Zé AlencarDesembargador do  Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região,  meu  amigo José de Alencar iniciou uma viagem que pode ser considerada a mais  emblemática e extraordinário aventura do ser humano, de Belém ao Alaska.

Como se fora um  Dom Quixote do Século XXI, movendo moinhos no guidom de sua moto Harley-Davidson, Alencar deixou o porto de Belém dia 7 de maio, no interior de um navio que fez o percurso até Manaus.

Desbravando, inicialmente, a Amazônia brasileira, meu amigo nos emociona ao relatar o dia a dia da viagem.

Com a sensibilidade que lhe é peculiar, as narrativas de José são verdadeiras crônicas da fantástica aventura de alguém que nos prova não haver limites para a vontade do homem.

Leiam, o primeiro post que ele escreveu, momentos antes de embarcar sua moto, no porto de Belém – lembrando que, na data de hoje, 14,  ele cruz o Estado de Roraima, rumo a Bogotá, na Colômbia, no dorso de sua amada Harley-Davidson, carinhosamente chamada de “Araceli” – em homenagem à sua valente esposa Araceli Lemos, com quem aparece na foto ao lado, antes de zarpar da capital paraense.

 

 

Estou começando uma viagem de motocicleta (Harley-Davidson, of course) de Ananindeua (Pará – Amazônia – Brasil) a Prudhoe Bay (Alaska – USA).

A primeira etapa será de casa até o Terminal Hidroviário de Belém, onde embarcarei no navio Clívia (da ENART, celular 91-99159-7462, Suelen; R$1.000,00/US$313,00 a passagem em camarote duplo, incluído o transporte da motocicleta ) para subir o Rio Amazonas até Manaus (Amazonas – Brasil).

Serão cinco dias de viagem.

De Manaus seguirei rodando até Bogotá (Colômbia), atravessando a floresta amazônica, o Lavrado, a Gran Sabana, Los Llanos e os Andes.

Em Bogotá espero me juntar aos amigos motociclistas Valcir e Neviton (American Motorcycle Expedition), que saíram de Porto Alegre – RS no início de abril, rodaram até Ushuaia (Tierra del Fuego – Argentina) e agora seguem para o Alaska.

Se nos desencontrarmos (vou ter que esperar em Boa Vista o visto canadense chegar) adiamos o encontro para mais adiante.

Transportaremos as motocicletas por via aérea de Bogotá para Ciudad de Panamá, porque o serviço de ferry-boat que ligava Cartagena (Colômba) a Bocas del Toro, no Panamá, foi suspenso.

De Ciudad Panamá seguiremos pela América Central (Panamá, Costa Rica, Nicarágua, El Salvador e Guatemala) e México, ingressando nos Estados Unidos para cumprir uma rota mais ou menos como a de Peter Fonda e Dennis Hopper em Easy Rider e em seguida a Route 66 de Chicago a Los Angeles/Santa Mônica (remember Vinhas da Ira e On The Road), na Califórnia, onde encontraremos nossas esposas para passarmos uns dias juntos. Daí seguiremos rumo ao Norte em busca do Canadá e Alaska.

No final de julho, no auge do verão, estaremos em Fairbanks para o trecho final até Prudhoe Bay, dentro do Círculo Polar Ártico, no trecho mais difícil da viagem, pela famosa “infame Dalton Highway”, cerca de 400 milhas de estrada de terra (gravel loose, gravilha, cascalho ou rípio, conforme a língua), sobre solo congelado (permafrost). Cumprida essa parte da missão regressaremos ao Canadá e aos Estados Unidos pelo Norte descendo até Miami pela Costa Leste, passando por Sturgis, pela Tail of The Dragon (318 curvas em 11 milhas) e por Milwaukee.

Eu pretendo daí – de Miami – mandar a motocicleta por via marítima ou aérea para Cartagena, viajando para lá por via aérea e daí desenrolar o caminho de volta, chegando em casa em setembro de 2015 (se possível antes de meu 62o. aniversário).

Nesse longo percurso vou em busca da alma profunda (espírito, soul) de Nuestra América e de suas gentes e, também, de meus próprios limites.

Durante a viagem minhas coordenadas aparecerão aqui no Facebook e no Twitter. Sempre que as condições permitirem publicarei aqui fotos e textos curtos.

Abraços desde Ananindeua.

 

 

Notas do Blog:

(1)  Traçado da rota fluvial desde antes de Santarém até Manaus, teve coordenadas geradas pelo SpotMessenger / Findmespot, da GlobalStar. Também planejamento para acompanhar o humor do tempo.  (abaixo)

GPS

GPS 2

 

(2) Narra Alencar:  “Uma casa senhorial no alto do barranco parece ser um remanescente do período áureo da borracha e seus coronéis de barranco”.

Uma casa senhorial no alto do barranco parece ser um remanescente do período áureo da borracha e seus coronéis de barranco

 

(3) Observando a pintura do navio:  “Esta pintura que decora a parede curva do restaurante na popa do navio é arte popular amazônica, sem nenhum favor é arte naïf, se olharmos sem preconceitos para ela. Lembro que a passagem de Gaughin pela Polinésia foi fundamental para ele produzir muitas das suas melhores obras dessa fase, inspiradas na arte nativa. Acho que ele ia gostar dessas pinturas dos nossos anônimos artistas populares.

Pintura Navio

 

(4) Descrevendo a amarração da moto, no interior do navio: “a amarração é assim, com cordas grossas de nylon que prendem no piso e no teto do convés de carga. A lona plástica deve ser trazida a bordo pelo piloto. Essa aí comprei no mercado de ferro do Ver-o-Peso por R$8,00 (US$2,50) quatro metros. Vou deixar no navio quando desembarcar, na esperança de que seja aproveitada por outro motociclista.”

Moto amarrada

 

(5) Em Santarém, imagens registradas do embarque  de soja:  “Os caminhos da soja de Mato Grosso: de caminhão até Porto Velho, de barcaças pelo Rio Madeira até Itacoatiara – AM, de Itacoatiara até Santarém nessas barcaças azuis, aqui é transbordada para esse navio e seguem para o Oceano Atlântico mil e tantos quilômetros rio abaixo. A soja produzida aqui na região (Santarém, Mojuí dos Campos) é embarcada aqui também.”

Soja Santarém

 

(6) Ao cruzar comboio de balsas:  “Mais roll-on-roll-off caboclo. Comboio de balsas da SANAVE. A balsa Celso Sabino é autopropelida e empurra outras duas. Carga de telhas de fibrocimento e caixas d’água de fibra de vidro”

Mais roll-on-roll-off caboclo. Comboio de balsas da SANAVE. A balsa Celso Sabino é autopropelida e empurra outras duas. Carga de telhas de fibrocimento e caixas d'água de fibra de vidro

 

(7) Encontro de águas: “Encontro das águas dos rios Negro e Amazonas em frente a Manaus. Temperaturas e densidades diferentes fazem com que elas não se misturem por muitos quilômetros.”

Rios amazonas