O racismo da Globo e a “mulata que era preta”

Jornalista  Fernando Brito

 

Racismo

Ontem, postei aqui um texto de Jari da Rocha que, eu sabia, daria polêmica e, portanto, fiz questão de subscrever, porque não fujo de polêmica.

Era da pobreza mental de atacar como racista um casal, branco, que adotou uma criança negra e, no Carnaval, fantasiou-se (fantasia, isso dá alguma pista? ) de Aladim, Jasmine e Abu.

Pronto, para alguns idiotas o pai chamou o filho de macaco.

Macaco é ofensivo, quando dito por ódio e desqualificação. Rato também, e ninguém ia se importar se fosse Mickey. Porco, idem, mas Peppa pode. Cachorro, da mesma forma, mas  de Pateta não há problema.

O pobre rapaz teve de sair a explicar-se – logo ele que, com a mulher, teve  o raro ato  de amor ao não  eleger cor da pele para  adotar.

Li artigos, de gente que não é superficial, que embora não o acusem , dizem que “foi uma escolha infeliz” , como se o casal tivesse de considerar seu filho negro diferente do que se fosse branco, porque se branco creio que nenhum problema haveria.

Ou seja, por seu filho não ser branco, ele tem de patrulhar seus atos de carinho.

No mesmo dia, porém, houve algo que não teve nem 1% da repercussão e, sim, é um ato de “racismo mercadológico”.

A reportagem do The Guardian, inglês, com a ex-globeleza Nayara Justino – eleita num concurso com votação popular e logo “derrubada”  pelos comentários racistas das redes sociais e pelo “marketing” da Globo, porque “era negra demais” – é algo que não sai por aqui.

É óbvio que a instituição “globeleza” , seja “negra globeleza”, “mulata globeleza” ou “louraglobeleza” já é uma apelação. que reduz a alegria e a sensualidade do carnaval  a uma “vinheta”, um objeto semovente.

Os movimentos étnicos têm um papel libertador na vida brasileira, entre outras razões, por denunciar esta “cosificação ”  do negro.

E  razão ao afirmar que o “mulato claro” tem mais aceitação na nossa cultura escravista.

Mas se não enxerga que a miscigenação, quando não opressiva como nas senzalas, é um triunfo da civilização de uma só espécie, a humana.

E isso é terrível rque , como para mostrar como é sério o problema do racismo, se questiona o casamento – hipocritamente chamado de namoro, pois já vivem juntos há muitos anos – de Nayara com um rapaz branco.

Se não há nenhum sinal de que isso se dê por razões econômicas, sórdidas, me desculpem, o que alguém tem a ver com isso?

A Nayara deveria andar com uma daquela “tabela de cores” para resolver com quem namora, casa ou transa?

O que é que qualquer pessoa tem a ver com isso?

Que diabos a gente tem a ver com a vida afetiva de alguém?

Se eu namorar uma mulher negra viro um senhor de engenho?

Se uma mulher negra namorar comigo quer destruir a negritude ancestral?

Ainda bem que estou velho demais para isso…

Mas estou jovem o suficiente para afirmar que todos os seres humanos são – e devem ser, sempre – iguais em direitos e liberdades.

A única atitude digna em relação ao preconceito, seja qual for ou que supostas razões tente brandir, é olha-lo como uma estupidez.

E a estupidez é apenas a lama que o processo civilizatório vai esmagando.