Hiroshi Bogéa – O Brasil é, por natureza, uma nação de múltiplas origens, fruto de intensos fluxos migratórios internos e externos. No entanto, o comportamento de uma parcela da população de Santa Catarina, marcado por atos de preconceito, racismo e xenofobia direcionados a migrantes do Norte e Nordeste, revela uma dolorosa contradição e, sobretudo, uma profunda limitação intelectual.
O lamentável e criminoso episódio de uma torcedora do Avaí, no estádio da Ressacada, em jogo contra o Remo pela Série B, gritando palavrões e expelindo ódio, discursos de rancor e xenofobia, além de profundo preconceito, contra um torcedor paraense – é a prova explícita de que temos brasis incivilizados e perigosos, pronto para matar por repulsa que sentem pelo próximo.
A atitude de desvalorizar ou hostilizar pessoas com base em sua origem geográfica não é apenas uma manifestação de racismo (quando permeada por estereótipos de cor e etnia) e xenofobia (aversão ao que é estrangeiro, mesmo que dentro do próprio país). É, fundamentalmente, um excelente spoiler da própria limitação intelectual.
Quem se apega a preconceitos regionais demonstra uma visão de mundo estreita e simplista.
Ignora a complexidade da formação social e econômica do Brasil, os motivos históricos da migração (muitas vezes em busca de oportunidades que a própria região Sul depende para manter sua força de trabalho) e a riqueza cultural que esses indivíduos trazem.
Racismo e Xenofobia
A hostilidade da torcedora se manifesta em discursos que tentam desqualificar o migrante como “preguiçoso” ou “inferior”, ignorando que são justamente esses trabalhadores que sustentam grande parte dos serviços e da mão de obra em setores-chave do estado.
O preconceito ignora que a riqueza de Santa Catarina foi construída, e continua a ser mantida, também pela força de trabalho de pessoas de fora do estado, incluindo nortistas e nordestinos. A tentativa de restringir a migração ou de hostilizar quem chega é um ato de ingratidão histórica e uma negação da realidade econômica.
O Custo da Intolerância
A intolerância não é um traço de “cultura” ou “conservadorismo” a ser preservado, mas sim um obstáculo ao desenvolvimento humano e social. Ela cria um ambiente de segregação, onde o ódio e a discriminação se normalizam, muitas vezes ecoados por figuras públicas que buscam visibilidade através do absurdo, como demonstram recentes propostas legislativas ou falas depreciativas contra regiões do país.
Já faz parte da cultura preconceituosa do povo de Santa Catarina maltratar nortistas e nordestinos, repetindo intenção de seguir a teoria de Hitler pela “purificação” da raça ariana.
O vídeo a seguir discute a proposta de um vereador catarinense para restringir a migração de pessoas do Norte e Nordeste, ilustrando a manifestação institucional desse preconceito. Esse sujeito chamou o Pará de “lixo”.
O indivíduo preconceituoso revela uma incapacidade de reconhecer a igualdade fundamental entre todos os brasileiros, limitando-se a julgar o outro por uma régua arbitrária de origem. Essa rigidez de pensamento e a falta de empatia são as verdadeiras marcas da pobreza intelectual, muito mais limitantes do que qualquer circunstância econômica ou geográfica.
Portanto, o preconceito em Santa Catarina contra pessoas do Norte e Nordeste não é um sinal de superioridade, mas uma prova de miopia social e burrice crassa, que tenta em vão esconder a ignorância por trás da bandeira de uma identidade local excludente. (Hiroshi Bogéa)



