“Quando começava o Jornal Nacional, ela largava tudo pra assistir. Adorava ler jornal, porque o sonho dela era ser jornalista. Dizia que um dia escreveria uma grande reportagem sobre os meninos de rua que ela via todo dia na Praça São Francisco, cheirando cola. Falava muito nisso.”

Quem conta ao poster é Leda, prima de Rayara, a jovem de 15 anos morta com um tiro desferido por um menor de 12 anos, acompanhado de outros dois pivetes de 13 e 14. Breno queria a máquina digital que a estudante carregava emprestada de uma amiga com imagens clicadas no final de semana na Serra das Andorinhas, onde estivera a passeio.

É duro sentir os efeitos da morte de uma jovem na casa da família. Dentro do lar com sua fixidez de semblantes mórbidos, tudo cheira a maldade. De repente, o amor de Deus parece não morar mais nesses descampados de zonas inquietas de instabilidade.

Em menos de 30 dias, duas mortes a sacudir a mesma família em situações de idênticas tragicidades.

A 23 de setembro, na cidade de Itupiranga, Francisca Carvalho, 50, tia de Rayara, teve seu coração e seios arrancados do corpo, depois de morta pelo marido. Crime selvagem a traumatizar até hoje a população do município.

Imersa na solidão do instante, Leda conta que três dias antes de receber um tiro de Breno, a jovem Rayara tivera pesadelos com imagens da tia Francisca saindo de um túmulo a chamar-lhe pelo nome.

Nascida no interior do interior, Rayara viera de Novo Repartimento viver na “cidade grande”. Para quem idealizava ser jornalista, impossível permanecer às margens dos cafundós da Transamazônica. Marabá era o destino.

Só que no meio da estrada, entre os sonhos de escrever a reportagem de sua vida e as fotos clicadas alegremente em Serra das Andorinhas, havia Breno.

Ele, a cola e um 38.