Estamos todos muitos próximos daquele momento invisível que separa um ano do outro.

O instante mágico em que são erguidos os copos, em que um lábio é premido contra o outro, em que os corpos se encontram num abraço.

Ao cruzar a linha imaginária que separa o velho do pseudonovo, continuaremos carregando as nossas aflições pessoais. Agora mesmo, nesse exato átimo de segundo, enquanto você separa uma roupa elegante para festejar o recomeço da vida, alguém pode estar saltando do décimo andar por considerar que não vale mais a pena.

No âmbito privado, as neuroses serão as mesmas.

A despeito da virada do relógio, não desaparecerão as calvas à procura de perucas, as barrigas espetadas à cata da dieta ideal, os estômagos ermos correndo atrás do prato de sopa, os peitos pequenos em busca do silicone, os peitos grandes sonhando com o bisturi…

Na esfera pública, os dramas também serão os mesmos. Inocentes culpados. Culpados inocentes. Espertos superados pelos mais espertos. Cofres sitiados. Gestores ineptos. Contribuintes indefesos.

Mas não há de ser nada.

O que seria da esperança se não existisse o desespero? Assim, sem perder de vista o fato de que o passar dos anos sempre rouba-nos algo, o importante, diria Pope (1688-1744), é tentar impedir que o tempo nos roube de nós mesmos.

Vá em frente. Solte os seus fogos.

 

Feliz 2012, leitores amigos!