira, são comuns os roubos de cargas, sobretudo de gêneros alimentícios e de combustíveis.

Os assaltantes mantêm os tripulantes sob controle por horas e ainda ficam circulando com a embarcação para descarregar  aos poucos a mercadoria roubada, com o apoio de embarcações menores.

Outros assaltos comuns são de valores transportados por empresas para realizar pagamento de funcionários em localidades distantes. “Às vezes, são os tripulantes que dão informações à quadrilha. Eles (piratas) já têm receptadores de leite e de carne (roubados), por exemplo”, diz o delegado.

Em entrevista recente à TV Liberal, o presidente do Sindicato dos Armadores do Estado do Pará (Sindarpa), José Rebelo, denunciou que os equipamentos comunicadores de rádio são os primeiros itens roubados pelos ladrões de cargas.

Segundo ele, os rádios passam a ser utilizados pelos próprios piratas para monitorar os comboios de carga.

“Eles também roubam outros equipamentos de navegação, roubam objetos pessoais da tripulação, as cargas que são possíveis ser carregadas e, principalmente, roubam o combustível. Porque o óleo roubado vai fomentar o comércio na região, onde os equipamentos também serão vendidos. Isso vai fomentar o tráfico de drogas e de armas, a prostituição. É uma cadeia de problemas que vai trazendo”, afirma

Tripulante pulou na água para tentar escapar dos criminosos

O delegado Arthur Braga afirma que havia quatro anos não era registrado esse tipo de crime na área em que Moisés Pantoja foi morto.

A polícia acredita que pelo menos dez homens tenham participado do assalto, dominando passageiros e tripulantes por pelo menos duas horas.

“Eles assaltam em grande número para abordar uma quantidade grande de passageiros. Normalmente tem um olheiro. Eles não sabem se tem algum policial à paisana no meio. A polícia suspeita que esse crime tenha relação com o assalto ao Lobo do Mar, outra embarcação de transporte de passageiros, que estava no Furo do Arrozal, em Barcarena, no nordeste, mas seguia para Muaná, no último dia 25 de maio. Dos 16 assaltantes identificados e indiciados pela polícia, seis já foram presos”.

Sobre o assalto ocorrido em Melgaço, no mesmo final de semana em que Moisés foi vítima de latrocínio, o delegado Arthur Braga,  relata que um tripulante pulou na água para tentar escapar dos bandidos. Não há informações se o tripulante foi resgatado.

A investigação do crime está cargo da Delegacia de Melgaço.

Já no Acará, os piratas balearam um tripulante na perna durante a abordagem à embarcação.

Não há relatos de prisões dos acusados de participação nesses assaltos.

Não é difícil coletar informações sobre a ação de piratas no Pará.

“Eles roubam motores de outras embarcações pequenas e assaltam até canoas, principalmente de quem atravessa para comprar açaí em zonas ribeirinhas. Igarapé-Miri, Moju ou Belém não é diferente”, destaca a passageira Diva Carvalho.

Ela conta que, no mês passado, um amigo dela, que comandava uma embarcação vinda do Marajó, se atirou no rio Guamá quando 15 piratas atacaram. “

Eles queriam saber quem eram o comandante e o dono. Eles não se apresentaram logo e começaram a bater nas pessoas, furar as sacas de farinha e a roubar os celulares, bolsas e documentos de todo mundo que estava lá. O meu amigo se atirou no rio e o dono acabou se apresentando, para tentar proteger as pessoas. Bateram muito nele e também bateram na esposa dele”.

Ainda segundo Diva, o comandante foi resgatado na madrugada por um pescador.