Na tarde desta quarta-feira, 24, o blogueiro se deliciou lendo uma bela crônica do jornalista Nélio Palheta, na qual ele descreve os festejos de São João realizados  pela sua mãe, ao longo dos anos.

O texto eleva o espírito daqueles interioranos, como Nélio e este blogueiro – amantes dos festejos tradicionais.

O São João da mãe de Nélio , não foi realizado este ano em razão lógica do coronavírus,  mas o competente jornalista registrou o feito.

Maravilha!

Leiam o texto abaixo, na íntegra, com publicação de algumas fotos do arquivo de Palheta.

Ninguém tem duvida, o coronavírus impôs mudanças de comportamento e interferiu na história de comunidades, em tradições de famílias.

Pela primeira vez em 52 anos, hoje não haverá a Festa de São João da casa da mamãe, em Vigia. A celebração começo quando papai ganhou uma imagem de São João Batista, da sua tia Maria Domingas, em 1968.

A ladainha do santo começou com todas as tradições agregadas e nunca mais deixou de acontecer.

Nem por duas oportunidades, quando mamãe esteve doente em Belém – levou-se a imagem do santo para a capital com tudo que tinha direito.

É uma festa cheia de detalhes. Certo ano, levei as netas, ainda crianças. Sofia respondeu-me que só não havia gostado “daquela parte que repete, repete, repete!” – a ladainha, oração na forma de curtas invocações a Deus, a Jesus Cristo, à Virgem, aos santos.

Mãe de Nélio Palheta e as tias Nazaré e Maria das Neves (2018)

Falação fastidiosa que  repisa as mesmas  frases,  longas e cansativa;  monótonos apelos fervorosos. Tradição da Igreja que precisa, nem que seja por cultura do catolicismo popular, deve ser mantida.

Nos últimos anos, fui encarregado das boas-vindas aos convidados, e da leitura do evangelho, uma novidade adotada recentemente.

A ladainha de São João na casa da mamãe foi sempre uma festa a reunir parentes e amigos.  Em 2012, o amigo fotógrafo Luiz Braga foi um deles. Dias atrás ele me mandou uma foto bacana daquela festa.

Entre comadres remanescentes da mamãe, sempre se destacaram as cantoras da ladainha, que há cada ano são menos numerosas, algumas ausentes para sempre.

A fogueira sumiu por questão de segurança, regra que há décadas suprimiu do céu os balões de papel de seda que alegravam as noites juninas da minha infância; “cordão de pássaro” não existe mais; talvez o boi-bumbá resista e o carimbó insista batendo.

O cardápio de comidinhas persiste, embora uma lasanha e um “escondidinho” pareçam intrusos entre mingau, tacacá, vatapá, caruru, bolo de macaxeira.

Espero que antes de este ano dramático de pandemia acabar, possamos fazer um “São João fora de época”. A tradição exige. A história continuará escrevendo inexoráveis capítulos, apesar de um vírus.

 

Nélio Palheta – 24/6/2020