Com o acentuado crescimento econômico que o Brasil vem experimentando nos últimos anos, é comum conversarmos com empresários que aumentarão seu faturamento e estão se perguntando sobre a melhor opção tributária para suas organizações.

O questionamento se vale ou não apena optar pelo Lucro Real é inexorável à medida que uma organização cresce. Mas como saber se chegou a hora?

Vamos começar instigando o empresário a fazer um simples teste, vendo se é capaz de responder rapidamente a algumas perguntas:

Você sabe qual é o seu lucro?

Você sabe qual é a sua margem de contribuição?

Você é capaz de detalhar os Custos Fixos e Variáveis de seu processo produtivo?

Você é capaz de responder, qual o custo do seu estoque de Matéria Prima e produtos acabados?

Você sabe quais os índices de liquides (imediata, seca e geral) de sua empresa?

Sua empresa tem condição de continuar crescendo no ritmo atual com os controles financeiros e existentes hoje?

Se você não conseguiu responder a estas perguntas, não se assuste. Geralmente, existem exceções.

Somente as empresas que operam com Lucro Real conseguem responder a essas questões. Mas por que? É  justamente esta a intenção de nossa abordagem:  precisamos ter consciência de tudo o que envolve a mudança para esta opção tributária, que vai muito além do contador.

Após tomada a decisão de transição para o Lucro Real, é preciso seguir algumas etapas para que isso possa surtir o efeito desejado.

O primeiro passo é a escolha de um “sistema de gestão integrado”. Para isso, seguem alguns parâmetros fundamentais:

 a)      Existem empresas de software que possuem expertise em determinados setores, procure saber quem atende aos líderes de mercado.

b)      Certifique-se que banco de dados o sistema escolhido utiliza, são poucos os bancos de dados referência no mercado.

c)      Veja como funciona o processo de implantação. Este  deve ser acompanhado por gestores experientes e contar com suporte permanente por um bom período, inclusive após concluída a implantação.

d)     Certifique-se em que condições se darão as adequações do software às peculiaridades da operação de sua empresa.

e)      Veja que tipo de software de inteligência de negócios (IN) ou Business Inteligence (BI) o fornecedor tem para extração de informações deste banco de dados.

A implantação de um Sistema de Gestão Integrado em nosso entendimento deve se dar, no mínimo, um ano antes da mudança de opção tributária. Isto é necessário para que a empresa possa se adequar completamente ao novo modelo de gestão, treinando seus colaboradores nas novas ferramentas e rotinas. Outros, particularmente atingidos pelas mudanças, serão os fornecedores de serviços, matéria prima e equipamentos. Não se surpreenda se houver um aumento de custos com alguns fornecedores nas novas aquisições por conta do maior rigor tributário que a empresa irá imprimir. Isto é sobretudo uma mudança na cultura da organização.

Fica claro, portanto, para quem deseja ir para o Lucro Real, que trata-se, quase sempre, de um choque de gestão dentro da organização,  demandando investimentos em softwares, hardwares e recursos humanos, se não em contratação, mas no mínimo em muito treinamento para atender as novas rotinas.

Diante disso, é necessário que se planeje bem a viabilidade da mudança da opção tributária, pois se de um lado buscamos um provável ganho financeiro com um planejamento tributário adequado, utilizando-se das normas legais para elisão fiscal, de outro temos uma gama de investimentos e novos custos fixos para incorporarmos em nossos orçamentos.

A princípio, alguns podem se assustar, mas uma transição bem feita pode levar a empresa a uma sofisticação de gestão de tal modo que não só o empresário responderá a todos os questionamentos feitos no início como será capaz de vislumbrar que seus negócios poderão crescer com segurança, sem aquele sentimento que muitos tem de que se nossa organização crescer mais perderão o controle.

Em alguns casos não há opção. A  legislação exige o Lucro Real em vários casos.

Outra situação é de que se você vislumbra no futuro fazer um IPO (Inicial Public Ofert), abrir o capital de sua empresa, uma fusão com algum concorrente ou quem sabe atrair um sócio com capital para a grande alavancada de sua organização, uma empresa que tributa pelo lucro real torna muito mais simples todas estas situações. Primeiro porque haverá máxima clareza das informações contábeis e financeiras e por outro lado porque a legislação exige, em alguns casos, como para abrir o capital,  por exemplo.

Outra coisa que pode vir a reboque do Lucro Real é a Auditoria Independente Externa. Essa, se bem feita, será a cereja do bolo, garantindo, não só, a integralidade de seus lançamentos contábeis e controles gerenciais, como fortalecerá os pilares da Governança Corporativa.

Como se dá o ganho tributário? Tomada a decisão pela mudança, passaremos a uma corrida para incorporação de despesas financeiras e contábeis que irão reduzir nossa base de cálculo para o IR e CSSL, podendo gerar até um prejuízo contábil, o que vemos muitos buscarem a todos custo. E daí, a empresa quebra? Depreciação, provisões, período de apropriação de algumas receitas ou do reconhecimento de despesas, tudo isso, dentro de uma margem de manobra legal, afeta nosso resultado, mas nem tudo gera desencaixe financeiro.

Portanto, o que quebra uma empresa para valer é um fluxo de caixa negativo e não necessariamente um prejuízo contábil. Isso explica por que vemos algumas empresas que por vezes contabilizam anos de prejuízos contábeis (temos vários exemplos na aviação) mas não quebram, visto que tem um fluxo de caixa poderoso. Imaginemos o tamanho do impacto da depreciação de uma frota de aviões no resultado de um exercício, o que não representa um desencaixe financeiro, é um resultado contábil que tem, somados a outros lançamentos, o poder de baixar nossa base de cálculo para o IR e CSSL.

E agora, as dúvidas aumentaram ou diminuíram?

Realmente, a escolha não é fácil, mas o principal é buscar a orientação de profissionais habilitados que possam analisar o seu caso em particular visto que cada negócio possui normas tributárias peculiares, o que torna muito difícil generalizarmos um ponto de vista.

 

(*) –  Eugênio Alegretti  Administrador e Gerente Administrativo da Unimed Sul do Pará