João Bogéa, pai do poster, adora contar causos do tempo em que ele levava a vida trabalhando em castanhais.
Estórias agradáveis contadas por quem se delicia em contar, e faz seus ouvintes rirem mais do jeito que ele conta do que a própria estória final, quase sempre recheada de humor.
Para quem tem interesse em narrativa oral, papai é um prato cheio.
É ouvir pra rachar o bico.
Costumo dizer que pai João é o Guimarães Rosa de nossa casa.
Vamos providenciar gravar conversas com ele para, quem sabe, fazer podcasts com alguns causos que ele conta, e postar aqui.
Nesta quarta-feira, 4, o “velho” lembrou uma passagem ocorrida com seu Gonçalo, também dos tempos dos castanhais.
Gonçalo e um sobrinho dele.
Ainda hoje, na área rural, o uso da cangalha em animais é um hábito, para transportar mantimentos.
Antigamente, o uso da cangalha era imprescindível.
Os mantimentos são distribuídos de forma igual, amarrados em cado lado da cangalha, para o animal ter estabilidade e a carga, também, manter-se firme no lombo do quadrúpede.
Um dia, os dois percorriam a mata, de uma “colocação” (área de extração de castanha) a outra, levando dois sacos de farinha no lombo do burro.
Um saco amarrado no lado direito da cangalha; o outro, no lado esquerdo.
Cada saco padrão, cheio, pesa 50 kg
O sobrinho de Gonçalo sobre a cangalha, e ele puxando o animal, à frente.
Menino deveria ter seus 10 anos.
Lá pelas tantas, a fome batendo forte:
– Tio Gonçalo, vou “mufá” ( comer) um pouco dessa farinha…
– “Mufa”, meu filho, “mufa”.
Uma hora depois.
– Tio Gonçalo..
– Oi…
-A carga tá caindo!