Mães e pais de estudantes do Centro de Instrução Almirante Braz de Aguiar (Ciaba) de Belém revelaram um cenário de intensa contaminação da Covid-19 na instituição. Segundo relatos, a maioria dos alunos apresenta sintomas característicos do novo coronavírus. Apesar disso, as aulas não foram liberadas e os estudantes não foram orientados pela Marinha do Brasil a usarem máscaras de proteção. Em nota, o Ciaba negou que haja casos confirmados da doença na instituição.

“Quase todo mundo na escola está com sintomas. Existem alunos que estão isolados das atividades, mas são poucos. Tem muita gente com perda de olfato, dor no corpo e febre. Tem aluno também que segue frequentando as aulas mesmo com sintomas”, relata uma mãe que preferiu não se identificar.

De acordo com as mães, apenas os alunos que estão em estado grave da doença seguem em isolamento. O resto dos estudantes seguem em aula. Elas contam que o Comando Naval, que coordena as atividades do Ciaba, não se pronunciou formalmente sobre a liberação dos alunos.

“Os meninos não podem deixar de ir pra aula porque podem ser expulsos. Mas eles estão passando mal. Não houve liberação por parte do comando. Absurdo entregar nossos filhos com saúde e recebê-los provavelmente num caixão”, conta outra mãe, que também preferiu não se identificar.

As mães também criticam o convívio dos alunos com professores vindos de outros estados. De acordo com elas, os profissionais, em contato com os estudantes em sala de aula, podem atuar como vetores da doença.

“Os profissionais que estão vindo dar aula estão doentes. Os que não estão, podem pegar. Eles não foram obrigados a usar máscara. No ambulatório do quartel, eles disseram que os sintomas são de um vírus, parecido com coronavírus. Isso é mentira. Eles querem maquiar algo pros meninos”, conta outra mãe.

Belém é o epicentro da pandemia no Pará, e está com mais de 90% das UTIs ocupadas, segundo a Prefeitura. Em todo o Pará, mais de 1400 casos da doença foram registrados, com mais de 80 mortes registradas.

Outras denúncias

A luta das mães de alunos pedindo a suspensão de aulas durante a pandemia começou no início do mês de março. Elas citaram que, antes da chegada do vírus no Pará, os estudantes recebiam aulas de professores contaminados e que o Ciaba se negava a liberar os alunos.

Após a denúncia, a Ordem dos Advogados do Brasil Seção Pará (OAB-PA) solicitou ao Comando do 4ª Distrito Naval a suspensão das aulas no Ciaba. De acordo com a OAB, a paralisação temporária das atividades é a melhor forma de proteger alunos e servidores do contágio da doença.

Na última quinta-feira (23), o Ministério Público Federal (MPF) informou que ajuizou ação civil pública para que o comando do 4º Distrito Naval seja obrigado a suspender com urgência as aulas e atividades presenciais da instituição. O MPF pede a Justiça que a suspensão dure o tempo do decreto do estado de calamidade pública, protocolado pelo Governo do Pará, que proíbe reuniões com mais de dez pessoas. (G1)