Seis, de nove grevistas,  unidos, contra a radicalização do prefeito  Osvaldo
Seis, de nove grevistas, unidos, contra a radicalização do prefeito Osvaldo

 

Para ver de perto a situação de nove professores em greve de fome há mais de 72 horas, desembarca em Xinguara, nesta sexta-feira, comissão formada pelos deputados estaduais  Edmilson Rodrigues, Nilma Lima, Chico da Pesca e Zé Francisco.

Parlamentares tentarão abrir um canal de diálogo dos grevistas com a prefeitura do município, cujo prefeito Osvaldo Assunção, do PMDB, nega-se a conversar com a classe, sem acenar com qualquer tipo de atendimento às reivindicações dos educadores.

O clima na cidade é de apreensão, já que os nove grevistas, há mais de três dias consumindo apenas líquidos, passaram a apresentar sintomas de desgaste  físico – e como não há clima de distensão entre o prefeito e os manifestantes, a tendência é que a greve perdure por dias.

Greve Xinguara Professores 3

Uma decisão  precipitada do promotor de Justiça de Xinguara, Renato Beline, recomendando à prefeitura o corte de pontos dos grevistas, contratação de substituição – radicalizou de vez.

Radicalização não se originou unicamente da  recomendação do promotor, mas por trazer, no bojo da decisão, manifestações anteriores da Justiça, negando pedido de liminar para decretação da ilegalidade da greve.

O juiz local e, depois, o desembargador Ricardo Ferreira Nunes, negaram o pedido – reconhecendo a legalidade da greve.

Nesta quinta-feira, há informação de uma reunião, na sede do Ministério Público Estadual, para analisar o comportamento do promotor Roberto Beline.

Grevista faz limpeza da calçada onde os manifestantes acampam, em frente ao Ministério Público
Grevista faz limpeza da calçada onde os manifestantes acampam, em frente ao Ministério Público

O clima também ganha tensionamento  devido a ação de  seguranças,  supostamente contratados pela prefeitura de Xinguara, à porta das escolas municipais, usando câmeras fotográfica e de filmagem, para constranger os professores.

Falando instantes atrás com o blogger, pelo telefone,  professora Ana Marques, uma das coordenadoras do movimento, diz que o grupo está decidido a ir até as últimas consequências.

“Estamos firmes, embora sentindo os efeitos do desgaste físico pela não ingerência de alimentos sólidos, mas decididas a continuar a luta, enfrentando autoridades insensíveis aos problemas dos educadores de Xinguara”, disse Ana.

A greve de fome permanecerá.

Os riscos da greve

Para saber os efeitos no organismo de uma greve de fome prolongada, o blog ouviu, esta manhã, pelo telefone,   a endocrinologista Mary Radominski,  de Belém.

Relatando o que podem estar sentindo os grevistas de Xinguara, a especialista informa que “normalmente, o estômago dá sinais de insatisfação após poucas horas sem comida. Imagine, então, ficar  mais de cinco dias sem comer”.

À pergunta de quanto tempo o ser humano pode se manter sem comida, a endocrinologista informa  depender de diversos fatores.  

A  sobrevivência sem alimento varia conforme o estado nutricional do indivíduo.

“Após quatro dias, um indivíduo de peso normal já começa a se debilitar se ficar totalmente em jejum”, explica.

A médica esclarece ainda que a reserva energética que cada um tem, ou seja, a reserva de gordura, é importante para a sobrevivência nesses casos. “Uma pessoa com excesso de gordura corporal precisará inicialmente apenas de água para sobreviver, enquanto uma pessoa magra ficará sem energia para suas funções celulares muito antes e, mesmo com água, morrerá mais cedo”, justifica.

A endocrinologista  explica que, ao ficar sem comida por um período prolongado, o corpo apresenta sintomas de desnutrição, como emagrecimento, hipotensão e perda de eletrólitos, o que pode causar arritmias cardíacas, redução das proteínas e diminuição do tamanho dos órgãos – incluindo o cérebro -, torpor e, por fim, a morte.

“Se a pessoa não tomar pelo menos líquidos, a evolução é muito mais rápida: há desidratação, parada de funcionamento dos rins, queda da pressão, arritmias cardíacas, falência dos órgãos e a morte”, acrescenta.

Em Xinguara, os nove manifestantes consomem água, água de coco e chá sem açucar.

Greve de fome
A greve de fome é uma das principais estratégias de resistência pacífica utilizada por prisioneiros políticos, líderes religiosos e ativistas de todo o mundo.

Um dos casos mais conhecidos é o do famoso líder político Mahatma Gandhi.

Em maio de 1933, ele principiou uma greve de fome em protesto à opressão britânica contra a Índia. Assim, Gandhi permaneceu por 21 dias em total privação de comida e com apenas alguns goles de água.

Os direitos dos animais também foram defendidos dessa forma.

Em 1998, o ativista Barry Horne, cumprindo pena de 18 anos por posicionar dispositivos incendiários em lojas que vendiam casacos de pele, deu início a sua terceira greve de fome. Após 49 dias sem comida, ele precisou ser levado ao hospital para ser monitorado.

O protesto deixou Barry com danos nos rins e problemas de visão.

Em 2001, durante sua quarta greve de fome, o ativista faleceu em decorrência de uma insuficiência hepática.