Dezembro de 1981.

Thiago tinha quatro anos de idade, mas já me acompanhava em tudo que se referia a Nação Flamenguista – num tempo em que eu respirava futebol dentro e fora de campo.

Meus hábitos da época foram logo assimilados pelo primeiro filho.

Bastava eu vestir uma camisa do Flamengo, lá vinha ele exigir que a sua também lhe fosse colocada.

Quando ligava o rádio para sintonizar a Globo AM-Rio (Ondas Médias) para acompanhar treinos e jogos do Mengão, Thiago sentava sobre meu corpo, na rede, onde eu estava com o receptor ao lado, querendo saber tudo o que os locutores informavam.

Perguntava mais do que ouvia.

Meu filho cresceu adquirindo esses hábitos de flamenguista apaixonado.

Gritava o nome de Zico tão logo começavam os jogos, tudo transmitido pelas Ondas Médias da Globo, Waldir Amaral, José Carlos Araújo, Kleber Leite( repórter de campo), esse time.

Televisão transmitia jogos raramente, aos domingos.

E, no fundo, eu gostava mais de ouvir o rádio, sempre gostei de rádio daquela época.

Quando o Mengão derrotou o Liverpool por 3 X 0, em Tóquio, assistimos ao jogo na chácara de um amigo médico, Dr. Rui Flexa, em Imperatriz.

Três horas da madrugada, Thiago com pouco mais de quatro anos, vestido a caráter, chorando agarrado a mim tão logo Nunes fez o terceiro gol (o segundo dele; Adílio marcou o segundo)

Nunes, Adílio e Nunes, com show de Zico.

A meninice e parte da vida adolescente de Thiago foram adornados pelos encantos de Zico jogando no Flamengo.

Nenhum jogador envolveu tanto ele quanto Zico.

Passados 30 anos daquele memorável dezembro de 1981, Thiago e Paloma, sua esposa, passeiam pelo Rio de Janeiro, esses dias.

Numa loja da Armani, na Barra, onde o casal adentrou para o marido comprar um terno, eis que de um dos provadores sai Zico, que provava uns modelos de terno.

Thiago, claro, se espanta ao vê-lo, e brinca com o ídolo.

– Parece que está apertado, Zico!

O “galinho” sorri e responde que já era o terceiro terno que ele provava.

Os dois ficam ali, pegando tamanhos diferentes de terno, afinando a conversa.

Thiago fala que é do Pará.

-Recentemente, estive no Pará duas vezes, estou agora programando nova viagem. Estive em Altamira, Marabá…

Quando Thiago responde que tem família na cidade paraense, Zico fala de seus negócios, da Escola Zico, e que estaria novamente em Belém.

Parece que o “Galinho” gostou da conversa, ficou dando pitacos no terno escolhido por Thiago, que logo apresenta Paloma ao ídolo.

Lembrando ao “Galinho” dessas passagens da vida dele quando menino que narrei acima, Zico se mostra emocionado e diz que sua vida, hoje, tem sido assim, de garotos hoje homens e pai de família, revelando-lhes, por onde anda, o que ele representou como exemplo a uma geração.

Ao final, Zico se despede e troca número de celulares com Thiago, insinuando não perderem contatos.

A narrativa acima espelha tom ilustrativo de como a vida é bela, surpreendente em suas inesperadas surpresas.

Alguém passa parte de sua vida idolatrando personalidades sem, jamais, pensar na possibilidade, um dia, de vê-las, pessoalmente.

Do nada, como num gesto de mágica, eis que lembranças gostosas da infância se consolidam em algo real, tetê-a-tete, criando um momento de autêntica forma de felicidade.

Na foto, o encontro de Thiago e Paloma, com Zico. Observem como o terno que ele provava ainda está com a etiqueta pregada.

Abaixo, os três gols do Flamengo contra o Liverpool, em Tóquio.