Um homem de 58 anos foi diagnosticado com câncer no fígado que havia sido transplantado, apenas meses após realizar uma operação no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, através do Sistema Único de Saúde (SUS).

Testes indicaram que o tumor teve sua origem no órgão transplantado, e não no organismo do receptor — um acontecimento documentado na literatura médica, embora classificado como extremamente raro globalmente.

Médicos consultados pelo g1 afirmam que a situação é incomum, embora viável. Além disso, existem diversos procedimentos de triagem para prevenir ocorrências desse tipo, realizados pelo hospital responsável pelo doador. Contudo, a família não tem conhecimento sobre a unidade de saúde de onde provém o órgão, uma vez que essa informação é confidencial.

Geraldo também procurou o Ministério da Saúde e o Ministério Público para investigar o que pode ter ocorrido em sua situação, mas não recebeu resposta. Assim, não é possível determinar se ele se encaixa em uma estatística reduzida ou se houve alguma falha.

Histórico de Hepatite C

Hepatite C é uma infecção viral que ataca o fígado, podendo levar a inflamação e outros problemas hepáticos. Muitas vezes, a condição é assintomática, o que dificulta o diagnóstico precoce. A transmissão ocorre principalmente através do contato com sangue contaminado. O tratamento pode incluir medicamentos antivirais que ajudam a eliminar o vírus do organismo. É fundamental realizar exames regularmente para detectar a infecção e prevenir complicações severas, como cirrose e câncer de fígado.

Em 2010, Geraldo Vaz Junior foi diagnosticado com hepatite C e, em decorrência, desenvolveu cirrose hepática, levando-o a aguardar um transplante. Em julho de 2023, ele obteve um novo fígado através do Programa Proadi-SUS, que estabelece uma ligação entre hospitais de referência e pacientes do SUS.

Maria Helena Vaz, companheira de Geraldo, informou ao g1 que a operação foi um sucesso, mas sete meses depois, exames revelaram a presença de nódulos no fígado que foi transplantado.

Segundo reportagem do G1, a biópsia revelou a presença de um adenocarcinoma, que é um tipo de câncer, e um teste genético de DNA confirmou que as células tumorais não eram do paciente, mas sim do doador do órgão.

Foi uma experiência devastadora. Meu esposo recebeu um órgão que estava com câncer. Sonhamos durante anos para realizar um desejo, mas ele retornou ainda mais enfermo”, relata Maria Helena.

Geraldo passou por um transplante de fígado após o diagnóstico, porém o câncer já havia avançado e se espalhado para os pulmões. Atualmente, segundo seus familiares, ele é considerado um paciente sob cuidados paliativos, pois a doença é incurável.

Conforme a família de Geraldo, após a revelação, eles indagaram em uma reunião com os profissionais de saúde sobre a condição dos outros pacientes que também receberam o transplante, uma vez que ele não era o único. Foram informados de que esses pacientes estão sob vigilância.

Manuel de Transplantes, o que diz?

A primeira consideração é que um indivíduo com câncer não deve ser considerado um doador de órgãos.

Segundo o Guia de Transplantes (2022), divulgado pelo Ministério da Saúde, todo indivíduo classificado como doador elegível é submetido a uma avaliação clínica, de exames laboratoriais e de imagem, com o objetivo de eliminar a possibilidade de infecções e doenças malignas transmissíveis.

As avaliações englobam:

  • testes sorológicos (HIV, hepatites, sífilis, citomegalovírus);
  • testes laboratoriais para avaliar a função do órgão (como as enzimas do fígado e a creatinina);
  • Caso exista a suspeita de neoplasia, é recomendável a realização de exames de imagem, como ultrassonografia ou tomografia computadorizada.
  • e a supervisão direta do órgão durante o procedimento de coleta.

 

Se houver qualquer indício de tumor, o órgão é prontamente rejeitado. No entanto, o próprio manual ressalta que nenhum método consegue eliminar totalmente o risco, uma vez que células cancerígenas em tamanho reduzido podem passar despercebidas.