No Brasil, há indícios da presença de comunidades indígenas não contatadas na área de Ituna/Itatá, situada no estado do Pará, cujo tamanho é comparável ao da cidade de São Paulo.
A região de Ituna/Itatá conta com uma portaria temporária que a resguarda contra a devastação das florestas. Entretanto, entidades indígenas solicitam ao governo que realizem mais investigações para identificar indícios de comunidades isoladas, o que possibilitaria à administração efetivar a demarcação da área visando à conservação das florestas.
Na terra indígena adjacente, Koatinemo, aproximadamente 300 membros da etnia Asurini habitam residências construídas com madeira e palha de Ita’aka. Eles compartilham experiências de contatos com comunidades isoladas que habitam a área de Ituna/Itatá.
“Minha cunhada exclamou: ‘Olha, ali está!‘. Era um menino que me observava de perto, do tamanho de um pé de banana”, relatou à AFP Takamyí Asurini, um homem mais velho que carrega em seu corpo a marca de uma flecha que afirma ter sido disparada por indígenas isolados.
Em 18 de junho, as autoridades decidiram estender uma portaria temporária que limita desde 2011 a entrada na área de Ituna/Itatá, com o objetivo de “assegurar a proteção total dos territórios habitados por comunidades indígenas isoladas“.
As provas encontradas em Ituna/Itatá variam desde observações realizadas na década de 1970 até achados arqueológicos que sugerem a existência de grupos indígenas não contatados desde, no mínimo, 2009. Essa informação foi fornecida pela ONG Burness, que apoia os trabalhos para a demarcação permanente da área.
Percebendo a natureza
O Brasil admite a existência de 114 “registros de presença” de povos indígenas isolados na Amazônia, ou seja, comunidades que optam por viver com pouco ou nenhum contato com as sociedades ao seu redor.
Conforme informado pela Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), essa condição de isolamento pode ser atribuída, em certos casos, aos efeitos prejudiciais da convivência anterior com pessoas não indígenas, incluindo enfermidades, agressões e exploração de recursos naturais, segundo a Funai.
Dos registros oficialmente aceitos, aproximadamente 25% são classificados como confirmados. Além disso, casos como os de Ituna/Itatá são considerados “evidências robustas” da presença de comunidades isoladas, mesmo na ausência de estudos sistemáticos oficiais para verificar essa realidade.
Luiz Fernandes, integrante da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), ressaltou que existe uma longa história de desconsideração em relação aos registros que mostram que o Estado admite a presença desses grupos, “mas falha em implementar ações reais para proteger seus territórios.“.
A ativista indígena Mita Xipaya, de 24 anos, enfatizou que, enquanto o Estado necessita de registros formais para demonstrar a existência de áreas isoladas, “nós, indígenas, temos uma percepção distinta; sentimos isso na natureza, nos sons ao nosso redor, nas presenças que notamos e, por vezes, até nos aromas.“.
Na imagem destacada, laca do governo federal indica a fronteira da Terra Indígena Koatinemo, vizinha à Terra Indígena Ituna/Itatá, no estado do Pará — Foto: Carlos Fabal/AFP