– Hoje tem espetáculo?


– Tem, sim senhor!

Os três palhaços em pernas de pau à frente, e a meninada atrás, gritando.

Mais adiante, num pequeno espaço de mais ou menos 20 x 15 metros, a lona velha e furada denuncia a presença de um circo.

Pequeno amontoado de artistas mambembes tentando sobreviver, ainda, fazendo espetáculos por esse Brasil cada dia mais apaixonante.

Uma parada no carro à beira da pista, vidros devidamente baixados para ouvir o som sem qualquer equalização, da meninada em festa.

O locutor convida a população de Floresta do Araguaia para se divertir com as brincadeiras de Biribinha, Mixaria e Mixuruca, os três palhaços protagonistas do espetáculo, que seguem à frente fazendo pilhérias e galhofas, floreadas por música alegre e muita animação.

Forte nostalgia domina o ambiente.

Saudades dos tempos de menino nas ruas de Marabá correndo atrás dos palhaços dos circos visitantes. Pura emoção e adrenalina a mil.

Numa rua paralela à principal por onde passa a caravana da alegria rumo ao centro da cidade, a TV ligada, dentro de uma casa, concentra a atenção de algumas pessoas na calçada assistindo a novela da tarde, indiferentes à felicidade juvenil dos seguidores de palhaços.

Dois mundos distintos.

O circo real. E o eletrônico.

Por causa do segundo, o primeiro está desaparecendo.

Ainda sobrevivem, aqueles sem outra opção para tocar.

De dentro do carro,vemos palhaços e a meninada dobrando a esquina, com o som da algazarra perdendo intensidade.

Amalgamado no íntimo, luzes inquietas e a colossal magia das recordações circenses, dominam pensamentos

Lúdicas reminiscências da infância, ledas fantasias vividas um pouco antes das peripécias digitais da novíssima geração joystick.

Vivas fantasias vez por outra soprando intensamente.

A vida… espetáculo real, diário.

E hoje, tem espetáculo?

– Tem, sim senhor!

– E amanhã?

– Tem, sim senhor!

O script há de continuar;

O sonho não pode parar.