O Ministério Público do Estado informou que já ouviu 25 policiais civis e militares envolvidos na ação que resultou na morte de 10 trabalhadores rurais no último dia 24 na fazenda Santa Lúcia, município de Pau D’arco, sudeste paraense. Entre os ouvidos estão o delegado Renato Batista Toledo Duran e o Cm do 7º Batalhão da PM de Redenção, Carlos Kened Gonçalves de Souza. Os depoimentos continuam até o final da semana.

Nesta segunda-feira (29) não houve depoimentos, pois os promotores precisaram organizar documentos sobre o caso. O MP informou ainda que pediu perícia balística nas armas usadas pelos policiais e aguarda o resultado da perícia do Centro de Perícias sobre as armas recolhidas no acampamento. Duas testemunhas ouvidas pelos promotores na semana passada permanecem em Redenção. Uma delas, atingida no quadril, está hospitalizada e deve ser transferia para um hospital na capital em breve.

No primeiro depoimento, o sobrevivente conta que estava acampando com outras pessoas em um ponto perto da sede da fazenda, quando todos ouviram um barulho e dois deles correram para verificar o que estava acontecendo. Ao regressarem, falaram que a Polícia havia chegado. Todos saíram correndo mata adentro.

A segunda testemunha contou uma versão igual e acrescentou que a Polícia, ao chegar, não mostrou os mandados e nem explicou a situação. O sobrevivente disse também que os acampados não reagiram e que as armas que estavam no acampamento não foram usadas. Ele afirmou ainda que, antes de fugir, ouviu os policiais batendo nas vítimas e rindo bastante após atirar nelas.

Polícia nega

A Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup) informou ontem (30), durante coletiva à imprensa, que afastou os 29 policiais civis e militares envolvidos na ação. Eles cumprirão rotina administrativa até a conclusão do inquérito policial que apura os episódios envolvendo essas mortes e, se houve de fato, a resistência armada por parte dos acampados, conforme relataram os agentes de segurança que participaram da ação policial. A cúpula da Segurança Pública havia informado na semana passada, logo após o episódio, que os policiais foram à fazenda cumprir mandados de prisão preventiva, busca e apreensão, relacionados à morte de um vigilante da fazenda, em abril passado. Foram apresentadas, também, logo após a operação, 11 armas de fogo, entre espingardas e pistola, com as quais os trabalhadores rurais supostamente teriam reagido à ação dos policiais, “recebidos a tiros”, segundo a Segup.

Durante a entrevista coletiva de ontem, o general Jeannot Jansen admitiu que “não é normal” a morte de dez pessoas em uma operação dessa natureza.

“Nós não temos como pré-julgar o fato, até porque não estávamos lá no momento do conflito. Mas podemos afirmar que não é normal a morte de dez pessoas durante uma operação de mandado de prisão. O nosso interesse aqui é agir com imparcialidade e, se for comprovado o excesso por parte dos policiais, eles vão responder por isso”, disse o secretário, ao ponderar que, de início, as primeiras informações trazidas pelos policiais, era de que os ocupantes da fazenda teriam recebido a Polícia a tiros, mas após um trabalho de investigação ele disse que prefere agir com cautela, já que, segundo afirmou, são necessários os resultados das perícias técnicas do Renato Chaves para revelar o que houve de fato.