Hiroshi Bogéa – O futebol brasileiro vem testemunhando nos últimos anos uma era de domínio do Clube de Regatas do Flamengo, com a conquista de títulos importantes, incluindo o tetracampeonato da Copa Libertadores da América e o eneacampeonato (nove vezes) do Campeonato Brasileiro. No entanto, o brilho dessas vitórias tem sido frequentemente alvo de tentativas de desqualificação por uma intensa campanha de críticas e questionamentos levantados por uma parcela da imprensa esportiva sediada em São Paulo.
Enquanto o desempenho em campo do time carioca acumulava taças, uma narrativa paralela se desenvolveu nos veículos de comunicação paulistas, que frequentemente desviava o foco da excelência técnica e tática do Flamengo. O cerne dessa campanha tem sido o levantamento de questões extracampo que, segundo os críticos, teriam sido determinantes para o sucesso rubro-negro.
A Força Econômica
Um dos pontos mais debatidos é o poder financeiro do Flamengo, frequentemente alardeado como uma vantagem “desleal”. A capacidade do clube de investir em grandes contratações e oferecer salários elevados é apresentada não como fruto de uma gestão eficiente, mas como um elemento que “compra” o sucesso, minimizando o mérito esportivo.
Narrativas de supostos erros de arbitragem “pro-Flamengo” se tornaram recorrentes, sugerindo uma interferência externa ou um favorecimento velado. Embora a arbitragem seja um tema sensível em qualquer esporte, a frequência e a intensidade dessas alegações, muitas vezes com interpretações dúbias dos lances, alimentam a tese de uma campanha direcionada.
Os Bastidores da Crítica
Para muitos torcedores e analistas, a postura de parte da imprensa de São Paulo não se resume a uma análise técnica isenta. A campanha é vista, por muitos, como “suja” e permeada por elementos de preconceito regional e a inevitável “dor de cotovelo” esportiva.
O sucesso do Flamengo, clube de massa com a maior torcida do país, incomoda a hegemonia e o protagonismo histórico dos clubes do eixo Sul-Sudeste, especialmente os de São Paulo – incluído aqui o Palmeiras, freguês assíduo do Flamengo.
Senão, vejamos:

Nos últimos 20 jogos entre os clubes, o Rubro-Negro venceu 10 vezes, enquanto o rival paulista saiu vitorioso em apenas 3 oportunidades.
No Brasileirão, o domínio é ainda mais impressionante: o Palmeiras não vence o Flamengo desde 2017. São 16 partidas desde então, com 8 vitórias rubro-negras e 8 empates.
E até os antigos argumentos caíram por terra. Se antes o Palmeiras se escorava na decisão da Libertadores, agora o Flamengo também venceu os paulistas.
Em 2025, foram três confrontos diretos… e três vitórias do Mengão. A hegemonia recente é clara e inquestionável.
A maneira como certas conquistas do Flamengo são abordadas beira o desrespeito. Não é análise, é desqualificação. Existe uma dificuldade em admitir que o melhor trabalho esportivo e administrativo do país não está sendo feito em São Paulo, e isso se traduz em uma crítica carregada de ranço e inveja.
A insistência em desmerecer o futebol jogado, focando em polêmicas financeiras ou de arbitragem, é interpretada como uma tentativa de diminuir a glória do tetra da Libertadores e do eneacampeonato brasileiro, criando uma sombra de ilegitimidade sobre as conquistas.
Entre a crítica e a campanha
O debate levanta uma questão fundamental sobre o papel da imprensa esportiva. A crítica e a fiscalização são essenciais, mas quando o tom se torna repetitivo, excessivamente negativo e focado em aspectos que não o desempenho em campo, a linha entre a crítica construtiva e a campanha difamatória se torna tênue.
O Flamengo segue conquistando títulos e mobilizando sua vasta torcida. No entanto, a batalha não se restringe aos gramados. O clube e seus milhões de fãs continuam a lidar com uma cobertura midiática que, para muitos, está mais interessada em contestar a festa do que em celebrar o futebol brasileiro.



