Urubus

Em 1989,  Joãosinho Trinta, nosso maranhense famoso que revolucionou o carnaval carioca,   deu um tapa na cara dos críticos ao colocar na avenida um desfile revolucionário, diferente de tudo o que já tinha sido realizado até então.

O antológico “Ratos e urubus, larguem minha fantasia”, quando a Sapucaí foi invadida por uma turba de excluídos, mendigos, meninos de rua e desocupados, regidos com maestria ao som do empolgante samba-enredo interpretado magistralmente por Neguinho da Beija-Flor.

Foi uma verdadeira catarse coletiva, de proporções épicas.

Ainda que a catarse coletiva de proporções épicas do desfile daquele ano não tenha dado o título para a Beija-Flor, pouco importa.

Foi uma apresentação de gala que fez história.

O carro alegórico “Cristo Mendigo” foi censurado por ser considerado ofensivo à Igreja e, numa sacada criativa, totalmente coberto com um plástico preto, com uma faixa com os seguintes dizeres: “Mesmo proibido, olhai por nós!”

Lendo um post do  repórter Carlos Mendes, no qual ele denuncia o suposto desvio de cestas básicas em Barcarena, alimentos que seriam destinados às vítimas da tragédia que domina a cidade desde o afundamento de um navio com quase cinco mil bois, a gente há de convir  não termos ainda nos livrados de  urubus e ratos explorando a boa fé de brasileiros pobres.

A barbárie social alimentada pela classe política de pior índole.

Confirmadas as denúncias de Carlos Mendes, haveria alguma autoridade corajosa o suficiente para seguir os passos dos carcarás que atuam em Barcarena?

Ou tudo ficará mesmo à base do samba de rua?

 

“Sai do lixo a pobreza
Euforia que consome
Se ficar o rato pega
Se cair urubu come”