Entrevista 2

 

 

 

O comunicador Milton Faria é um dos líderes de audiência no rádio e TV de Marabá. O público fiel do radialista o acompanha desde 1989, quando ele aportou na cidade, a passeio, e decidiu conhecer as instalações da rádio Itacaiúnas.

De lá pra cá. Milton construiu seu nome como um dos  mais respeitados comunicadores da região, trabalhando no rádio e na televisão.

Ele é o nosso entrevistado desta semana, na sequência de entrevistas pautadas para comemorar os 10 anos do blog.

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Milton FariaPara iniciarmos, gostaria que você se apresentasse aos nossos seguidores. 

Nasci na cidade de Nova Lima em Minas Gerais  a 27 de fevereiro de 1947,  filho de uma costureira e de um pequeno comerciante do ramo de secos e molhados. Ambos já são falecidos e me ensinaram valores que sempre cultuei. Muito embora sendo um homem de pequena estatura física, eu fui motorista profissional durante alguns anos da minha vida. Dirigi carros de entrega urbana, taxi, ônibus e caminhões e depois fui para a estrada com veículos de maior porte até 1979,  e durante este tempo tive a oportunidade de conhecer vários estados deste enorme Brasil.

 

Como foi que surgiu a primeira oportunidade de fato para você trabalhar no rádio?

A oportunidade surgiu, quando meu afilhado de casamento, também caminhoneiro, me apresentou ao Sr. Antonio Jatene, em Castanhal, onde eu havia fixado residência. Antonio Jatene, em tom de brincadeira, disse que eu tinha uma boa voz e me convidou para fazer um teste na Rádio Modelo FM de Castanhal. Eu havia vendido meu caminhão e fiz o teste um pouco sem esperança de ser aproveitado.  Mas para minha surpresa, nesta mesma noite, eu comecei a apresentar um programa de 02 horas de duração logo depois do horário governamental da famosa e nacional Voz do Brasil. Eu havia tido uma passagem rápida como comentarista de notícias na extinta Rádio Jornal do Brasil, da Organização Ramos de Carvalho em Belo Horizonte e a paixão pelo rádio já era presente em minha vida.

 

Você procurou seguir algum estilo de radialistas famosos?

Acredito que todos se miram em algum exemplo e como desde os tempos de menino se ouviam as rádios famosas do Brasil, Radio Nacional, Rádio Mayrink Veiga, Rádio Tupi, no Rio de Janeiro – e rádios de Belo Horizonte,  como Radio Inconfidência, Guarani,  Itatiaia, Radio Mineira e tantas outras da época. Nomes  como Ralph Siqueira, Anderson Andrade, Jose Lino Souza Barros e Antonio Carlos (Radio Globo) entre outros tantos, com seus estilos fortes e vozes inesquecíveis, ajudaram a mostrar caminhos profissionais que sigo hoje.

 

Quais os programas de Rádio que você já fez, ou participou, que mais lhe agradou e que vem sempre a memória?

Noite Alegre (FM Modelo) Manhã Show ( Radio Rauland) e Show da Manhã, na Rádio Itacaiunas AM, que hoje na mesma emissora, se chama Show da Itacaiunas – programa que apresento de segunda à sexta feira de 08 ao meio dia, numa dobradinha com a colega Celia Campos que relembra um pouco a dupla da Rádio Nacional da Amazônia, Marcia Ferreira e Edelson Moura, mas claro, guardadas as devidas proporções. Me lembro sempre de tantas coisas e tantas emoções.

 

Como foi que você veio parar em Marabá?

Quando a Radio Rauland foi vendida para o Grupo Liberal em 1990, houveram mudanças e em algumas delas eu não me adaptei. Conversei então com o Guarani Junior, que era o diretor, e expliquei a ele que precisava de um tempo, tirar uns dias para descansar e pensar. Eu já estava na emissora desde 1981 sem férias, apresentava o programa da manhã a partir das 08 horas, saia ao meio dia e apresentava o Jornal do Meio Dia durante a semana e aos sábados, gravava o Samba, Sambão e Partido Alto –  isto sem falar nas externas que eram comuns. Era o ano de 1989 e eu havia recebido um convite do Nonato Cavalcante para compor a equipe da Marajoara, em Belém. Na realidade, não pretendia mesmo voltar para a Radio Rauland. Guarani Junior entendeu e eu acabei vindo a passeio a Marabá com um amigo, que pretendia abrir uma farmácia aqui ou em alguma cidade da região. Aqui em Marabá, ainda no hotel onde estava hospedado e ouvindo a Radio Itacaiunas, eu resolvi conhecer a emissora. Por uma destas coisas inexplicáveis do destino, encontrei então o Nilson Santos, que já era conhecido dos tempos de Castanhal. Em Marabá, ele apresentava, naquele momento, o programa policial Patrulha 850. O Nilson me apresentou ao já falecido Sr. Aziz Mutran dono da rádio e eu acabei contratado. Nunca mais voltei para a Rauland e nem fui para a Marajoara, embora cobrado pelo vibrante Nonato Cavalcante. Fiquei na Itacaiunas e tive então o prazer e a honra de compor a equipe daquele tempo, composta, entre outros, pelo Douglas Marques, Miguel Kasseb, Cleiton Palmeira, Edmar Brito, Domingos Cezar, Nilson Santos, Frank Souza, Wanderley Mota e o Hiroshi Bogéa, que naquele tempo era diretor da Rádio Itacaiunas. Foi um tempo inesquecível que deixou muitas saudades.

Do Rádio, você migrou para a TV, apresentando programas de jornalismo. Como foi essa migração?

Ao sair da Itacaiunas em 1994, o então proprietário da TV Bandeirante, hoje RBA, era o ex prefeito e medico cirurgião, Nagib Mutran Neto, hoje Secretario de Saúde do Munícipio de Marabá. Em conversa então com ele, com o Junior Mutran, homem de confiança de Nagib e com Jair Milhomem, ficou acertado que a emissora levaria ao ar um programa local e aí nasceu o Acontece, em 1994. Era um programa bem artesanal em que eu sentava num banquinho, colocava e tirava os óculos numa homenagem ao Flavio Cavalcante da Tupi e quando entrava o intervalo, dizia “ Nossos Comerciais, por favor” como dizia o próprio Flavio. Foi então uma experiência totalmente nova, mas que graças a Deus, deu muito certo. Mesmo depois que deixei a emissora, o programa continuou no ar por bastante tempo. Depois disto, foram 10 anos de SBT, 10 anos na Record Marabá e agora, desde setembro do ano passado, de volta ao SBT, que hoje pertence ao Grupo Correio de Comunicação, no Programa Fala Cidade entre 12:40 e 13:40 e na Rádio Itacaiunas com o programa Show da Itacaiunas de 08 às 12 ambos os programas de segunda à sexta feira. A estrutura oferecida hoje pelo Grupo Correio é moderníssima, tanto no radio como na TV, seja em Marabá, Curionópolis, Parauapebas, Canaã dos Carajás e São Felix do Xingu além de equipes de apoio como jornalistas, redatores, produtores, cinegrafistas, técnicos de som e todo o pessoal de apoio, que, juntos, propiciam a oportunidade de aprendizado e o desenvolvimento de um trabalho com qualidade.

 

Entre o Rádio e a TV, qual sua preferência, e por que?

Gosto dos dois pelas diferenças. A comunicação no rádio oferece a oportunidade para que o comunicador se envolva na narrativa, criando no radio-ouvinte, a possibilidade da compreensão dos fatos pelas palavras. A onda do rádio, cria laços de amizade e estimula a fantasia. Na TV, os fatos estão em imagens e a narrativa, apenas completa o que já é real na tela do televisor. Há esta diferença para quem faz e para quem ouve o rádio ou assiste a TV. Mas sou apaixonado por ambos, tanto pelo Rádio quanto pela TV.

O que você gostaria de fazer no Rádio ou na TV ainda não realizado?

No radio sou apaixonado pela narração esportiva, algo que não tenho talento para fazer e nem tentaria. Admiro mesmo os bons narradores e suas capacidades de transformar o jogo em um espetáculo. Na TV gostaria de ter um programa semanal ou quinzenal, viajando e mostrando coisas, costumes, estradas, a vida, as pescarias, as paisagens, os rios e pessoas. Gosto de ter novas experiências e conhecer gente simples e descomplicada, mas realizadora e inteligente. Gente educada e de bom papo, gente de boas estórias.

Como você se relaciona atualmente com a informação digital?

Me relaciono muito bem. Me lembro que há 20 anos passados se dizia que o futuro seria das mídias digitais e isto hoje é uma realidade. A partir de um smartphone ou de um tablet ou computador, você interage, cria, desenvolve, conhece, distribui e compartilha imagens, fatos e o cotidiano em qualquer parte do mundo e a coisa vai avançar muito e numa velocidade muito maior do que se pode imaginar. Mesmo a TV, não existiria como a conhecemos, sem a internet, os programas e as mídias de computador. Uma coisa não existe sem as outras. Velocidade de informação é a regra deste jogo da comunicação. O que ocorre em qualquer lugar do mundo, chega ao nosso conhecimento de uma forma vertiginosamente rápida.

Comparando o Rádio de 20 anos atrás com o que se faz hoje nos estúdios, o veículo evoluiu ou ocorreu retrocesso, em termos de qualidade de seus profissionais?

O Rádio vende sua mercadoria, ou seja, tempo. Em função disto, muitas vezes o talento acaba suprimido pela necessidade de faturamento, que é necessário para bancar custos que não são pequenos. Neste caso, muita gente sem talento e sem preparo, mas com alguma ideia que vende, acaba surgindo no cenário, enquanto outros, que são realmente talentosos e comunicativos, mas lhes falta conhecimento no mercado, acabam ficando à margem, sem oportunidade de trabalho. O Rádio de 20 anos passados também enfrentava estas questões, mas de uma forma muito menor, até porque a concorrência era menor, muito menor. O bom profissional surgia com mais facilidade. Quanto à evolução, ela é perceptível sim e com esta determinação governamental de migração de sinal das rádios AM para FM, ou seja, de amplitude modulada para frequência modulada, a qualidade das transmissões vai atrair ouvintes e anunciantes mais exigentes e um mercado que deve abrir muitas portas, mas que se tornará muito mais exigente.

O Jornalismo que se pratica em Marabá, em todos os veículos, está à altura do município? Falta alguma coisa para melhorar a atividade?

Em tese o jornalismo que se pratica nos veículos de Marabá, possui um bom nível de qualidade, mas está ainda bem longe do que seria o ideal. É claro que temos bons profissionais no mercado, gente com formação jornalística, experiência na área, boas fontes de informação, mas paralelamente ainda tem muita gente no meio de imprensa que devido ao fenômeno recente da internet, mistura muitas vezes informação com desinformação e não é raro desmentidos desagradáveis que prejudicam pessoas e fragilizam a credibilidade. Ainda é difícil para muitos, entender o que significa ter uma boa fonte e separar estas fontes, daquelas que apenas fomentam algo para aparecer e influenciar. Mas em parte, é compreensível que os veículos dependam desta mão de obra local porque ela oferece menor custo e os veículos, muitas vezes, acabam por aproveitar algum material que não teria muito sentido dentro de uma boa linha jornalístico, justamente por falta de uma mão de obra com melhor formação técnica e experiência. Para melhorar a atividade, a minha modesta opinião é de que é preciso que a ética, o poder de observação, a capacidade de narrativa e a dedicação à profissão cedam lugar às vaidades pessoais e prevaleça o compromisso que cada um de nós precisa ter com o publico.