As cidades acham-se saturadas por uma frota que aumenta exponencialmente, na medida em que os veículos se tornam acessíveis a camadas menos favorecidas da população. Os habitantes das grandes cidades do Pará, principalmente Belém, Ananindeua, Santarém e Marabá padecem de um mal ainda em seu estágio precoce. É de se esperar dias piores. As concessionárias jogam nas ruas carros aos montes sem que haja um planejamento urbano e viário capaz de absorver esta nova grande demanda.

Em curto prazo, diz Anísio Simbaúba, engenheiro de tráfego consultor do Conselho Nacional de Trânsito, de passagem pela Região Norte recolhendo dados para estudos encomendados pelo governo federal, a saída é o alargamento de vias públicas, “mas isso requer muito dinheiro”. Sem a participação tripartite (Municípios, Estados e Brasília), dificilmente os grandes centros serão descongestionados.

Anísio Simbaúba explica que propostas como o Binário, defendido pela prefeitura de Belém, “pode ser uma saída, caso haja uma redistribuição das linhas de ônibus urbanas”.

Das quatro cidades visitadas por ele, Belém e Marabá lhe causaram impacto visual e preocupação com o futuro. “Assusta ver a quantidade de carros circulando nas duas cidades com ruas de menos”, disse.

O consultor informa que os futuros prefeitos dos grandes municípios paraenses necessitam passar por um processo de “capacitação técnica” a fim de entenderem a complexidade do sistema viário urbano, priorizando recursos nessa direção, com projetos simples, inteligentes e de imediata aplicação.

No rápido bate-papo com o blogger, Simbaúba diz conhecer dois exemplos opostos de modelos urbanos, “ambos muito impressionantes”: as cidade de Palmas, capital de Tocantins, e Brasília.
Segundo ele, com apenas vinte anos de idade, Palmas segue um modelo sob medida para o automóvel. Só com um detalhe: desconsiderando a escala da pessoa humana, suas possibilidades e necessidades de deslocamento, as imensas avenidas da cidade “são desertos de asfalto, entremeadas por extensos gramados com ilhas de escombros paisagísticos atestando falta de critérios e de planejamento”.

Na visão do consultor, a eliminação da paisagem dos cerrados pré-existentes foi um grave erro, porque se tentou importar modelos adotados no sudeste do País. “Não há prefeitura que possa ter capacidade de manutenção de um sistema tão equivocadamente concebido”, atesta.
Brasília, em outro extremo, com a mesma proposta viária, já se encontra saturada após meio século de existência. “Tornou-se um tormento circular pelo Plano Piloto, em razão das deformações, improvisações e medidas improfícuas que, longe de resolver, agravam o problema ao incentivar mais e mais a circulação de veículos”.