Posto de beira de estrada e em barrancos de rios, tudo se conversa e sabe. E se aprende!

Na Vila Jarbas Passarinho, à beira do Araguaia, do lado paraense, o poster caiu em gargalhadas ao ouvir o dono de uma pequena venda contar travessuras de Janilton “Preto”, um esperto rapaz que morou até o ano passado na localidade.

O lance que o blog reproduz foi mais um caso dos tantos criados pelo personagem, que chegou à região fugido de terras piauienses, ninguém sabe por quais motivos.

Retrata, também, a capacidade infinita de criatividade do ser humano, principalmente quando se trata de sobrevivência.

A travessia do rio Araguaia, durante décadas, antes da construção da ponte, era feita por balsas, vinte e quatro horas por dia.

Depois das 23 horas, isso lá pelo início da década de 80, quando o motorista de algum veículo precisava atravessar o Araguaia para seguir viagem pela Transamazônica, era regra buzinar e sinalizar com os faróis, para que os plantonistas da balsa que moravam em sua maioria na pequena vila localizada em território paraense, pudesse atendê-lo.

Apesar do trecho largo do Araguaia, o silencio da noite permitia a comunicação sonora entre motorista e a tripulação da balsa.

Numa madrugada, a balsa parada no território paraense, Janilton “Preto” chegara no atracadouro do lado de Araguatins, Estado do Tocantins – àquela época ainda Goiás -, depois de dançar forró numa festa “do outro lado”, e não encontrou nenhuma barco à disposição.

Só estava ele e um amigo.

Esperou por ali cerca de uma hora, sem a presença de viva alma atravessando o rio.

O que fazer ? – pensou o protagonista – exímio imitador de ruídos de animais e pássaros, além de buzina de caminhões.

A solução foi  esparramar o buzinaço de um Mercedes Benz:

Biiiiiiiiiiiiiiii! Biiiiiiiiiiiiiii! – buzinou em alto e bom som, perfeito, com a boca.

– Acende os faróis !!! – berrou da margem paraense, o comandante da balsa.

 

– Não posso, estou sem bateria !, respondeu Janilson.

 

Não demorou cinco minutos, o motor do rebocador da balsa foi colocado em funcionamento sem que sua tripulação desconfiasse de armação do “motorista”.

Depois de algum tempo, ao chegar no atracadouro de onde buzinara “o caminhão”, a tripulação da balsa não avistou o veículo, nada de carro.

Somente o nosso personagem lá num canto parado, ao lado do amigo de farra, recostados contra o barranco, feito um “dois de paus”

– Onde está o caminhão que solicitou a balsa?, indagou um dos balseiros.

– Deu ré e foi embora, disse que ia dormir em Araguatins, respondeu Janilson, que já era conhecido da turma da balsa.

 

Com as mãos na cabeça, o balseiro resmungou, sem nada desconfiar:

– Tem cada um nesse mundo ! Fazem a gente de bobo, acham que tenho tempo para atender essas loucuras. Se pego um filho-da-puta desse….

– Eu cheguei até a dizer para o motorista que era sacanagem dele fazer isso, completou nosso herói, para perguntar. “ Vai voltar para tua casa ? Posso ir com vocês? , pediu ele com cara de cachorro comedor de ovo –

Sim. – respondeu o barqueiro – Vamos lá.