Ainda na fase de “quarentena” voluntária, o blog segue em ritmo slow motion, enquanto são definidas as mudanças que este site sofrerá (leiam este post).

Há cerca de duas semanas, o blogueiro fez uma entrevista com o secretário de Educação de Marabá,  Pedro Souza (foto abaixo), inicialmente planejada para discutir o trabalho que a prefeitura vem realizando para equacionar  a folha salarial dos servidores.

Como o secretário pediu para não tratar da questão, em respeito as conversações com a categoria não finalizadas, o papo com ele enveredou para outros quesitos.

Durante a conversa, dá para observar o grau de conhecimento  exposto pelo secretário das carências do setor educacional do Município, e a gravidade do momento ante a  desproporcional folha salarial em relação ao que o município tem de recursos disponíveis.

Diante dessa questão de folha salarial, Pedro Souza define princípios e posição, sempre defendendo a valorização da categoria como um todo.

“É inadmissível a gente ver grande parte de nossos educadores injustamente colocados à margem do processo de valorização, enquanto uma minoria alardeia direitos que seus demais colegas não têm”, diz Pedro Souza, falando com a experiência que acumula também como protagonista,  ele que até 2011 trabalhava em  sala de aula como professor da rede pública.

“Para se obter uma educação coletiva, participativa, igualitária, de modo que abranja todos os protagonistas do setor, é preciso ser justo quanto a questão salarial. E o que está ocorrendo em Marabá, não contempla isso. Em resumo, a valorização da Educação tem que ser verdadeiramente para todos”, comenta o secretário.

Pedro fala o óbvio:  -“ Para se contemplar a categoria com bons salários –  sonho não apenas de quem pertence à classe, mas  também do secretário de Educação, é preciso de grana, recursos, dinheiro que não se destine apenas para pagar salários como também melhorar a infraestrutura de ensino, e isso, hoje, infelizmente, o que temos disponível não é suficiente”, reforça Souza.

A entrevista, definida inicialmente para ser postada quando da publicação do novo blog, está sendo antecipada – antes que parte do conteúdo perca consistência diante do dinamismo dos fatos.

Pedro Souza HB

 

 

Blog – Mesmo diante do embate sobre a folha salarial,  conflito que já se arrasta por meses, ninguém pode negar que a atual gestão do setor educacional de Marabá vem adotando  postura democrática no trato com a categoria, chegando, inclusive, a escancarar as portas da sede do órgão para atender os servidores. Fale um pouco sobre isso.

 

Pedro Souza –   A Semed, antes, a Semed sede, ela em determinados momentos sempre foi vista como um ponto de afronta, um ponto de medo, e era um local que não funcionava. Hoje não, hoje nós temos aqui uma equipe altamente qualificada, uma equipe muito boa, reconhecida até pela maioria da categoria. Eu trabalho com eles aqui muito a parte do relacionamento humano, tratar bem as pessoas. Quem vem à secretaria, quem procura a secretaria, vem sempre atrás de um sim, mas vai ter momento que ele vai receber um não. Só que esse “não”, ele tem que ser dito de uma forma educada, de uma forma humanizada. Então hoje qualquer um tem acesso ao secretário, eu recebo todas as pessoas. As escolas possuem três grupos de WhatsApp;  existe um grupo gestores da Cidade Nova e Velha Marabá, um grupo de gestores de São Félix e Morada Nova e um grupo da Zona Rural, e todo mundo conversa com todo mundo. O que acontece na educação hoje todo mundo fica sabendo porque eles postam nos grupos, há um diálogo permanente. O próprio prefeito participou desses grupos até o final do ano passado, mas por um problema de saúde ele teve que se afastar, mas ele também participava. Então há uma democratização muito grande na educação de Marabá. Todo mundo consegue falar com todo mundo. As denúncias que são feitas chegam pelos grupos de whatsApp, chegam pelo disk merenda, então há um ambiente democrático hoje na secretaria. Logicamente que a gente não consegue atender a todas as demandas, mas quando não consegue atender a gente explica o motivo, e a gente vai avançando. Os problemas na educação, eles nunca vão terminar, eles vão só se renovando, e o nosso papel é ir procurando alternativas para ir sanando esses problemas. Então a Semed sede, hoje graças a Deus, mesmo com esse problema que está havendo em relação ao pagamento, mas ela é vista de uma forma bem positiva pela maior parte da categoria.

Eu já visitei todas as comunidades, eu conheço todas as escolas do campo e urbanas, eu andei 5.700 km percurso de ida e volta, estrada de chão, quando eu assumi a secretaria. Eu conheço todas as escolas do município, então quando alguém chega para tratar comigo qualquer assunto, eu sei qual a escola que a pessoa está falando. Isso é muito bom, esse diálogo com as comunidades, tanto no núcleo urbano, quanto na zona rural. Eu já participo aí de mais de 200 reuniões de pais e mestres na escolas, o próprio secretário indo lá, conversando, ouvindo as problemáticas, ouvindo a comunidade. Porque uma coisa é você ouvir os servidores, a direção da escola, outra coisa é você conversar com os alunos, com os pais,  porque eles tem uma outra visão do processo. Então isso tem nos ajudado bastante na condução da educação de Marabá. O nosso grande problema é a falta de orçamento para folha. Esse problema aí que foi gerado desde 2000 até agora, que vem tirando nosso sono. Se a gente não tivesse esse problema orçamentário em relação a nossa folha de pagamento, a educação de Marabá estaria num patamar muito melhor do que ela está hoje. Isso atrapalha muito porque engessa, a gestão não pode avançar mais porque todo dinheiro vai para folha de pagamento. A gente sobrevive mais com o recurso que é próprio da merenda, com o salário da educação, que é um salariozinho em média R$ 400.000,00 por mês que chega e a gente investe nas obras e na climatização. Se a gente estivesse com o fôlego maior com certeza esse processo já teria avançado muito mais.

Secretário numa das reuniões com pais de alunos.
Secretário numa das reuniões com pais de alunos.

 

 Blog – A merenda escolar oferecida nas escolas de Marabá, recentemente, foi alvo de noticiário positivo em razão da participação da merendeira Julimar Oliveira Gomes, das Escola “Gabriel Pimenta, no Concurso Nacional Melhores Receitas da Alimentação Escola, quando a mesma chegou ao ciclos finais da premiação. Embora não tenha sido vencedora da competição, a representante marabaense simbolizou a qualidade da merenda ofertada nas escolas do Município. Uma avaliação sobre esse setor.

Pedro Souza  – Quando nós assumimos a secretaria em 2014, precisamente no dia 10 de abril de 2014, a merenda escolar era o maior problema da secretaria. A merenda não chegava com qualidade às escolas, não chegava a todas as escolas, havia um conflito muito grande. Então nós identificamos de imediatamente, até pela experiência que a gente já tinha, identificamos toda parte de logística deficiente, a distribuição, o próprio compromisso dos fornecedores. Então foram feitas reuniões com amplo debate sobre o problema, estabelecidos prazos e a gente conseguiu, no prazo de 30 dias, regularizar a questão –  e criamos um instrumento fantástico que nos auxilia até hoje que é o disk merenda, Existe um telefone fixo nas comunidades,  esse telefone é uma placa, através da qual os alunos, comunidade e servidores,  podem criticar, sugerir, denunciar, registrar qualquer assunto relativo a merenda. Hoje nós temos um cardápio com 67 itens,  cardápio riquíssimo de agrado dos alunos. Não temos problema de abastecimento, o recurso que vem a gente consegue gerenciar de uma forma que a prefeitura consiga atender a todas as escolas, tanto com os produtos estocáveis e os produtos perecíveis. Além disso, a gente utiliza 30% do recurso na agricultura familiar, fortalecendo os pequenos produtores aqui da região. 70% vai para o restante dos itens, e 30% do recurso estão destinados à Agricultura Familiar. Então, há muito tempo que a merenda deixou de ser problema aqui no município de Marabá, tanto é que no ano passado – como você lembrou – a nossa querida merendeira Julimar a foi classificada, em termo de Brasil, no concurso das melhores receitas.  Marabá ficou em evidência, não conseguiu chegar até a final, mas a gente avançou bastante na tabela de avaliação da premiação.  Esse é um dos frutos do trabalho que vem sendo feito nessa área. Existe ainda deficiências em relação aos espaços, as escolas foram construídas há muito tempo, a cozinha nem sempre é adequada, mas a gente vem aparelhando com fogão, com freezer, com geladeira, pra poder separar os alimentos estocados perecíveis e trabalhando no sentido de oferecer uma merenda com uma qualidade a altura da nossa população.

 

Blog –  Marabá foi um dos primeiros municípios do Pará que andou na frente em relação a essa questão da eleição direta para diretores de escolas municipais. Além desse  procedimento ter permitido o fim da politicagem dentro das escolas públicas, quais outros benefícios ele representa?

Pedro Souza –  A eleição direta, ela é um marco na educação do Pará para gestores escolares aqui em Marabá. Durante todo esse tempo, a gente foi dialogando com os segmentos que compõem a educação, com mecanismos de controle, que são os três conselhos: Conselho da Merenda, Conselho do FUNDEB, Conselho Municipal de Educação, e o próprio sindicato. A gente veio conversando no sentido de aperfeiçoando a lei. A lei foi criada, e toda lei no seu início apresenta alguns problemas, essa lei foi criada lá em 2013 e agente aperfeiçoou essa lei ano passado, passando pela Câmara Municipal, claro. A gente aumentou um pouco o grau de dificuldade e a qualificação também dos pretendentes. Então tudo isso foi feito ano passado, o processo transcorreu dentro da mais completa democracia, houve escolas em que nós tivemos até três chapas concorrentes, a maioria delas optou pela chapa única, também faz parte do processo democrático, mas a gente considera que é um avanço muito grande as lideranças deixarem de está indicando diretor de escola. Eu acho que quem tem que escolher o gestor da sua escola é a própria comunidade, então isso o prefeito João Salame acertou em cheio nesse ponto aí. E detalhe, depois dos diretores eleitos, muita gente criticava a mim e ao prefeito dizendo que a gente estava abrindo mão de prerrogativas políticas indicando esses diretores, e a gente percebe hoje que é ao contrário, a nossa ligação com os gestores eleitos, ela é muito mais eficiente, ela é muito mais positiva, muito mais eficaz do que quando eles eram indicados, então a gente não tem problema nenhum no relacionamento com esses gestores. A eleição direta foi um grande avanço na democracia nas escolas públicas no município de Marabá.

 

A qualidade do ensino, não depende só da gestão. (…) Depende dos professores, depende dos trabalhadores em geral da educação, depende da própria sociedade.

 

Blog –  Você tem feito um trabalho de articulação junto a órgãos como  universidades e  outras entidades ligadas ao Educação. Qual o objetivo disso?

Pedro Souza –  Por mais que a gente esteja aqui discutindo, discutindo nas redes sociais todos os nossos problemas, os avanços, a gente sempre precisa de um olhar externo para a Educação porque você dentro de um processo não consegue ter  uma visão global, e a própria sociedade exige que a educação esteja se renovando constantemente,  sempre se movimentando. Então é preciso buscar parcerias. As universidades trabalham com a formação da mão de obra, com a formação inicial do professores, então é importante você ter esse diálogo. Até na elaboração do curriculum nós já fizemos isso.  Ano passado, o curriculum de Marabá, ele tinha aí 10 anos, então já estava muita coisa ultrapassada. A  diretora de ensino do campus do IFPA teve uma participação muito importante, inclusive indo para zona rural, debatendo com as comunidades, isso foi muito importante. A Unifesspa agora vem contribuindo para reelaboração do curriculum escolar da zona urbana,  está sendo finalizado. E eles vem contribuindo de forma significativa, de forma efetiva para que a gente melhore a qualidade de ensino em Marabá. A qualidade do ensino, ela não depende só da gestão, ela depende de uma série de fatores, depende dos professores, depende dos trabalhadores em geral da educação, depende da própria sociedade. E esses segmentos estão nos ajudando bastante. A gente queria aproveitar para agradecer a participação do IFPA, da Unifesspa, o próprio MST tem contribuído bastante também na educação do campo, a Fetrap também. Portanto, a  gente vem fazendo todo um diálogo com esses grupos para que a gente consiga se aproximar o máximo daquilo que tanto o aluno do campo espera quanto o aluno dos núcleos urbanos esperam.

 

Blog – Há um esforço redobrado da Secretaria de Educação para construir o máximo possível de creches no munícipio de Marabá, considerando a ineficiência desse setor quando a atual gestão assumiu o governo. Quais os efeitos da inauguração das primeiras creches na aplicação do ensino para as crianças?

Pedro Souza –  Com  o advento da Educação Infantil passa a ser obrigatório a construção de creches. Em 100 anos, em 102 anos mais precisamente o município de Marabá construiu três creches. E agora, somente nesses dois anos, estamos construindo  22 creches,  um avanço muito grande em relação a educação infantil. E além disso, a gente não está só construindo creches, nós temos várias creches que estão funcionando em prédios alugados. Agora estão funcionando em prédios alugados, por quê? Porque as gestões anteriores não se preocuparam em construir escolas em Marabá. Marabá possui um déficit enorme em relação a construção de escolas. Até agora já entregamos onze obras, e  temos mais 51 obras em execução porque ficou-se muito tempo deixando o número de alunos crescer e o investimento na infraestrutura não aconteceu. Se preferiu dar abonos, em determinada época, pagar décimo quarto salário e não se investiu na construção desses espaços. E é o que a gente está sofrendo agora. Então a gente consegue até o final do ano, embora a União também esteja passando por um problema em relação ao orçamento  das creches. O volume de disponibilidade de recursos, ele diminuiu bastante, mas a gente vem dialogando. E aonde essas creches são entregues, as comunidades estão tendo um ganho significativo. Há relatos da direção das escolas de que a criança quando vem para creche, quando chega o final da aula, por volta de 11;30, ela não quer retornar pra casa, quer permanecer na creche. Porque é um ambiente agradável, é um ambiente climatizado, ela pode tomar banho duas vezes durante o período letivo. Então há um gosto por estar nesses espaços, e a gente espera conseguir terminar a construção dessas creches o mais rápido possível.

 

Blog –  Várias escolas já foram entregues na zona rural e algumas na zona urbana, fale um pouco sobre essas escolas e a qualidade dessas obras.

Pedro Souza –  No governo João Salame, nós estamos chegando já praticamente a 60 obras na área educacional, em apenas três anos, o que não é pouco. Ninguém construiu tanto na zona urbana como nós estamos construindo. Estamos construindo, ampliando, reformando e isso é muito importante. E nós temos um padrão das nossas escolas. Tanto na construção, na ampliação ou na reforma, elas sempre estão sendo entregues para as comunidades com um padrão de qualidade elevadíssimo, e melhor que isso, climatizadas. Nós já entregamos essas escolas climatizadas para que a comunidade, tanto o trabalhador da educação quanto os alunos, eles possam estar em ambiente muito mais agradável. E a gente percebe que os índices dessas escolas climatizadas, eles tendem a ir melhorando devagarinho porque o ambiente fica muito mais agradável, tanto para se trabalhar, quanto para se estudar. Aumentamos um pouco o gasto da energia, praticamente mais do que dobramos, estamos chegando perto de triplicar o gasto com energia. Essa energia, ela teve seu aumento natural do período, mas com essa climatização também você eleva o gasto da energia. Mas o prefeito João Salame está trabalhando, me cobrando bastante para que a gente consiga avançar muito em relação a isso.

 

Blog – Você falou em climatização. As salas estão sendo climatizadas apenas nas novas escolas, ou as antigas também recebem o benefício?

Pedro Souza  –  Nós já ultrapassamos 400 salas climatizadas, tanto na zona urbana, quanto na zona rural. A climatização ela ocorre em todos os momentos, tanto na reforma, ampliação e na construção, como nós estamos climatizando também as escolas que não estão passando por esse processo. Agora chegou mais um recurso da ordem de R$550.000,00, que vai dá em torno de umas 250 centrais de ar. Mas fora isso, usaremos recursos próprios também para adquirir mais aparelhos,  porque nós precisamos chegar ao final do ano com o maior número possível de escolas climatizadas. Então a gente calcula que devemos  ultrapassar,  e muito! -,  50% das escolas do município climatizadas até o final do ano. E quando você vai climatizar, principalmente os prédios antigos, não é só climatização. Você gasta também com a subestação, que sai em torno de R$70.000,00.  A rede Celpa está nos ajudando bastante porque,  por lei,  até 74 KVA,  a Celpa é obrigada a fornecer o transformador, a subestação, então ela vem fazendo isso. E quando a escola é muito grande, a secretaria adquire essa subestação, e além dessa subestação tem todo o serviço de cabeamento e troca de fiação interna, que os prédios antigos não são adaptados, apropriados para a climatização. Então tudo isso vem ocorrendo e o gasto é elevadíssimo. Mas como é uma determinação do prefeito, a gente vem fazendo isso de forma gradativa dentro do município.

 

Blog-  Qual é tua expectativa em relação ao futuro da educação em Marabá seguindo essas diretrizes que estão sendo adotadas hoje?

Pedro Souza –  Olha, eu vejo um futuro muito promissor, eu vejo um futuro brilhante, eu acho que os próximos governantes de Marabá não poderão mais recuar em relação a esses investimentos implementados  na área da infraestrutura, a parte de climatização. Prefeito Salame sendo reeleito, nós certamente atingiremos r 100% das escolas climatizadas.