Finalzinho de gravidez, a hora chegando, ansiedade no máximo e o obstetra começará a falar mais sobre o parto nas últimas consultas de pré-natal.

É nessas horas que a grávida tira todas as dúvidas sobre o parto, sobre a internação, sobre a maternidade.

Tudo,  inclusive sobre a anestesia – esse procedimento tão importante que acompanha tanto a cesárea quanto alguns partos normais.

Buscando respostas para grávidas cheias de ansiedade, algumas – até nervosas -, o blogueiro procurou o médico anestesiologista Raimundo Pereira Sobrinho Junior (foto), um dos mais requisitados da região, para tirar dúvidas de mulheres prestes a dar à luz.

Junior é filho de tradicional família de Marabá, Raimundo e dona Benta Sobrinho.

O pai, Raimundo Sobrinho, foi delegado da 47ª Junta de Serviço Militar de Marabá por mais de 30 anos.

Formado na Universidade Estadual do Pará (UEPA), Junior tem uma irmã que também exerce a profissão médica, Thais Sobrinho, residente em Mato Grosso.

Muito querido entre seus colegas, Raimundo exerce a atividade em diversas instituições de saúde de Marabá e Parauapebas.

O profissional anestesiologista participa de partos, atende pessoas idosas e crianças, que são muito diferentes, uma das razões para ser justificada a necessidade do anestesista ter uma formação teórica generalista, revela Raimundo na entrevista ao blog.

Além disso, o anestesista precisa ser um eterno estudante para ter sucesso na área. “Se não gostar disso, não vai ser feliz no que vai fazer”, diz.

A seguir, a entrevista completa:

 

 

 

A paciente grávida pode escolher o anestesista, ou isso é exclusivamente da alçada do hospital ou clínica?

Pode, sim. No caso de cirurgias eletivas, mas para isso tem que ser feito um contato com antecedência, já que o profissional pode estar atendendo outra escala em outro hospital. Na  urgência, já seria muito difícil pelo pouco tempo e necessidade de uma intervenção cirúrgica rápida

Para que serve a consulta pré-anestésica, ou esse procedimento não é corriqueiro em Marabá?

Serve para determinar e tentar prevenir fatores de risco em cirurgias eletivas, que podem interferir no ato anestésico, como doenças crônicas, tipo diabetes e hipertensão arterial, alergias medicamentosas, etc. Inclusive estamos tentando junto aos planos de saúde, alguns não querem pagar, para montarmos um consultório só para essa finalidade. Porém, fazemos à visita pré-anestésica, que é feita no leito com o paciente já internado, que tem o mesmo objetivo e finalidade

A gestante também deve fazer a consulta pré-anestésica?

Com certeza, já que existem indicações absolutas de cesarianas, e é uma cirurgia de porte médio que traz os mesmos riscos de qualquer outra cirurgia

Uma gestante corre riscos caso não esteja em jejum, na hora do procedimento anestésico?

Sim, corre. A gestante é considerada, a nível mundial, sempre como uma paciente de “estômago cheio”, devido o edema, inchaço ,causado no final da gravidez, pela retenção de líquidos. O  jejum diminui o risco de broncoaspiração (aspiração de conteúdo gástrico ou corpo estranho), caso haja necessidade de uma anestesia geral com intubação orotraqueal

Num parto normal, é possível usar anestesia para reduzir as dores do parto?

Sim, é a chamada analgesia de parto. Existem várias técnicas: a mais comum é a peridural contínua com cateter

Como a paciente pode colaborar para uma anestesia segura?

Informando todas as perguntas com precisão, sem omitir nada, respeitando as orientações, principalmente referentes ao jejum

Saindo agora de questões que interessam a gestante, tenho curiosidade em saber outras situações que envolvem o anestesiologista. Por exemplo, durante uma operação, a vida dos pacientes está nas mãos do anestesista. Mas apesar do papel altamente essencial e delicado que os profissionais anestesiologistas prestam, eles são todos invisíveis para os seus pacientes. Ou seja, o  anestesista tem de se  habituar a ser invisível em sua atividade. Essa condição não lhe incomoda?

Não, você sabe desde que escolhe a especialidade que será essencial para realização das cirurgias, mas dificilmente será lembrado pelo paciente. Porém, sem as técnicas de anestesia segura, as técnicas cirúrgicas também não se desenvolvem – e os hospitais sabem disso e nos valorizam dentro do seu quadro, além dos  colegas cirurgiões também

Numa cirurgia, além da função  natural de retirar a sensação de dor para que o ato seja suportável ao ser humano, o que faz  o médico anestesiologista?

Controla todos os parâmetros clínicos do paciente, pressão, pulso e respiração principalmente. Em uma anestesia geral, controla todas as funções de expansão pulmonar e troca de gases, oxigênio, gás carbônico e gases anestésicos

Por que o anestesiologista é chamado de “anjo da guarda”?

Porque ele mantém o paciente vivo artificialmente, principalmente em situações de emergência, como politraumatismos, baleamentos, ate que se chegue ao equilíbrio hemodinâmico para tirá-lo do risco, juntamente com a parte cirúrgica

Qual o risco de uma anestesia dar problemas?

Hoje as técnicas são muito seguras, mas depende da cirurgia, do seu porte e agressividade. A probabilidade mundial é de um óbito anestésico a cada 10.000 cirurgias em média

O choque anafilático, quando corre?

É reação exagerada do organismo a algum agente alérgico, conhecido ou não. A principal consequência é o broncoespasmo, que seria o edema súbito com fechamentos das vias aéreas principais, acometendo também o pulmão, o que impede o mesmo de expandir e funcionar. É é uma catástrofe que deve ser rapidamente revertida ou o paciente vai à óbito

Em média, qual o tempo de duração de uma anestesia?

Depende. Uma raqueanestesia com bupivacaina pesada, em média dura 1h30 a 2:30h,com bupivacaina isobárica 4 a 5horas. A anestesia peridural e o bloqueio de plexo braquial até 6horas de duração,  ou mais,  se for colocado o cateter. Uma anestesia geral, dura o tempo necessário para realização da cirurgia. Existem casos de mais de 12 horas de duração.

Quando chegam à sala de anestesia os pacientes geralmente estão bastante nervosos. É um exercício de confiança que têm de fazer para colocar a sua vida nas mãos de outros. Você, diante do paciente, tem algum discurso específico para distraí-lo e acalmá-lo?

Sim, sempre uma brincadeira leve com os adultos. As crianças são mais arredias, então tem que inventar na hora uma maneira de distraí-las. São imprevisíveis

Dizem que cada anestesista tem uma arma secreta quando trabalha na sala de operações, que pode ser sempre um assistente de confiança. Você também tem essa “arma secreta”?

Sim, temos vários colaboradores da enfermagem que são essenciais para o nosso sucesso

Está provado que não basta estudar os fármacos  para se tornar um bom anestesista.  Neurologia, cardiologia e pneumologia são conhecimentos essenciais para se desenvolver nesta especialidade. Ou seja, o anestesiologista precisa  ter uma visão global da Medicina. É isso mesmo?

Exato! O conhecimento tem que ser muito amplo nessas áreas, que são diretamente afetadas pelos anestésicos nas suas ações farmacológicas

O anestesiologista lida com o cansaço e o estresse profissional de forma muito intensa. Como você faz para aliviar essas tensões?

Procuro, quando tenho folga, viajar para sair um pouco da rotina hospitalar. A atividade física é essencial para equilibrar minha mente

Apesar das dificuldades que afetam o bem-estar ocupacional da profissão, a Anestesiologia é uma especialidade  gratificante? Oferecer conforto ao paciente que está sendo submetido a um procedimento cirúrgico lhe faz sentir bem?

Com certeza. Saber que o meu conhecimento dá conforto e salva inúmeras vidas, é o maior valor para um médico da minha especialização

Em Marabá, qual o maior problema que você e seus colegas enfrentam na área da saúde pública para exercer satisfatoriamente a profissão?

Os equipamentos sucateados em praticamente todos os hospitais. Aí estão inclusos monitores multiparametricos e os carrinhos de anestesia, muito velhos, na sua maioria, já que a tecnologia na medicina anda a passos largos. Em Marabà estamos atrasados. Não por falta de cobrança da nossa parte, mas pela própria situação caótica da saúde em todo nosso país. Mas  pode e precisa ser muito melhorado