Não vejo nenhum lugar do mundo encontrar seu pleno desenvolvimento que não seja pelo fortalecimento da Educação. Formar cientistas, intensificar a pesquisa e qualificar mão de obra. Considero a Unifesspa a âncora fundamental para o município de Marabá ser transformado em polo universitário. Isso tudo, junto, supera economicamente qualquer tipo de atividade industrial, além de fomentar o conhecimento em toda a região.

 

Declaração é do vereador Beto Miranda, em longa entrevista ao blogueiro.

O encontro ocorreu neste final de semana, na residência do parlamentar marabaense (foto).

Falamos de muitos assuntos: política, visão estratégica de gestores, eleição 2018, o que esperar do futuro.

A seguir, entrevista completa:

 

 

Passada a eleição, qual o sentimento que você carrega por não ter conseguido  vaga à Assembleia Legislativa?

Sou uma pessoa muito tranquila e consciente de que nem tudo o que sonhamos é possível realizar, embora seja uma obrigação pessoal lutarmos até o último momento em busca do que planejamos. Eu sabia que seria difícil alcançar meu objetivo considerando a minha condição de irmão do Tião Mirada (prefeito de Marabá). Muita gente achava que essa ligação familiar facilitaria a sensibilização do eleitorado, mas numa disputa eleitoral há os interesses diversos de outros candidatos que também faziam parte da base aliada do prefeito. Se o meu irmão tivesse tomado partido pelo meu nome, anunciando que eu era seu candidato único, e que ele precisaria de mim na Assembleia, assim  tudo poderia mudar. Mas  ele não podia fazer isso. Tinha o vice-prefeito (Toni Cunha) candidato, outros vereadores de Marabá, também. Politicamente, haveria constrangimentos caso ele “comprasse”  a aposta em meu nome. O Tião é uma pessoa ética, cumpre seus compromissos. Portanto, não há razão para lamentações. Estou satisfeito com tudo o que aconteceu, conheci novos amigos em Marabá e em cidades da região, adquiri uma experiência única. Ademais, só temos é que celebrar a eleição de três deputados estaduais por Marabá (Toni Cunha, Dirceu tem Caten e Chamonzinho).

 

Independente do apoio do prefeito de Marabá, a falta de recursos pode ter prejudicado seus objetivos?

Quem participou de minha campanha sabe que eu não tive recursos. Foi uma caminhada dura, de total “pindaíba”, como se diz na gíria regional. Mas eu também sabia que seria assim, acreditava na conversa sincera, sem mentiras, batendo de casa em casa. Ocorre que em lugar nenhum do mundo se ganha eleição sem dinheiro, e seria tão bom o contrário. Só que não é. Acho que levaremos muitos anos ainda, quem sabe século, para superarmos essa dependência financeira num processo eleitoral que é o momento sublime da democracia, quando o cidadão pode mudar qualquer situação, desde que use seu voto apenas como arma de transformação. E preciso esclarecer também que esses argumentos não são para justificar o insucesso de minha candidatura a deputado estadual. Não é isso, porque como disse, não tenho que reclamar de nada. Apenas registro a constatação de uma realidade.

 

O que você espera dos deputados estaduais eleitos por Marabá?

Todos os três são pessoas de boa índole, bem intencionadas, preocupadas certamente com o desenvolvimento da região. Torço para que eles unam suas forças e sabedorias a favor da melhoria de vida das pessoas menos favorecidas. Que depositem um olhar social em torno de nossas comunidades para  ajudar os governantes a reduzir as desigualdades que tanto mal fazem às pessoas ainda não beneficiadas com serviços de qualidade nas áreas de Saúde e Educação.

 

Falando nisso, na sua avaliação, qual o maior problema hoje da região que pode estar travando o nosso pleno desenvolvimento ?

Eu não acredito em desenvolvimento sem a oferta de uma Educação de qualidade e que beneficie a todos, ricos e pobres. Só que nenhuma família consegue absorver conhecimento vivendo em ilhas de miséria. O desemprego gera miséria, acaba com a autoestima dos jovens. Durante a campanha eleitoral eu falava muito dessa questão da classe política usar seus mandatos para interceder junto a quem tem poder de decisão para viabilizar o fomento de atividades produtivas. O maior problema hoje em nossos municípios é o desemprego, a falta de renda. Um jovem desempregado pode se transformar em potencial instrumento de  desvalido em busca da primeira oportunidade para praticar ilícitos. A marginalidade e a violência surgem dessas situações.

 

E o que pode fazer um deputado estadual para ajudar nesse quesito de geração de emprego e renda?

Dependendo da pessoa, pode fazer muita coisa, ou nada. Eu acredito muito no poder do convencimento, na capacidade de articulação junto aos órgãos que podem adotar políticas públicas que ajudem segmentos produtivos a fomentar novas vagas de trabalho.

Por exemplo, apenas como vereador, eu lutei muito junto ao governador Simão Jatene , com o apoio do deputado federal Joaquim Passarinho,  para conseguir incluir em seu programa “Asfalto pra Cidade”,   5 km de pavimentação a mais do que o governo já tinha garantido, para beneficiar algumas ruas de Marabá. A pavimentação saiu, muita gente hoje está com a frente de sua casa urbanizada, graças a meu esforço usando apenas o mandato de vereador. Qual foi o efeito dos 5 Km de asfalto a mais que eu consegui, além de levar qualidade de vida às pessoas? Pais e mães de família foram contratadas para trabalhar na aplicação do serviço, ou seja, gerou emprego e renda. Claro que só isso não resolve o problema global, mas ajuda, diminui tensões dentro de casa.  O deputado estadual tem poder de pressionar o governo, fazer gestões no sentido de criar demandas voltadas ao setor produtivo.

 

Muitos prefeitos da região reclamam da falta de recursos para a realização de boa administração, consequentemente pouco fazem para gerar atividades que criem vagas de trabalho no setor público. O problema é mesmo falta de grana?

Há exagero nisso. Grande parte de certos executivos não faz mesmo é o seu dever de casa. Prefeito tem que ter visão estratégica regional, não limitar-se apenas a projetar ações que visem beneficiar morador dessa ou daquela rua de sua cidade. Nos últimos anos a administração pública vem passando por importantes transformações em busca de profissionalização, maior eficiência na gestão e efetividade na sua atuação. O gestor municipal tem que estabelecer o seu foco no atendimento às necessidades do cidadão e nos resultados esperados da instituição, no caso a prefeitura.  Recentemente, li o relatório de 2017 do Índice Firjan (*), que analisa a eficiência da gestão fiscal dos municípios brasileiros. Entre os cem melhores índices, aparecem pelo menos  25 municípios com baixa arrecadação.

 

Cite algum exemplo do que poderia vir a  ser   “visão estratégica” de um gestor.

Vamos pegar um exemplo, aqui em Marabá. Eu não entendo porque não usamos os rios Tocantins e Itacaiúnas como rota de transporte público. Diariamente,  ônibus da pior qualidade trafegam sobre a ponte rodoferroviária, indo e vindo, no transporte de passageiros que residem do outro lado do rio. Além do congestionamento natural que os veículos públicos causam na travessia do rio, há a questão do longo tempo a ser percorrido por quem mora nos bairros São Félix, Morada Nova, Murumuru. Imagine um ferry boat ( tipo de embarcação segura de fundo chato, com pequeno calado, que opera em confortável velocidade) fazendo a rota São Félix Pioneiro, Porto da Mangueira (Nova Marabá), Porto Tibiriçá (Velha Marabá) e Porto do Amapá (Cidade Nova). Esse trajeto pode ser feito em apenas 20 minutos. Ou seja, em 40 minutos, viagem de ida e vinda, bastava duas embarcações desse tipo, para o cumprimento de horário programado. Nos portos citados, haveria um terminal de ônibus, que daria prosseguimento a quem estava indo para os três Núcleos Populacionais. Poderiam dizer que há o pedral da Mangueira como obstáculo, mas isso seria vencido com a canalização e sinalização da travessia, como ocorre em muitos outros lugares. O custo-benefício de uma obra desse porte, que não supera 3 kms de derrocagem, seria ínfimo.  Calcule a quantidade de passageiros que vem e vão, diariamente, para os dois lados dos rios! Os próprios empresários de Marabá, através da formação de um consórcio, poderiam tocar esse serviço. Isso é visão estratégica, voltada para a melhoria da qualidade de vida e do transporte público.

Modelo de ferry boat muito usado em rios de calado raso. (Foto apenas ilustrativa)

Você não acha que está faltando maior articulação regional entre gestores públicos para  a interligação de ações voltadas ao desenvolvimento?

Claro que sim. A propósito, eu penso seriamente em  conversar com meus colegas de parlamento pra gente estimular o intercâmbio entre as câmaras municipais visando discutir problemas comuns. Há um isolamento gigantesco entre os parlamentares municipais que precisa ser rompido. Na maioria dos casos, nossos problemas são comuns, e podem ser enfrentados de forma mais eficiente caso estejamos lado a lado.

 

Há pessoas que criticam a atuação dos vereadores, modo geral, afirmando que a maioria não trabalha, não se preocupa com a vida da cidade. Sei que você, por uma questão e ética, deverá sair pela tangente, evitando dar uma resposta, mas eu pergunto: isso é verdade?

Não, não é verdade. E nem tenho restrições em tocar nesse assunto, sou muito transparente e sincero. Se for necessário criticar algum colega, como já fiz, não penso duas vezes. Há colegas que tem mais facilidade para o cumprimento de alguma pauta , mas eles não se omitem diante de suas obrigações. Na verdade, nós temos um parlamento ocupado por pessoas de muita responsabilidade, eu sou testemunha disso. Ás vezes, no entanto, o vereador quer resolver uma questão de interesse social e não tem poderes para tal. Vou dar um exemplo: essa questão das cobranças de contas exorbitantes de luz pela Celpa, que todos nós somos vítimas. O máximo que um vereador pode fazer, diante dessa situação, é denunciar. A questão envolve empresa privada, a União e o Estado, situação totalmente fdstante de nossa alçada.

 

Você falou que o desenvolvimento não vem sem a qualificação do nível educacional, mas raramente a gente vê autoridades falando nisso. A maioria fala em desenvolvimento a partir da implantação de um parque  siderúrgico, de um polo turístico, coisas desse tipo.

É verdade, quase sempre é assim, mas  penso diferente. Muitas pessoas têm a visão de que a definição de quem o ser humano será acontece apenas durante a infância. Logo, uma carga pesada é jogada sobre as costas dos pais. Alguns costumam dizer: “Não caberia aos pais ensinar sobre caráter e a escola sobre matemática e geografia, por exemplo?” Há  um grande engano aí. É claro que os pais são responsáveis pela formação do caráter dos filhos, mas achar que isso pode ser feito de forma simples, dentro de casa, apenas durante a infância é um grande engano. O ser humano se forma ao longo de toda a vida. Se a região pretende crescer, seus governantes devem fomentar os polos de Educação em busca do conhecimento, temos que crescer  em ciência, tecnologia e inovação, necessitamos  cada vez mais de físicos, químicos, biólogos, engenheiros…  Precisamos ,  portanto, estimular o estudante a escolher carreiras nas áreas de Engenharia ou Ciências Exatas, incluindo computação. A porta de acesso está nas escolas públicas, na valorização do ensino científico e no estímulo para que as crianças tenham seu interesse pelo tema despertado de forma criativa e atraente.

 

E é dessa panorâmica que você  comentava comigo, dias atrás, da importância da Unifesspa (Universidade Federal do Sul/Sudeste do Pará) como polo fomentador de nosso futuro desenvolvimento em todas as áreas….

Exatamente. A Unifesspa, além de instrumento para transformar Marabá num polo universitário, já que ela está estimulando o surgimento de novos centros de ensino superior no município, e atraindo estudantes de diversos Estados, é o centro por onde deve gravitar conhecimentos variados. Trilhar um caminho rico não é tarefa fácil. Um caminho de crescimento, seja qual for, exige disciplina, insistência e perseverança. É necessário que a sociedade entenda o papel da educação associada à perseverança. Tal qual um labirinto, o conhecimento é cada caminho correto que conseguimos memorizar e avançar evoluindo um pouco mais.

Eu confio muito na evolução da Unifesspa como centro catalisador de conhecimento para que possamos  alcançar o patamar desejado em termos de inovação tecnológica, e que Marabá seja transformada realmente num polo universitário. Para isso, precisamos unir esforços de todos os lados.

 

(*)  Índice FIRJAN de Gestão Fiscal (IFGF) é uma  ferramenta de controle social que tem como objetivo estimular a cultura da responsabilidade administrativa,.