Na terça-feira, 11, zanzando por aí, a gente se dá conta de que viver a efervescência da COP30 é um momento único, a cidade transformada em capital do Brasil e epicentro do planeta.
A cidade, que já tem seu charme caótico, está num frenesi que faz o Ver-o-Peso parecer um retiro zen. De repente, os corredores dos shoppings da cidade são transformados em mini-ONU. Você tropeça numa conversa em japonês sobre a umidade e no segundo seguinte ouve um casal em francês se perguntando onde comprar um bom queijo do Marajó (boa sorte, amigos!).
É a Torre de Babel turbinada a tacacá e água de coco.
Os nativos, com aquele olhar de quem já viu de tudo (inclusive São Pedro dar uma de DJ com as chuvas), olham para os visitantes com uma curiosidade quase científica. A gente vê um moço de turbante e casaco de lã (em Belém, meu Deus!) tentando decifrar o mistério de um vendedor de suco de cupuaçu. O contraste é hilário: de um lado, a indiferença amazônica que só Belém tem; do outro, a admiração e o susto dos gringos que se perguntam se é de comer o tal do açaí com farinha.
O Parque da Cidade – que na crônica de hoje é o nosso Central Park global – virou um desfile de cores, sotaques e ideias. São quase 200 países representados, cada um com sua bandeira, seu traje típico e, claro, seu jeitinho de debater a Amazônia.
A democracia está tão acesa que parece até um bloco de Carnaval fora de época, só que, em vez de marchinhas, tem gente falando em “crédito de carbono” e “pegada ecológica”.
Mas a verdadeira mágica acontece fora das plenárias. Os visitantes, depois de salvar o clima do mundo, têm uma missão ainda mais importante: comer.

Você vê um embaixador europeu com o olhar mareado saboreando um sorvete de tapioca. Um cientista africano tentando domar um pato no tucupi com a dignidade que o prato exige. É uma troca cultural em que o único ponto de discórdia é se o açaí deve ser salgado ou doce (e a gente sabe que a resposta é salgado, mas deixamos os visitantes terem suas ilusões).
Viver a COP30 é isso: ser vizinho de um debate sobre o futuro da humanidade, enquanto na Praça da República, uma senhora paraense ensina a palavra “égua” para um diplomata norueguês.
A pergunta que fica: o que essa loucura toda vai nos deixar? Além da certeza de que o açaí belenense é inigualável e de um trânsito de chorar, a gente espera uma herança humana. Que a civilização se lembre que, em meio a tantas diferenças e línguas ininteligíveis, a gente pode se encontrar na mesa, rir das nossas singularidades e, quem sabe, aprender que a Amazônia e a beleza humana são inseparáveis.
Égua, Belém, tu és a capital do mundo. Agora, quem vem tomar um café com a gente?



