Todo ano é a mesma coisa.

Na chegada de 31 de dezembro, me ponho a pensar em quantos Anos Novos já se passaram…

O Ano Novo vivendo sua impagável travessura de reinventar e desmanchar os dias.

E fico assim, imaginando no ano que se foi, pensando em toda a penca de anos que ficaram pra trás.

Anos do calendário cristão, anos de calendários outros, anos tantos passados sem sequer saber que eram anos, no tempo em que a natureza experimentava seu modo de criar o mundo sem que houvesse marcas de tempo.

Difícil entender?

Talvez não, espero.

Demasiadamente quão inadequado, considero, a expressão “ano velho”, porque os anos nada mais são do que um exuberante cacho de dias, enfileirados, pendentes à tarde, caindo à noite de maduros.

Quando o último dia do ano cai, como se fosse um fruto madurinho do alto de um galho, festejado pelos olhos gulosos de um monte de meninos, nem sequer sobra tempo para que se forme a crosta de resina na árvore do tempo.

O ano que surge, feito de novo em fruto estufando de vida, à espera de atos que os diferenciem, que os identifiquem num calendário comum, revestido dos anseios e desejos dos homens.

O que envelhece, pois, não são os anos.

Envelhecem os relógios e suas engrenagens.

Sobretudo, envelhece a vontade do homem de viver os seus sonhos, que se vão quedando feito cordeiros domesticados no íntimo porão das lembranças.

Os anos nunca serão velhos, na sua eterna criancice de estufar dias como se fossem bolhas de sabão, frutos de tempo, bolas coloridas de soprar.

Velhos serão os homens, enquanto não aprenderem a pendurar seus sonhos no redemoinho feliz desse eterno presente que eles próprios chamam de anos.

E para que a humanidade possa ter paz, nada melhor que dedicar este símbolo maior da natureza a todos: Feliz Ano Novo.