Um relatório elaborado pela Polícia Federal determinou que o colapso da ponte Juscelino Kubitschek, localizada na BR-226, que liga os estados do Tocantins e Maranhão, foi resultado da ausência de manutenção adequada e de reformas mal realizadas, além de descuido e desinteresse por parte das autoridades competentes.

Os dados foram apresentados no domingo, 27, pelo programa Fantástico, da TV Globo.

No dia 22 de dezembro, a ponte que cruzava o Rio Tocantins desmoronou, resultando na morte de 14 indivíduos, com três pessoas ainda desaparecidas. Com uma extensão de 533 metros, a estrutura foi aberta ao público em 1961. Ela situava-se na fronteira entre os municípios de Estreito, no Maranhão, e Aguiarnópolis, em Tocantins.

De acordo com o relatório, a ponte apresentou um colapso gradual que ocorreu entre 15 e 30 segundos, enquanto a queda do vão central se deu em menos de um segundo. Os especialistas afirmam que, ao longo dos anos, a infraestrutura da ponte ficou comprometida devido ao crescimento do tráfego de veículos e ao peso das cargas dos caminhões que a atravessavam.

A mais recente reforma significativa aconteceu entre 1998 e 2000. De acordo com o relatório, durante essa obra, foi adicionado um suporte na lateral da ponte, a camada original de concreto do piso foi removida e uma nova camada de asfalto foi aplicada. O suporte lateral, conforme mencionado pelo perito Laércio de Oliveira Silva Filho, “foi retirado do concreto que estava com fita crepe” durante o colapso. Não se tem clareza sobre a razão da aplicação do asfalto, e essa intervenção pode ter afetado a integridade da ponte.

Um estudo solicitado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) divulgado em 2020 afirmou que a condição da estrutura era “ruim e insatisfatória”, sugerindo a necessidade de reparos na ponte. Em 2024, foi realizada uma licitação para escolher uma empresa responsável pela obra, mas a concorrência não teve resultado e a ponte desabou antes que qualquer recuperação pudesse ser realizada.

O relatório foi enviado ao delegado da Polícia Federal responsável pela investigação. Houve uma falha por parte dos servidores públicos em relação à conservação da obra. Portanto, não posso afirmar que esse desastre foi um evento inesperado ou resultante de força maior. Ele havia sido previsto e era aceitável que pudesse ocorrer”, declarou o delegado Allan Reis de Almeida.

O DNIT informou à TV Globo que um grupo de especialistas finalizou a investigação do acidente e enviou o relatório para a corregedoria do órgão. O Ministério dos Transportes anunciou que Renan Bezerra de Melo Pereira, superintendente regional do DNIT no Tocantins, foi dispensado em abril e destacou que uma nova ponte será inaugurada em dezembro deste ano. Pereira, por sua parte, declarou sua inocência e rejeitou qualquer responsabilidade pela tragédia.

Depois do colapso da estrutura em dezembro, Fabrício Galvão, o diretor-geral do DNIT, declarou que a instituição era responsável pela tragédia. O Ministério dos Transportes firmou um contrato de emergência no valor de R$ 171 milhões para a reconstrução da estrutura, com conclusão prevista para dezembro de 2025.

De acordo com informações do Estadão, o Congresso Nacional destinou R$ 35,6 milhões em emendas parlamentares para os municípios de Estreito (MA) e Aguiarnópolis (TO), conectados por uma ponte. No entanto, nenhum desses fundos foi alocado para a infraestrutura da ponte; os recursos foram direcionados para eventos, iluminação em LED e outras iniciativas. (Foto: Wilton Junior / Estadão)