Hiroshi Bogéa  –  Quando a vejo, ela está ali, não como um farol que guia, mas como uma estrela fugaz que, a cada instante, ameaça desaparecer por trás de uma nuvem.

Chamo-a, mentalmente, de O Ponto de Interrogação Mais Belo.

​Não há nela a hesitação óbvia de quem está a um passo da rendição, nem o jogo de sedução calculista de quem lança a isca e espera. Nada. Absolutamente nada que se assemelhe a um mapa, uma bússola ou mesmo um rabisco.

Ela é uma página em branco que me convida à escrita, mas cujas mãos parecem amarradas por uma lealdade invisível à própria indecifrabilidade.

​Quando conversamos virtualmente, imagino seus olhos me fitando com uma clareza desarmante, mas destituída de qualquer brilho de promessa.

​Eu a busco freneticamente. Analiso a pontuação das suas mensagens, o tempo de resposta.

​Se ela usa um ponto final, é distância. ​Se usa reticências, é mistério… ou desinteresse.​Se ela responde rápido, é gentileza. Se demora, é ocupação.

​Nunca, em nenhuma dessas variáveis, o resultado é a pista que procuro: a pequena bandeira branca, o aceno tímido, o “talvez” sutil.

​Uma vez, ousei. Fiz uma declaração que beirava o limite da confissão, um dardo lançado no escuro. Ela parou, pensou por um tempo que me pareceu a duração de uma era glacial, e respondeu desviando-se da carga emocional da questão com a elegância de uma bailarina.

Meu dardo havia se transformado em uma pena inofensiva.

​O mais cruel de tudo é que ela não flerta comigo. Ela não está fazendo joguinhos. Ela simplesmente é assim: um muro de cristal que reflete tudo de forma límpida, mas que é impossível de atravessar.

A sua indiferença é tão pura que chega a ser respeitável, e talvez por isso me atraia tanto. Não estou lutando contra uma muralha, estou tentando decifrar o silêncio do deserto.

​Sei que, se algum dia eu a conquistar, não será por ter decifrado um enigma, mas por ter reescrito a sua alma com delicadeza. Até lá, continuarei a observá-la, essa criatura fascinante que me ensina a arte da paciência.

Ela é o ponto de interrogação que me faz querer ir além, me forçando a buscar respostas em mim mesmo, já que nela, só encontro o silêncio eloquente de uma promessa não feita.

E talvez, só talvez, o verdadeiro charme dela esteja exatamente nisso: em não me dar motivos para desistir, mas também não me dar motivos para continuar, exceto a pura e simples teimosia do meu coração.