Amazônia: Urbanização, desmatamentos e queimadas.

Prof. Dr. Manoel Alves da Silva – Dr. em Ciências Sócio Ambientais

Dornélio Silva – Mestre em Ciências políticas

 

 

A imprensa internacional, nacional e local, trazem matérias, imagens aéreas, terrestres, depoimentos, entrevistas, com autoridades politicas, cientistas, políticos, com a população local, internacional sobre as QUEIMADAS E DESMATAMENTO na AMAZÔNIA (agosto de 2019): “A floresta está em chamas”. “A Amazônia está em Chamas”. “A Floresta está sendo destruída”. “A humanidade sofre com as consequências das queimadas”. “A Amazônia é o pulmão do mundo, é patrimônio da humanidade”. São algumas das manchetes, ou reportagens especiais produzidas nos últimos dias.

Nas redes sociais vemos as opiniões divididas, formando grupos em defesa, e grupos de ataques aos diferentes argumentos e informações, a favor e contra. Temas como a “Internacionalização da Amazônia”, “Soberania Nacional”, “Direitos de outros países sobre a gestão da Amazônia”, “A responsabilidade dos governos Federal, estadual, das ONGs ambientalistas, dos fazendeiros sobre o que está ocorrendo”. Afinal quem é o responsável, ou os responsáveis pela conservação da Amazônia?

Pesquisa realizada no dia 24 de agosto foi atrás dessas respostas, ou melhor, de algumas dessas respostas, através de um questionário fechado, disponibilizado, via internet, por meio do whatsap e facebook, com uma amostra de 1.028 pessoas,  distribuída no território do estado do Pará. A pesquisa foi realizada pelo instituto Doxa que utilizou o programa de coleta QuestionPro.  Teve o objetivo de detectar a percepção da população do Pará sobre o tema “Desmatamento e Queimadas na Amazônia”.

De acordo com os dados obtidos na pesquisa o poder de decisão sobre a Amazônia é do povo brasileiro que obteve um percentual de 50,9%; enquanto que Governo Federal garantiu uma incidência de 46,5% das citações na pesquisa. São as mulheres que atribuem ao povo brasileiro o protagonismo das decisões sobre a Amazônia, 53,7%. Na mesma direção, na opinião dos que participaram das pesquisas, os países estrangeiros não têm direitos sobre Amazônia, 87,3%.  Por outro lado, a responsabilidade pelo que está acontecendo (desmatamento e queimadas) é de todos: O governo federal, 23,7%; os fazendeiros, 23,2%; o governo do estado, 18,9%; as ONGs ambientalistas, 18,6%; e os políticos, 14,0%.

Um aspecto interessante é o fato de que a maioria acredita que quem tem poder sobre a Amazônia é o povo brasileiro, 50,9 e o Governo Federal, 46,5%. A ONU é citada por apenas 1,9% dos entrevistados; enquanto que as ONGs Ambientalistas por apenas 0,7%.

        Fonte: Pesquisa campo Doxa/24 agosto 2019

                                           

Em sua opinião os países da Europa têm direitos sobre a Amazônia? Para 87,3 dos entrevistados, Não tem direitos. No entanto, 9,3%, disseram que Sim, os países da Europa têm direitos sobre a Amazônia. Um índice aparentemente baixo, mas, por outro lado, significativo dentro dessa conjuntura que estamos vivenciando no momento. E, ainda, tivemos um percentual de 3,4% que não souberam responder, o que chama a atenção, tendo em vista uma pergunta simples, com apenas três alternativas de respostas, mostrando a dúvida do povo paraense em relação ao tema.

Fonte: Pesquisa campo Doxa/24 agosto 2019

Quando se analisa pelas variáveis de perfil, verificamos que entre os gêneros, os posicionamentos ficam bem distribuídos, sendo  87, 6% homens e 86,6% mulheres que afirmam que os países da Europa não tem direitos sobre a Amazônia. Quando observamos por faixa etária percebemos que é uma posição consolidada seja entre os jovens, 90,9%; adultos, 84,6%; e idosos,  97, % que acreditam que a Europa não em direitos sobre a Amazônia.

Você acha que o desmatamento na Amazônia aumentou ou diminuiu? Para 53% dos entrevistados o desmatamento aumentou contra 35,4% que consideram que diminuiu. Dos que acreditam que aumentou o maior registro está no grupo feminino, 65,9%; enquanto dos homens 47,3% disseram que aumentou.

Fonte: Pesquisa campo Doxa/24 agosto 2019

 

Quando a pergunta é: “Quem tem responsabilidade no desmatamento e nas queimadas na Amazônia?” a pesquisa mostra um equilíbrio de responsabilidades, vejamos: O governo federal, 23,7%; os fazendeiros, 23,2%; o governo do estado; 18,9%; as ONGs ambientalistas, 18,6%; os políticos 14,0%.

Fonte: Pesquisa campo Doxa/24 agosto 2019

 

“A política ambientalista do governo Bolsonaro vai conseguir frear o desmatamento e as queimadas?” A metade dos entrevistados, 50,0%, acredita que o governo Bolsonaro vai conseguir frear. Nesse caso são os homens que tem mais confiança na politica do governo 54,3%, acompanhados por 40,2% de mulheres.  São os adultos, 48,9% (35 a  44 anos); 49% (45 a 59 anos) e idosos os que mais confiam na politica ambiental do governo.

Para 31,0% dos entrevistados, o governo Bolsonaro não tem política ambientalista. São os jovens 54, 5%, na faixa etárias 16 a 24 anos, e 55, 6%, 25 a 34 anos que demonstram mais ceticismo em relação a ação do governo. Segundo 17,5% , a politica ambiental do governo não terá êxito.

Fonte: Pesquisa campo Doxa/24 agosto 2019

Em síntese o discurso de internacionalização da amazônica, abrindo espaço para ações politicas de intervenções não tem o apoio. E a politica ambiental do governo ainda tem apoio, ou expectativa positiva quanto ao combate ao desmatamento e as queimadas. No entanto todos têm responsabilidades.

Os dados sugerem uma politica ambiental integrada, com nova governança, envolvendo todos os setores, inclusive o setor produtivo. Desmitifica a tentativa de atribuir resposnabilidade apenas ao governo federal.

Diante das respostas obtidas nessa pesquisa cabem algumas perguntas: Quando você ouve a palavra Amazônia, o que vem na sua memória? Qual a imagem que melhor representa Amazônia para você?

Mas de qual Amazônia estamos falando? Da Amazônia brasileira, no caso da Amazônia legal? Ou da Pan Amazônia? Da Amazônia Floresta, dos recursos naturais, dos recursos hídricos, da fauna, da flora, da biodiversidade, do patrimônio material e/ou imaterial amazônico? Estamos falando das populações tradicionais: Índios, quilombolas, pescadores, extrativistas? Ou das populações urbanas, das cidades urbanas ou dos quilombos? Estamos falando das atividades extrativistas, ou da mineração do agronegócio, da pecuária, do garimpo, do coméercio, dos viadutos, dos shopping center?

A Amazônia não é só floresta. Não adianta os países europeus ignorarem, as organizações não governamentais ambientalistas protestarem ou denunciarem. A população urbana na Amazônia é fato.  Não adianta serem contra abertura e asfaltamento de estradas, por que lá moram pessoas que precisam se deslocar. Tem direito a mobilidade urbana. Nas mentes dessas populações estão o imaginário urbano de consumo e produção.

Assim como o Belga, Sueco, Suíço, Finlandês, Norueguês, Frances, o Finlandês possuem suas construções simbólicas urbanas, as populações das cidades na Amazônia possuem as suas demandas urbanas. Não se trata de criar um antagonismo irreconciliável entre as populações tradicionais e as populações urbanas. Mas sim de criar uma cultura de sustentabilidade, na qual as cidades cuidem das florestas. Um sentimento de pertencimento.

Ignorar esse mosaico de realidades é fazer uma opção pela continuidade dos desmatamentos ilegais e das queimadas ilegais. O G7 e outros países querem apoiar medidas contra o desmatamento, as queimadas e as populações tradicionais. Mas na Amazônia são aproximadamente 30 milhões de habitantes, sendo que 80% estão em áreas urbanas, sem estruturas de urbanização, distribuídos em nove (9) estados. Estados que apresentam os piores índices sociais e econômicos, vivem sem água, sem esgoto sanitário, sem drenagem de águas pluviais, gestão de resíduos.

Os desmatamentos e as queimadas registrados nesse agosto de 2019 na Amazônia brasileira demonstram a ação organizada do crime, a desarticulação dos entes federativos: União, estados e municípios. Nessa questão toda estão envolvidos os interesses internacionais na Amazônia relacionados ao comércio internacional, envolvendo as atividades econômicas da Amazônia, e os serviços e produtos da floresta. Soma-se a isso a importância geopolítica da Amazônia, com o debate sobre soberania e internacionalização. É fundamental garantir a legalidade e combate ao crime; garantir a segurança jurídica aos produtores e populações tradicionais e urbanas; viabilizar  uma ação unificada do Estado, por meio dos órgão de repressão, assim como  viabilizar técnicas que possibilitem  práticas sustentáveis  na pecuária, agronegócio, mineração. Com cidades urbanizadas é possível que, assim, floresta e cidades se protejam sinergicamente.