– O Yoharnes ficará em contato direto com vocês, colhendo todo tipo de informação para repassar em seguida à Dilma. O Padilha (Alexandre Padilha, na época Subchefe de Assuntos Federativos, Planejamento Estratégico da Presidência da República) também fará ponte com Marabá e Belém, seguindo sugestão do Paulo Rocha (deputado federal).

E foi assim que Erenice Guerra, então secretária-executiva da Casa Civil da Presidência da República, montou espécie de força-tarefa mobilizada para recolher o máximo de informações possíveis em torno do Projeto Alpa (naquela época apenas denominada de siderúrgica da Vale).

A escalação de Yoharnes, funcionário da extrema confiança de Dilma Roussef, ocorreu por ocasião de audiência concedida a um grupo de lideranças comunitárias e sindicais, levadas até a Casa Civil pela presidência da Associação Comercial e Industrial de Marabá, sob coordenação do deputado Paulo Rocha.

Entre as lideranças, além de Gilberto Leite e de um grupo de empresários marabaenses, estavam representantes da Fetraf e de outras entidades populares ligadas aos sem-terra reivindicando a ampliação para 300 km do raio produtivo do Distrito Florestal de Carajás, cujo esboço inicial desenhado pela equipe de Marcílio Monteiro, atual secretário estadual de Projetos Estratégicos, tornaria possível o inicio da regularização fundiária do Estado, recentemente consolidado com a definição de 50% da Reserva Legal do Pará.

Naquela histórica reunião na Casa Civil, a comitiva de Marabá tomou conhecimento dos avanços promovidos pela SEDECT, tendo à frente Maurílio Monteiro, na elaboração de um planejamento estratégico para a implantação da siderúrgica em Marabá.

A própria ministra Dilma demonstrara entusiasmo diante das informações que Maurílio lhe repassara, dois meses antes, após audiência concedida a Ana Júlia e ao secretário titular da Sedect.

Uma frase de Erenice empurrava todos de volta à Marabá, conscientes de que se dependesse do governo federal e de Ana Júlia, a sociedade paraense conseguiria convencer a Vale de investir na implantação da siderúrgica no Pará.

O presidente Lula já está sendo municiado desse pleito de vocês. A Dilma é uma defensora direto do projeto e é bem provável que o Presidente da República tenha alguma conversa com o Roger nos próximos dias – disse a hoje ministra da Casa Civil.

Nesse tempo, o governo estadual evitava, ao máximo, sugerir o nome de algum município como sede dos altíssimos investimentos buscados junto a Vale.

Ana Júlia e seus auxiliares evitavam tocar no assunto, mas a Associação Comercial e Industrial de Marabá trabalhava, na surdina, para vencer a disputa. Gilberto Leite, Ítalo Ipojucan e demais diretores da entidade se dedicavam full time ao desafio

Foi a partir desses contatos que Alexandre Padilha passou a fazer frequentes viagens ao Sudeste do Estado, acompanhado, sempre, do deputado Paulo Rocha.

Em Marabá, sempre aos fins de semana, os dois ouviam empresários e lideranças de entidades populares

Na primeira reunião do Fórum Paraense de Competitividade, realizado no Hangar, Maurílio Monteiro e Ana Júlia tiveram a oportunidade de sentir o peso das reivindicações para a escolha de Marabá como sede da siderúrgica, através de Ian Correa (Sinobrás), Ítalo Ipojucan e Gilberto Leite, que justificaram a necessidade da siderúrgica ser implantada na cidade ofertando-os com inúmeros argumentos técnicos.

A própria consolidação da Sinobrás como siderúrgica produtora de aço, em suas várias cadeias industriais, ajudou muito os governos federal e estadual optarem pelo Distrito Industrial de Marabá como provável sede da siderúrgica da Vale.

Uma visita de Ana Júlia ao parque industrial da Sinobrás, conhecendo o extraordinário ciclo de fabricação de aço, deixou-a vidrada nas possibilidades do Pará transformar-se numa nova fronteira de produção de aço, realizando o sonho histórico de várias gerações.

Depois de Ana, os secretários Maurílio Monteiro, Cláudio Puty, André Farias, deputado Paulo Rocha, além de outros auxiliares da governadora, também conheceram a Sinobrás, empolgando-se com o que poderia ocorrer no Estado caso a Vale decidisse mesmo construir uma siderúrgica no DI de Marabá.

Quando finalmente o presidente Lula recebeu Roger Agnelli em seu gabinete, em Brasília, ao lado de Ana Júlia, cujas fotos da audiência seriam publicadas nos jornais do país inteiro, dia seguinte, meio caminho poderia estar percorrido. Essa a percepção de todos os envolvidos na batalha.

Lula, categórico, dissera ao país da necessidade de se mudar o modelo de desenvolvimento industrial, incitando a Vale a interiorizar os investimentos na implantação de siderúrgicas, e defendendo o Pará, e Marabá, como possíveis pólos de nova fronteira do aço.

O discurso de Lula, ao lado da governadora, sob o olhar de Agnelli, como força política de persuasão contaminava os sulparaenses, mas a rapidez com que os fatos econômicos ocorrem mostrou que apenas o poder político de um Presidente da República às vezes não decide uma parada indigesta.

Os fatos provariam isso.

Mas isso é história pro artigo de amanhã.