Ana Célia Pinheiro, no Perereca da Vizinha,  analisa a candidatura do deputado Domingos Juvenil ao governo do Estado.

Pela profunidade de suas observações,  reproduzimos o texto na íntegra,  pedindo aos leitores, ao mesmo tempo, visitação ao blog dela.

PMDB: a candidatura que não houve
Estava tão entretida com o novo portal da Transparência do Governo do Estado (bem menos transparente que o anterior, por sinal) que só de madrugada, ao dar um giro pela internet, é que soube da pré-candidatura do deputado Domingos Juvenil ao Governo do Estado, pelo PMDB.

Estou meio afastada dos bastidores, em decorrência do meu problema de saúde. E, a bem da verdade, nem deveria estar fuçando o portal da Transparência, porque a minha coluna já está querendo chiar novamente. Mas simplesmente não deu pra resistir…

É claro que o deputado Domingos Juvenil não é nenhum Naziazeno.

É presidente da Assembléia Legislativa, foi prefeito de um município pólo (Altamira), possui toda uma bagagem política.


Mas nem por isso Juvenil deixa de ser um candidato “laranja”: sua liderança é muito localizada e até a votação que teve há quatro anos, para deputado estadual, deixou muito a desejar.


E se a sua pré-candidatura ao Governo for irreversível, como juram os peemedebistas, é certo que ele não estará no segundo turno.

Embora, é claro, na esteira desta campanha, ele amplie as chances de voltar à prefeitura de Altamira, em 2012.

Não se descarta a possibilidade de uma ponta de malinagem na decisão de Jader Barbalho, uma vez que Juvenil tem se mostrado muito próximo da governadora e até colaborou na aprovação do empréstimo de R$ 366 milhões, pela Assembléia Legislativa – um empréstimo crucial para as obras que vão turbinar a campanha de reeleição de Ana Júlia Carepa.

No entanto, é muito mais provável que a opção de Jader por Juvenil seja, simplesmente, pragmática – e por uma série de fatores.

O mais importante, talvez, a necessidade de eleger Jader e Paulo Rocha para o Senado Federal.

Ambos são excelentes articuladores de bastidores e devem, de fato, integrar a estratégia de Lula para ajudar na coesão da base aliada, num eventual governo de Dilma Rousseff.

Além disso, o peso do grupo de Paulo Rocha é fundamental para as negociações entre o Governo e o PMDB, caso Ana Júlia Carepa venha, de fato, a se reeleger.

E ambos, Jader e Paulo Rocha, têm boas chances de chegar ao Senado, desde que se mantenham em lados opostos até outubro, como, aliás, já escrevi aqui.

Juntos, acabarão disputando a mesma cadeira – aquela que caberá ao “senador da governadora”…

Mas se estiverem em lados diferentes, quem, dentre os possíveis candidatos oposicionistas, será páreo para esse campeão de votos que é Jader Barbalho, com o seu poderoso grupo de comunicação e, mais ainda, com dinheiro para a campanha?

Penso que só Almir Gabriel poderia, de fato, bagunçar esse jogo, talvez até a obrigar um recuo de Jader, em direção à Câmara dos Deputados.

Mas Almir parece muito mais preocupado em bagunçar é a vida de Simão Jatene…

Daí que é grande a possibilidade de que os tucanos paraenses percam não apenas a eleição ao Governo, mas, também, uma das vagas que detêm no Senado.

E a possibilidade cada vez mais concreta de reeleição da governadora Ana Júlia Carepa é outro fator que deve ter pesado muitíssimo na decisão de Jader Barbalho.

Pelo que li esta semana nos jornais e na internet, as pesquisas mais recentes apontam a subida das intenções de voto da governadora, o que, aliás, já era esperado, devido à inegável melhoria de sua estratégia de comunicação – e também pela força da máquina, que deve se acentuar cada vez mais, conforme se aproximem as eleições.

Aliás, nunca houve dúvida de que Ana Júlia estará no segundo turno – isso não passa de uma grande bobagem, disseminada por pessoas que imaginam submeter a realidade às suas fantasias.

Ora, se o PT detém 30% do eleitorado, além dos governos federal e estadual, como é que Ana não passaria ao segundo turno?
Ana não só estará no segundo turno, como é a grande favorita do próximo pleito, justamente porque detém a máquina.

E mais: se o PT conseguir, de fato, costurar uma ampla aliança, com o apoio de boa parte do PMDB e uma oposição “controlada”, digamos assim, do restante; e mais o apoio da maioria dos grandes partidos paraenses (PP, PTB, PR, PDT), há o risco, sim, de que a governadora consiga liquidar essa fatura ainda no primeiro turno.

E quem não compreender isso, é melhor que nem se meta a “brincar” de eleição, porque já entrará no jogo derrotado, por não ter sequer idéia da barra que enfrentará para a construção de uma possibilidade real de vitória.

É claro que se essa aliança ampla não sair e Jatene conseguir conquistar uma parcela considerável do PMDB e até do PR; ou seja, se ele conseguir infundir a crença na possibilidade de reconquista do poder pelos tucanos, a eleição irá para o segundo turno e poderá ser decidida voto a voto.

Mas é sintomática a cartada dessa raposa chamada Jader Barbalho, que costuma sentir de longe a direção dos ventos…

Jader não apenas se recusou a montar o “cavalo selado”, que parecia tão certo para a conquista do Palácio dos Despachos: também optou por um candidato “laranja”, em vez de ungir outro nome forte a essa disputa.

Um fato que pode ser lido como uma liberação dos peemedebistas, já que há uma fatia significativa do partido que não aceita compor com os petistas.

Ou ainda como uma tentativa de turbinar o valor do PMDB, num eventual segundo turno; ou como preparação do terreno para a eleição de Helder Barbalho ao Governo do Estado, em 2014 – e nesse caso talvez fosse mais lógica a indicação de Domingos Juvenil para vice de Ana, apesar de suas recentes “peraltices”…

Mas a escolha de Jader também pode ser lida como a decisão de não sacrificar um nome de peso, como José Priante, por exemplo, (que tem tudo para retornar à Câmara dos Deputados) numa eleição em que a governadora, que já era a favorita, vai melhorando a performance nas pesquisas, ao mesmo tempo em que Lula aperta o cerco sobre os partidos da base aliada, para garantir a vitória de Dilma Rousseff, que, também ao contrário do previsto por muita gente, vai se colocando na dianteira da corrida presidencial.

Foi uma decisão acertada não sacrificar nem Priante e nem um quadro extraordinário como Parsifal Pontes, talvez o mais brilhante deputado estadual da atual legislatura.

Ao fim e ao cabo, Juvenil não tem nada a perder com essa grande laranjada – talvez, nem conseguisse se reeleger; agora, deve ganhar uma boa badalada para 2012, entre “otras cositas” mais.

Mas se eu fosse Jatene não ficaria lá muito entusiasmada com mais essa brilhante jogada de Jader Barbalho.

Se Almir ficar ao lado de Juvenil, a apoiá-lo como “terceira via”(vejam só!…), significa que não vai melar o jogo do morubixaba peemedebista ao Senado – mas não só.

Também significa que persistirá como uma tremenda insegurança à candidatura de Jatene, que já tem, de resto, de lutar contra a falta de aliados e de recursos financeiros.

E é sempre bom lembrar: Jatene nunca foi e nem será o aliado preferencial de Jader, como, aliás, já se disse aqui.

Jatene é esperto demais. E, se conseguir se eleger, provavelmente frustrará o sonho de El Barbalhon de ver o “Sobrancelhudinho” no Palácio dos Despachos, daqui a quatro anos.

Por isso, muitos tucanos que possuem uma sede patológica de poder estão hoje grudados no mesmo Barbalhão que ajudaram a algemar…

Já farejaram a carniça e sabem que a situação de Jatene é muito, muito complicada.

(Mas política é como nuvem e eleição é que nem barriga de grávida – quanto mais daqui a quatro anos, né mermo?…)

De resto, não houve grandes novidades nos últimos dias, já que a proposta da vice e de uma vaga ao Senado sempre esteve diante do PMDB, assim como os mesmíssimos 30% do governo e dinheiro para a campanha.

E é bem possível que, sem o PMDB na chapa, fique até mais fácil para o PT atrair o PR, já que o PTB já estaria com Ana. Mas isso só dá pra saber com uma conversa de pé de ouvido com o pessoal do PR. O problema é esta minha coluna…